Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A técnica mateira da Vovó Escoteira



A técnica mateira da Vovó Escoteira

Cheguei à casa do "Velho" pulando os degraus d dois em dois. A liberdade e a amizade davam-me direitos de abrir a porta sem bater. Encontrei os dois. Ele e a Vovó sentados e abraçados na poltrona de vime já gasta com o tempo, conversando amenidades. Foi uma tarde interessante, pois pela primeira vez tive a oportunidade de conversar com a Vovó sua esposa. Fiquei sabendo tantos fatos que mais e mais passava a admirar aquele casal Escoteiro. Ela na sua simplicidade me dizia o porquê nunca participou diretamente como Escotista.
Poderia ter participado, no entanto achei que dando a ele o apoio (e não foi pouco), daria maior liberdade de ação. Quando toda a família participa acho viável a esposa estar junto. Mas à medida que minha filha não se interessava mais em participar do movimento (Fora Bandeirante pôr dois anos e meio) e principalmente pôr achar que não tinha aquelas qualidades tão essenciais para ser uma Escotista não me sentia motivada.
Eu vivi plenamente a minha filha e o “Velho”, mas veja, com isto não quero dizer que as esposas dos Escotistas não devam participar. Cada uma deve medir sua responsabilidade junto aos seus filhos e seu lar, pois esses vêm em primeiro lugar.
            Vovó respondia a uma pergunta minha, o porquê ela não tinha sido Escotista.
            - Agora - continuou a vovó -, eu sofri bastante em casa. O "Velho" não me deixava em paz. O tempo todo me ensinando, me adestrando nas técnicas escoteiras. Mas eu gostava disto. Divertia-me com ele e muito.
            - Tive que aprender MORSE logo após o casamento e olhe, ficávamos horas e horas, eu em uma sala e ele no quarto, conversando com uma “Cigarra rústica“.  SEMÁFORAS?  Deus do céu, como foi difícil. Cheguei quase a empatar com ele transmitindo de 30 a 40 letras pôr minuto. E olhe não conto o ALFABETO DOS MUDOS, e comentar naturalmente a LEI E A PROMESSA em vários idiomas.
            - Está rindo? - pois preste bem atenção, faço perfeitamente um PERCURSO OU ESBOÇO DE GIWELL. Não tenho dificuldades em ler MAPAS E CROQUÍS feito à mão ou não. E isto em qualquer ESCALA.  Meu PASSO ESCOTEIRO e o PASSO DUPLO são perfeitos (elogiados pôr muitos). Domino com facilidade uma BÚSSOLA SILVA ou PRISMÁTICA e sem querer ofender, aceitei o desafio do “Velho” e consigo fazer acima de seis NÓS escoteiros ou de marinheiro com um ou dois pedaços de linha dentro da boca! – e completou, ainda consigo fazer 26 nós escoteiro e de marinheiro.
            - Fiquei estupefaço! - Quem diria em vovó!
            - E ela continuou: - E tem mais, treinamos juntos todo o adestramento de SAÚDE E PRIMEIROS SOCORROS, desde o “noviço” até 1a CLASSE, incluindo a especialidade de SAÚDE E SOCORRISTA em qualquer eficiência, desde lobinho até Sênior. Faço sem problemas TALAS E TORNIQUETES, e domingo bem uma SANGRIA para tentar retirar um veneno de cobra. O lenço brinco de olhos fechados fazendo qualquer tipo de tipoia. Fazer MACAS é meu hobby. E olhe bem, aprendi a achar o FIO de qualquer lamina em sua afiação e domino com perfeição como deixa-las no ponto. Lixar e proteger uma ferramenta não tem segredos para mim. E para sua informação, faço de olhos fechados a AMARRA QUADRADA, DIAGONAL E PARALELA. A amarra para TRIPÊ eu faço de olho fechado. Isto sem contar três tipos de COSTURA DE ARREMATE com uma só mão. Tenho pôr costume, identificar qualquer cobra VENENOSA e saber onde é seu “habitat”.
            - Chega Vovó, chega. Falei. Estou envergonhado. Fiz vários cursos, inclusive a INSÍGNIA DE MADEIRA, e não aprendi tudo isto.
            - Não chega não filho. Continuou a Vovó. - (Seu olhar e seu sorriso e sua voz doce e suave, encantava qualquer ouvinte que estivesse ali presente).
            - Você ainda não viu como eu e ele treinamos COMIDA MATEIRA. Dei belas gargalhadas quando fizemos o nosso primeiro ‘FRANGO FRITO NO BARRO - sobre brasas e sob a terra. (O “velho“ ria as gargalhadas). E quantas vezes treinamos coar um CAFÉ SEM COADOR! E olhe, o “Velho“ sempre me desafiava a fazer um ARROZ SEM PANELAS.  Como? - segredo. Não posso contar. Use da imaginação.
            - Não faço acampamentos como vocês, mas experimente me desafiar a armar uma BARRACA, qualquer uma, em qualquer tempo ou situação. Sou capaz de armar de olhos vendados. Fizemos uma vez juntos uma linda OCA que deixaria qualquer tribo indígena boquiaberta. - A Vovó era cheia de surpresas. Não havia como duvidar dela pensei... - Se você quiser, vou lhe ensinar a fazer ARMADILHAS de vários tipos para caçar pássaros ou animais. E pode me desafiar para serrar toras com qualquer SERROTE OU TRAÇADOR.
            - SINAIS DE PISTA, conforme está no Manual é coisa de amadores. Sigo qualquer pista em qualquer terreno. E olhe meu filho, tive a sorte de ver o CREPÚSCULO numa noite de inverno do alto de uma montanha, e o sol nascer atrás de montes verdejantes.
            O "Velho" ria desbragadamente. Ele adorava a Vovó. No seu cachimbo inglês soltava enormes baforadas enquanto ria. Eu sabia que ela era a única que ele ouvia com atenção. O seu olhar, a sua meiguice e o carinho demonstrava que o amor não tem idade. - Olhe Vovó - (Ele tinha uma maneira carinhosa quando se dirigia a ela) - interrompeu o “Velho” sutilmente. - O ADESTRAMENTO ou como o queiram chamar hoje, teve formas diferentes para nós, os antigos. O aprendizado era na base do FAZER FAZENDO no campo. Não precisávamos só de cursos para aprender. Talvez outras formas para desenvolver tarefas dentro das novas metodologia para a educação da juventude fosse necessário, mas este é o Escotismo verdadeiro que conhecemos. ATIVIDADES AO AR LIVRE.
O “Velho“ sentiu que o cachimbo apagara. Calmamente deu uma ou duas “socadas”, jogou no cinzeiro as cinzas e acendeu novamente soltando” fumaça” pôr todos os lados, empestando a Sala Grande.
Temos nas Lojas Escoteiras, uma infinidade de livros bons sobre literatura Escoteira. Mas quem se habilita a ler? - E mesmo lendo, praticar o que leu? - Você conta a dedo quem tem uma boa biblioteca Escoteira em casa. Se possuem a “Insígnia“, nem sempre estão preparados para adestrar tais técnicas escoteiras. - Continuava o "Velho" - Temos perdido milhares de jovens porque não vivenciam mais estas atividades em que a técnica faz parte do seu crescimento. Esqueceram-se de tudo, ou melhor, por desconhecer não se importam em aprender para treinar seus monitores. Ainda bem que ainda temos um bom numero de escotistas fazendo escotismo como deve ser.
Quer saber de uma coisa? Desconfio de chefes que não sabem a Lei Escoteira de cor e estão mal uniformizados. Quando olho um Escotista sem ser um mago ou um adivinho, posso lhe dizer quem ele é com dez minutos conversando ou vendo como ele age com a tropa. Os tipos exóticos nem falo nada. Eles por sí só dizem o que são. 
 Fiquei pensando e me desviei das palavras do “Velho” - Tinha lido há muito tempo, um livro de um antigo escoteiro e que se chamava “Os adultos no Movimento Escoteiro”. Ainda não sabia onde eu me encaixava em tudo aquilo. Sabia que era útil, sabia que podia ajudar, mas não sabia como chegar lá. Educar, formar caráter, espirito de iniciativa, formação espiritual, bons cidadãos.
“E fui pensando, pensando até que me dei conta que a Vovó e o “Velho” dormiam preguiçosamente abraçados no sofá preto e o ““ Velho” roncava “descaradamente“.                                                            

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