Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A volta dos que não foram.



Crônicas de um Chefe Escoteiro.
A volta dos que não foram.

                      - Bom tarde! Sempre Alerta! – Ele me olhou como se eu não fosse ninguém e disse – Bom tarde. – Olhe eu já fui Escoteiro, passei e vi voces. Resolvi visitar. – De novo aquele olhar obscuro como se eu fosse um intruso ou de outro planeta. – Tudo bem, fique a vontade disse. Eram duas patrulhas, uma com cinco e outra com três. Quatro mocinhas e três rapazes. – São Seniores? – Ele me olhou como se eu fosse um cego ou uma “besta” e disse – São sim. – Tropa pequena eim? De novo aquele olhar gélido. – Seniorismo é só para macho! Poucos topam! – Não entendi! As meninas são machos também? Ele me fulminou com um olhar. – Não entendeu? Muitos não ficam. Preferem outros programas. Prefiro assim, ficar com os que gostam. – É, compreendo. Mas vejo você falando muito com todos. Não conversa com Monitores? – Olha, estou ocupado. Falamos outra hora ok? Posso fazer a ultima pergunta? Só vi a resposta fulminante em seus olhos. – Bem é que vi o distintivo do Jamboree em você. Todos foram? – Não, fui eu o Diretor Técnico, uma guia e um membro da diretoria. Representamos o grupo. – Mas porque os outros não foram? - Não tinham condição de pagar! Pensei comigo – Um por todos e todos por um! Bah!
                   
                        Vi que ele não falaria mais. Procurei a Akelá. Uns doze lobinhos e lobinhas. – Olá! Melhor Possível! Um sorriso amarelo como resposta. – Já fui lobinho. – Ah! Já foi? Hoje mudou muito – Notei que nenhum tem mais os distintivos de estrelas no boné. – O que é isto? Nunca ouvi falar. – Melhor mudar de assunto. – São suas assistentes? – O mesmo olhar do Chefe Sênior. – Sim. Ajudam-me. – Mas não as vejo fazer nada! – Farão quando eu mandar. – É seu programa? – sim, respondeu. – Não vejo o nome delas! – Não precisa, quando preciso as chamo. – Poucos lobinhos, só uns quatro com um ano e um com dois anos de atividade, por quê? – Eles acham que aqui é jardim de infância, chegam ficam dois ou três meses e vão embora. Melhor assim. Aqui tem que ter sangue! – Sangue? Não entendi! Tem alguém sem sangue nas veias? – Ela gritou com uma – Magda, corra até o almoxarifado e veja se tem papel e lápis, vamos fazer um jogo da “Velha”! – Mas você não tinha outro jogo aí no seu programa? Perguntei – Me deu as costas e se foi.
                   
                        Em fila vi que os escoteiros estavam chegando à sede. Rostos nada apreciáveis. Alguns com lenços tortos e outros com camisas soltas. Um Monitor arrastando no chão seu bastão totem da Águia Dourada. Não sei o porquê dourada, tudo bem.  – Bom dia! Sempre Alerta! – O Chefe me olhou, novo ainda não mais que vinte e seis anos. Idade ideal para chefia Escoteira. – Boa tarde ele respondeu. Sorri, esqueci que era de tarde! - Três patrulhas? – Sim, por quê? Notei que duas das meninas são monitoras e só uma um menino é. – Claro, elas são mais dedicadas. – Ah é? Não sabia! – O Chefe Sênior o chamou. Falaram por alguns minutos. Ele voltou – Olhe vou dar um jogo e não tenho tempo. Desculpe. Chamou todo mundo e gritando explicou como era o jogo. Os Monitores ali e na tropa Sênior serviam para ficar na frente com o bastão. Risos.
                       
                         Vi dois chefes se aproximando. – Olá, sou o Diretor Técnico. Você quer alguma coisa? – Não senhor, só visitando. Lembrando os velhos tempos! – Olhe, hoje estamos muito ocupados. Eu mesmo vou receber a visita do Assistente distrital. – Ah é! Posso ficar? Gostaria de conhecê-lo. - Posso perguntar? – Sim, ele disse. – Voces não tem lista de espera? – Me olhou com aquela cara de que comeu e não gostou – Não precisa. Os que aparecem é porque querem ser homens de verdade! – Não entendi! E as moças? – Ficou fulo. Olhe somos um grupo antigo, temos orgulho do que somos. – O outro me olhou e disse – Eu sou um assessor de muitos chefes. Não sou pata tenra! Tenho muitos cursos e oito anos de escotismo – Prazer! Bom saber disto! – O outro Insígnia (esqueci-me de dizer) me disse – Eu sei como fazer. Entendo de escotismo tá entendendo? Não nasci ontem! Sou Chefe aqui desde que o grupo iniciou! – Sim senhor, sim senhor meu coronel! Ficou puto! Me matou com seu olhar! Tal pai tal filho. Agora entendia a postura dos chefes no Grupo Escoteiro.

                        Chegou o Assistente distrital. Novo, uns vinte e cinco anos. Insígnia. Carreirista. Conheço o tipo. Que pose meu Deus! Abraços apertados. Olhou-me – Prazer Doutor Comissário! Falei juntando as botas em sinal de respeito.  Acho que não gostou. Não sou Doutor. Quem é você? Apresentei-me. – Um simples Escoteiro do passado. – Olhe, disse. Os tempos mudaram. Estamos mudando tudo. Para melhor – Notei disse, só de olhar já entendi. Você um comissário está de bermuda branca, camiseta rolê, lenço da insígnia, um tênis branco e gostei do seu chapéu eurasiano! – Foi à conta. – Você não me conhece. Estou sendo preparado para ser um formador. Já fiz diversos cursos! Mais um ou dois anos serei DCIM! Mais respeito! Você não sabe com quem está falando! Putz! O homem ficou bravo! Falar o que?

                       Ri por dentro. Se desse risadas poderia levar uns sopapos. Melhor ir embora. Se continuasse ali iria virar farinha de mandioca! Ainda bem que na semana anterior tinha visitado outro Grupo Escoteiro. Gente boa, sorridente, todos amigos, fui muito bem recebido. Abraços, endereços, Monitores em ação, Alcatéia lotada e uma enorme lista de espera. Disseram-me que o distrital e o Assistente quase nunca vão lá. Entendi. Ainda restam esperanças. Este escotismo é maravilhoso. Tem altos e baixos, mas não desiste. Disseram-me que é sangue Escoteiro. Sangue? Deve ser tipo O positivo. Rarará! E como dizem por aí, não se preocupe, os bons ventos voltaram. Confirme. A Terra do Nunca existe? Não sei, dizem que nunca é uma palavra que não existe. Melhor ir ao meio do oceano, quem sabe é só “poeira em alto mar?”.

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