Conversa ao pé do fogo.
Deveres para com Deus.
Eu estava na casa do "Velho" escoteiro. Na sala eu sua filha a
Vovó e ele. O tema? Deveres para com Deus. Eu sabia que ele não era um
religioso nato, mas quando se tocava no assunto ele matinha a seriedade como
tônica de discussão. Para ele não havia meios termos. Era tudo ou nada. - Nossa
Promessa diz que temos que cumprir nossos Deveres para com Deus, portanto
ou somos ou não somos - Dizia o “Velho“. O Escotismo não pode admitir “ATEUS”. A Religião é essencial para a felicidade, são
palavras de BP. A filha do “Velho“ participava do nosso “tete a tete“. Não
concordava muito com o pai.
- Olhe meu pai – Hoje o mundo nos dá uma visão nova da religião. Cada um
imagina o seu “próprio Deus”. Desde que sejamos retos em nossos ideais iremos
alcançar o que todos esperam após a morte. - É possível filha é possível - quem
falava era a Vovó. Mas como podemos preparar nossos filhos sem o exemplo? -
Deixá-los escolher quando forem adultos é correto, mas não quando jovens. Dizer
para eles como deve ser “Deus” também é muito difícil. Mas esta é a época certa
para desenvolver neles a religiosidade. Só quando pequenos podemos formar e
ensinar de onde viemos e para onde vamos. Claro que quando crescerem terão
livre arbítrio para escolher o que acharem melhor.
- Correto minha mãe, mas obrigá-los a frequentar uma determinada
religião não é pedagógico. A criança deve ser orientada e não
obrigada a acreditar e agir de uma determinada forma. - Filha (era o “Velho”
quem falava) a orientação é à base da formação. Exigir e cobrar também. Veja
você se nós deixássemos ao seu critério quando criança a escolher se deveria ou
não ir à escola, fazer as refeições quando quisesse e outras responsabilidades
que fazem parte da iniciação e formação do adolescente.
- Olhe Papai, acredito nisto, mas chega uma hora que temos que escolher
nosso próprio destino. - Em termos, filha (dizia a Vovó). Você pôde agora
escolher, pois teve uma família cristã, boa educação e o mundo foi apresentado
a você de outra forma. Não seria a mesma coisa no seio de outra família cujos
filhos não tiveram a mesma oportunidade. - A filha do “Velho” retrucou -
Tenho lá minhas duvidas. A Senhora lembra quando participei do movimento
Bandeirante. O Distrito era num Colégio de Freiras e nossas coordenadoras
exigiam que participássemos de todas as atividades religiosas. Seria esta ação
educacional?
- E não foi uma forma de você conhecer mais a filosofia de uma
determinada religião? - Falou a Vovó. Tenho certeza de que irá concordar que
não foi prejudicial. Inclusive lhe deu maior base e olhe bem, você
participou com vontade e de uma maneira espontânea sem pensar que era obrigada
a fazê-lo. Neste caso acredito que sua formação teve muito a ver com sua
participação quando jovem e olhe que no início você adorava as Bandeirantes. -
finalizou a Vovó. - Mas ainda continuo me questionando se não foi uma forma de
“chantagem“ para que eu fosse imbuída na mentalidade espiritual de uma
determinada religião! - falou a filha do “Velho”.
- É possível - disse o “Velho“. Muitas vezes estudamos maneiras
para que os nossos filhos participem. Se isto é chantagem estamos sendo
chantageados cada minuto que vivemos. Se os pais como nosso caso são cristão estamos
sempre preparando e visando uma formação cristã. Não podemos deixar esta formação
de lado. Cada minuto é importante. - Será Correto exigirmos dos nossos
escoteiros frequentar sua religião, ou melhor, a dos pais mesmo contra sua
vontade? - falei. Vejam bem. O jovem adora o Escotismo, as atividades ao ar
livre e a amizade existente. No entanto quando vamos solicitar sua presença em
alguma atividade religiosa já vi muitos mudarem sua personalidade e a presença
nestes dias diminui sensivelmente. Para que participem somos obrigados a
“chantageá-los” de formas diferente, seja para alertá-los de sua formação da
Lei e Promessa ou do “Espírito Escoteiro”.
- Não acredito - falou a Vovó - Estamos deixando que o mal se sobreponha
ao bem, só porque não queremos exigir pensando que estamos chantageando. Temos
responsabilidades com nossos filhos e vocês educadores também com os
jovens. - Os princípios do Escotismo é colaborar na formação, - continuou -
ajudando os pais na escola e na religião. O objetivo não será alcançado sem os
requisitos básicos. Primeiro o exemplo pessoal. Segundo acreditando no que faz
e terceiro tendo certeza do que está fazendo. Quando se diz colaborar não
é substituir com programas tirados da imaginação. O movimento não pode ter
“Ateus”. Qualquer outra explicação é tapear toda uma organização que tem
princípios e métodos definidos. Os artigos da lei Escoteira é prodiga nisto.
Tenho me questionado no que estou fazendo junto aos meus filhos - falou
a filha do “Velho”. Eu mesmo deixei de frequentar atividades religiosas há
muito tempo. Não tenho levado eles a nada. Claro, toda hora não deixo de falar
do assunto. Eles não se interessam pelo Movimento Escoteiro e só querem
atividades “fortes” tipo judô, luta livre e outras que nada fazem para
ajudar na formação espiritual. Não sei nada do que se passa no Colégio, pois
este é aberto e dirigido conforme a pedagogia moderna. Até que ponto não
vou me arrepender no futuro? - Não adianta você se questionar sem ter certeza.
- Falou o “Velho”. Já conversamos muito sobre este assunto. Nunca quis forçá-la
a nada. Mas são meus netos e os amo tanto como você. Todos os pais tem a
obrigação de estar junto aos filhos. Saber de suas dificuldades dos seus
problemas e até do seu sucesso. A religiosidade faz parte da educação familiar.
- É difícil falar em fé se temos duvida, mas nunca podemos duvidar
do “Criador”. Todos nós seja você ou os Escotistas temos nas mãos um manancial
enorme e a responsabilidade é grande. - A lei é imutável. - continuou - Ela não
foi escrita como uma forma filosófica conforme os Mandamentos da igreja e
como as do Escotismo. Tem que ser cumprida e não de forma razoável. Temos que
nos amadurecer nesse sentido para também amadurecermos os jovens. Posso até
lembrar as palavras de BP sobre Deus e a natureza no Caminho para o Sucesso -
Se não concordarmos estaremos falhando naquilo que é o mais importante e
também temos que repensar o que somos e o que devemos fazer.
Estava pensando em tudo que tinham dito. Poderia questionar muitas
coisas, mas como? Ainda não tinha filhos, e nem sabia o que seria o meu
futuro religioso. Como podemos dizer o que é melhor e o que é pior? - Imaginei
como a responsabilidade é grande para um educador. O exemplo, a força de
vontade a coragem e a fé não podia ser considerada como complemento. Era o
todo. Se os erros acontecerem teremos nossa parcela de culpa. E muita culpa.
- É realmente muito difícil ser Chefe Escoteiro. Quantos se gabam
de o ser sem nenhuma base de formação. Os direitos são inalienáveis, mas os
deveres, estes são sempre questionáveis. As palavras da Lei não são as mesmas
para todos. Deveres para com Deus... .Nossa conduta nos destinos dos jovens
algum dia será cobrado. Seja aqui ou em outro lugar.
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