Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

domingo, 28 de abril de 2013

Conversa ao pé do fogo. A fantástica “Banda” do Maestro Munir.



Conversa ao pé do fogo.
A fantástica “Banda” do Maestro Munir.

               Eu tinha um sonho. Ou melhor, dois, acampar no Pico da Bandeira e participar da Banda do Munir. Com treze anos um caminhão da prefeitura nos levou até Caratinga. Lá pegamos a Maria Fumaça para Caparaó (Águas que rolam nas pedras). Minha alegria não tinha limites. Afinal estive no Pico da Bandeira. Uma linda história para contar em uma outra vez. Agora precisava entrar na Banda. Osso duro. Munir era magro e alto. Usava o chapéu Escoteiro virado, mas muitas vezes preferia uma boina preta tipo Montgomery. Eu nem sabia quem era esse tal Montgomery. Usava o uniforme caqui e uma bota cano longo. Sujeito estranho o Munir. Chamá-lo de Munir era briga na certa. Senhor Maestro Munir! Ele encarava você nos olhos, uns dois minutos, você não sabia onde esconder.

             A Banda treinava todas as quintas feiras entre sete e dez da noite atrás do cemitério do Azarão. Um campinho de futebol, próximo à cidade, mas cujo barulho não incomodava os vizinhos. Só os coitados dos “defuntos”. A Banda não era grande, não era. Tinha se não me engano, ou se me lembro bem, quatro tambores, dois tambores-mor (daqueles enormes quase um metro de altura) cinco tarois, oito caixas claras, quatro bombos, seis cornetas e dois clarins. Clarins! O meu sonho. Um dia iria tocar um. Mas precisava ter curriculum na banda para pelo menos encostar um dedo nele. Munir era severo. Ria pouco. Um olhar dele gelava todo mundo. A Banda dos Escoteiros era famosa. Nas festividades todos ficavam a espera da Banda. Ela além de passar em frente ao palanque das autoridades onde tinha uma cerimônia própria ia de rua em rua como a saudar os habitantes que saiam de suas casas e vinham para saudar a Banda dos Escoteiros.

            Precisavam ver a pose do Munir, com sua varinha, seu chapéu virado, sua bota cano alto a marchar à frente da Banda fazendo gestos, como se estivesse regendo uma grande orquestra. Alí ele era o Rei. Era exigente o Munir. Marchar bem, com honra, respeito, garbo e boa ordem. Bastava um para destoar e ficar fora da banda por meses. Sua palavra era a lei. Ninguém desfazia. Eu ia sempre aos treinos da Banda. Ficava ali abobalhado olhando cada um com seu instrumento. Antes tinha trinta minutos de ordem unida. Munir não gritava. Seus gestos eram graciosos. Sabia com perfeição fazer os sinais manuais de formaturas. Apito? Detestava. Na frente da banda um sinal seu e ela parava de tocar. Outro alguém gritava: Em frente marche! Todos juntos. Se alguém errasse valha-me Deus! Eu olhava tudo, caixas, tarol, tambores, bombos, cornetas, mas meu xodó era o clarim. Jasiel e Marquinhos eram os donos dos dois. Sentiam-se importantes demais para olhar para mim. Eram seniores.  

          Só faltava ao treino da Banda quando ia acampar. Este era sagrado. Uma excursão, bivaque, acampamento sempre estiveram em primeiro lugar. Um dia achei em um pé de Manga, um galho que se cortado iria ficar igual a um clarim. Preparei meu instrumento medieval com carinho. Ficava em casa horas com ele na mão. Levava a boca, fingia que tocava, balizava e sorria. Sonhava em tocar a Alvorada, o Silêncio, o reunir, debandar e tantos outros toques. Decorei todos. A Patrulha me absorvia. Eu amava minha patrulha. Entre ela e a Banda só tinha uma escolha. A patrulha. Um dia tomei coragem. Cheguei em frente do Munir. Conferi meu uniforme. Tinha que estar pronto como se fosse uma inspeção. Munir era exigente. Posição de Sentido, meia saudação – Sempre 
Alerta Senhor Maestro Munir, gostaria de participar da Banda! – Tinha treinado em casa em frente ao espelho como falar com ele. Se errasse ele nem na minha cara ia olhar mais.


          Tomei um susto. Ele olhou para mim. Nem piscou. Cara fechada. Ficou também em posição de sentido. Bateu um calcanhar sobre o outro. Plok! - Quinta! As sete em ponto! Se chegar atrasado não venha nunca mais! – Sai gritando de alegria. Contava para todo mundo. A Patrulha me parabenizou. E agora como você vai fazer? – Fácil disse. Os treinos são as quintas e dificilmente saímos em atividade neste dia. Nos desfiles vão todos. Portanto dá para conciliar. – Não dá não disse o Romildo Monitor. Quinta agora não vamos acampar em Bom Jesus? É feriado lá e aqui. Minha nossa! Eu pensei e agora. – Bom Jesus ficava a vinte e cinco quilômetros de distancia. Sabia que íamos de bicicleta. Não podia perder meu primeiro dia na Banda e nem no acampamento. Tinha uma menina em Bom Jesus que me olhava e ria nunca falamos, mas naquela época namoro era assim. Acho que eu estava apaixonado por ela.

           Dito e feito. Na quinta às quatro da tarde voltei sozinho a minha cidade. Correndo como um louco estrada a fora. Cheguei no campinho as sete em ponto. Suando, cansado, mas com um sorriso no rosto. Posição de sentido e lá estava eu me apresentando ao senhor Maestro Munir. No primeiro dia só treino de ordem unida. Ele me deu um tambor pequeno oito treinos depois. Terminando voltei correndo para Bom Jesus. Só três anos após comecei na corneta e o clarim quando fiz dezessete anos. Meu sonho na Banda aconteceu. Toquei clarim por muito tempo. No exército era com muito orgulho o corneteiro do dia. Nunca faltei a um treino, desfile e nem tampouco nas minhas atividades ao ar livre. Encontrei Munir muitos anos depois em Colatina. Ele bem velho. Eu com meus trinta e cinco anos. Olhou-me com aquela cara feia, ficou em pé, em posição de sentido. Sempre Alerta! Ele disse. Eu fiz o mesmo. Maestro Munir! Que prazer! Já com aquela idade ainda tinha medo do Senhor Maestro Munir. Ele riu. Nunca o tinha visto dar um sorriso. Abraçou-me. – Sabe Osvaldo, eu sempre gostei de você. Nunca o esqueci. 

             Os tempos são outros. As bandas não são como antigamente. Não existem mais os Maestros como o Munir. Sei de muitos grupos escoteiros que venderam ou doaram sua banda. Imposição dos dirigentes? Que pena. Dá para conciliar. Da para treinar sem incomodar. Até hoje olho com saudades os desfiles. Quando vejo uma banda fico “arretado” e “arrepiado”, adoro isto. Na minha juventude a Banda símbolo era a dos Fuzileiros Navais. Tive o prazer de vê-la tocar muitas vezes. Mas os tempos foi passando, as bandas foram ficando para trás. As histórias de uma banda no Grupo escoteiro se foi e quase não é contada mais. Se eu pudesse, se meu corpo ajudasse eu teria um grupo. Um Grupo Escoteiro fantástico. Meninos vibrantes. Acampamentos mil. E mais o que? Claro, uma banda. Ia com certeza achar um Maestro Munir por aí. Que vida louca seria. Mas sonhos são sonhos. Com a minha idade não dá mais para que meus sonhos sejam realidade.

Sempre Alerta corneteiro! Toque por favor, um toque da alvorada! Adoro-o e quantos já ouvi quando o sol vermelho, escondido pelo orvalho da noite, resolvia aparecer em um céu de brigadeiro. Vou cantar para você a mais linda canção da alvorada de todos os tempos! Sei que irá adorar!   

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