Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O Troféu eficiência. Desistir dele? Jamais!


Conversa ao pé do fogo.
O Troféu eficiência. Desistir dele? Jamais!

          Nunca liguei se perdia ou se vencia. Para mim o escotismo era só diversão. Sentia-me bem na patrulha Condor e nunca parei para pensar o porquê ela se deixava levar como o vento sem ter uma direção firme, uma abordagem um leme seguro para chegar ao porto escolhido. Quando comecei o ano passado tentei mudar o estilo. – Meu nome é Zito e o seu? Perguntei. Ninguém respondeu. O Monitor me olhou e disse que se fosse bom logo todos aprenderiam o me nome.  Eram quatro patrulhas e cada uma a seu modo tinha sua maneira de viver. Os Pintassilgos e os Mergulhões sempre foram os primeiros. Era normal e ninguém se incomodava. Parecia um jogo de cartas marcadas e que não incomodava ninguém. Claro que a Patrulha Uirapuru de vez em quando conseguia um troféu, um elogio mas a Condor? Ninguém se preocupava. Jerônimo o Monitor arrastava o bastão quando corríamos, Jader e Pepeu na fila da patrulha não se entendiam. Agora tinha duas meninas que só sorriam e mais nada. Paty e Vilminha. Bill já estava fazendo a Rota Sênior e durante o tempo que participou da Patrulha nunca se preocupou em ganhar ou vencer.

         O Chefe Jean Pierre estava na tropa há mais de dez anos. Não sei se ele prestava muita atenção em tudo que acontecia ou se ele achava que cada um tinha que descobrir o sentido da vida na patrulha. Ele sempre dizia que a vida tem quatro sentidos: amar, sofrer, lutar e vencer. Por isso patrulheiros amem muito, sofram pouco e lutem bastante e claro, vençam sempre. Se isto era uma motivação de nada valia para nós os Condor. Nos acampamentos era comum a cada manhã, após a inspeção de campo e depois do cerimonial de bandeira a eficiência de campo ser entre aos Mergulhões e aos Pintassilgos. E assim os dias de acampamento iam passando, nós ali brincado de Escoteiros valentes, de experientes mateiros e nunca desejando também ser um daqueles que já atingiram o panteão dos vencedores.

          Um dia conversava com meu pai. Eu o adorava. Achei que ele devia ser um Chefe Escoteiro mas nunca tinha tempo. Quando não estava em atividade em um domingo ele me convidava para passear. Não íamos longe. Havia um bosque proximo e ele me levava para me ensinar a crescer, a dar o passo certo e ele colocava as coisas de tal maneira que nunca se tornava enfadonho nossa conversa. – Zito, como vai você nos escoteiros? Antes falava tanto que até aprendi com você a Lei escoteira. Ele ria quando se lembrava dos meus sonhos, das minhas vontades e para ele sempre jurei que nunca deixaria de ser um escoteiro. Um domingo ele tocou com palavras que nunca pensei que ele pudesse falar sobre meu crescimento, sobre a luta pela vida, a respeitar, ser um homem honrado e lutar por tudo que sonhar. – Meu filho, poetas já diziam que bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é “muito” para ser insignificante.

        Paramos na sombra de uma enorme pitangueira e sentamos ali vendo o lago do parque, pessoas nos barquinhos indo e vindo e ele continuou – Você nasceu para vencer, mas para ser um vencedor você precisa planejar para vencer, se preparar para vencer, e esperar vencer. Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. Saiba que nossa maior fraqueza está em desistir. O caminho mais certo de vencer é tentar mais uma vez. E lembre-se que quem quer vencer um obstáculo deve armar-se da força do leão e da prudência da serpente. Naquela noite e naquela semana fiquei pensando se a vida que levava no escotismo era a que queria. Pela primeira vez pensei o porquê os outros ganhavam e nós não. Eu não podia continuar em uma patrulha que nunca venceu, que não tinha sonhos e que a vida para ela era um jogo de cartas marcadas.

       Na semana procurei Jerônimo o nosso Monitor. Abri-me com ele. Disse que precisávamos mudar nosso estilo. Não devíamos continuar sendo uns “Maria vai com as outras”. Tinhamos que aprender a dar os passos certos e também sermos os melhores. Não precisava ser mais que os outros mas tínhamos que igualar. Jerônimo não se interessou muito no que eu disse. A monitoria para ele sempre foi uma maneira de se manifestar com líder e agora eu sabia que ele nunca tinha sido um líder. Mesmo assim ele marcou um Conselho de Patrulha para discutirmos o assunto. Não sei se fui muito loquaz no dia da reunião. Vi os olhos da Paty e Vilminha brilharem. Senti também que Jader e Pompeu se entreolhavam como se a perguntar se eles eram uns derrotados. Até Bill entrando nos seus catorze anos se interessou.

       Foram quatro Conselhos de Patrulha e cinco reuniões de patrulha. Partimos para o acampamento na Mata do Pastor cheios de planos. Podíamos até tirar o segundo ou o terceiro lugar mas o ultimo não. Era questão de honra. Agora cada um sabia o que fazer. O Bombeiro, o Aguadeiro, o Construtor de Pioneirias, o cozinheiro, o Intendente o sub e o Monitor eram como uma máquina afiada. Tudo nos seus conformes. Sempre os primeiros com o grito de campo pronto, de refeições prontas e até o Chefe Jean Pierre se assustou e aceitou o convite para jantar conosco.  Afinal era o primeiro dia e quase todas as patrulhas ainda não tinham dado o grito. Ficou estupefato com o que viu. A mesa com bancos, o fogão de barro na altura certa do cozinheiro. Os toldos bem firmes. O aguadeiro sempre disposto ao lado do cozinheiro. A barraca da intendência perfeita. Nenhuma ferramenta do lado de fora e todas elas bem colocadas na barraca.

        No dia seguinte levantamos cedo. Nem esperamos o toque do Chifre do Kudu que o Chefe fazia para a alvorada. As nove em ponto estávamos formados em frente ao campo. Tudo limpo. Tudo arrumado. Cada um se esforçou ao máximo. O Chefe se aproximou com os monitores. Fizemos o melhor grito de patrulha do mundo. Estava tudo perfeito. Fomos para a bandeira cantando. Perder ou ganhar já não era tão importante. Dizem que o medo de perder tira a vontade de ganhar. Não era o nosso caso. Bandeiras ao vento. O Chefe após a oração se aproximou do meio da ferradura com A bandeirola de Couro da eficiência geral já nossa conhecida só de olhar. – Patrulha Condor, se aproxime. Um frenesi. Meu corpo tremeu. Todos se olharam. Vocês tiraram o primeiro lugar! Falar o que? Jerônimo virou para a tropa e disse: Na vida vocês tem duas opções perder ou ganhar. Se apaixonem por alguém e percam, faça as pessoas se apaixonarem por vocês e ganhem. Obrigado a todos e espero que possamos nestes quatro dias de campo dividir nossa alegria com a alegria que teremos sentido a ver vocês ganharem.

        Nós os Condor daquela época nunca mais nos esquecemos daquele dia. Dia que se multiplicou por toda a vida que fui um honroso patrulheiro da Condor. Meu pai me deu uma lição, meu Chefe me ajudou a completar a tarefa. Meu Monitor mudou sua maneira de pensar. “O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que tombaram antes de vencer”.


Neste conto alguns temas foram tirados de frases de: Augusto Branco, Abraham Lincoln, Zig Ziglar, Mahatma Gandhi, Thomas Edison, Giulia Staar.

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