Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Mitos, lendas verdades e inverdades do Uniforme Escoteiro.


Conversa ao pé do fogo.
Mitos, lendas verdades e inverdades do Uniforme Escoteiro.

           Convenhamos que eu não seja um estudioso das tradições do uniforme Escoteiro brasileiro. Sei apenas o que vi e vivi com ele e outros amigos. Não vou dar um testemunho como foi em todo Brasil, para mim impossível, mas posso falar mais na minha área de atuação. Este é um artigo que não pretende de maneira nenhuma provocar uma discussão. Sei que nosso uniforme ainda levanta duvidas e hoje muitos que fazem parte da nova geração acreditam que o presente nada tem a ver com o passado. Tenho dito em todos os lugares aonde vou e mesmo em meus parcos escritos que faço do tema, que é difícil analisar uma era sem ter nela pisado com seus pés e sentido o calor do chão de terra. Os novos eruditos que se arvoraram em donos da verdade, muitos deles sequer conheceu o passado a não ser por escritos fazem hoje de suas belas palavras uma verdade que acreditam ser intocável. Não sei. Chega de polemizar. Já me disseram que isto não leva a nada. Fico somente com a análise do uniforme básico. Os do mar e do ar quase não sofreram mutação e até hoje se mantem no tradicional quando foram criados. Parabenizo a eles por este amor que até hoje sentem pelo seu passado.

           Uma vez em uma pequena clareira, um foguinho gostoso um Chefe meu amigo e antigo mineiro já falecido, Doutor Francisco Floriano de Paula comentou com voz calma e ponderada que em Minas no inicio do escotismo o uniforme foi o mesmo usado na Inglaterra. Uma espécie de caqui mais cinza com meiões pretos. Com o passar do tempo surgiu à calça azul com camisa caqui e assim permaneceu por muitos anos. Parece que a partir do final da década de 40, o caqui começou a se expandir por vários estados. Lembrem-se estou falando pelo meu estado Minas Gerais. Não vou contar aqui o que aconteceu quando o governo querendo uma expansão rápida do escotismo nomeou cabos e soldados para organizarem Grupos Escoteiros em todas as cidades. Os uniformes surgiram a bel prazer. Se no sul e no norte não foi assim fica o dito pelo não dito. Quando entrei para o movimento em 1947 os lobos usavam o azulão com o boné conhecido. Os Escoteiros já usavam o caqui curto, chapéu de abas largas e nunca se via adultos trajando calça comprida. Era como se diz uma tradição, pois BP nunca usou o uniforme com calça comprida. Sei que em vários estados ou cidades alguns grupos fizeram adaptações que não eram normativas. Assim apareceu o verde e cores parecidas com o caqui.

             O caqui, portanto era considerado o uniforme oficial dos Escoteiros da modalidade básica no Brasil. Em 1969 muitos já forçavam o uso da calça comprida. Discutiam que em cada estado devia haver uma abertura e varias ideias foram sugeridas. A temperatura de estado para estado, e o estilo de vida da comunidade foram dados como exemplo. Nota-se com orgulho que até no inicio da década de setenta via-se a liderança escoteira portando sempre o caqui curto em qualquer atividade nacional. Eu mesmo conheci Escoteiros Chefes e altos dirigentes não só da nacional como estaduais orgulhosos no seu uniforme caqui. Entretanto havia uma pressão enorme de adultos e seniores achando que precisávamos de um novo uniforme, mais apresentável (?) um que eles pudessem estar bem trajados em atividades sociais, reuniões extra sede e assim em 1975 formalizou-se o uniforme ou traje Azul mescla. O Chefe Darcy Malta Escoteiro Chefe na época, em visita a minha casa explicou como foi sacramentado o novo uniforme apesar de ser contra. Esqueçam esta de farda, uniforme, traje e vestimenta. No fundo tudo é a mesma coisa.

             Para que os adultos levassem a sério o novo uniforme, vamos chamá-lo de traje, a UEB enviou a todos os Grupos Escoteiros do Brasil um ofício via correio explicando como ele seria confeccionado, quais as ocasiões para o uso e juntou-se um desenho e pasmem-se: - um pedaço do pano tanto da camisa como da calça comprida. Havia a preocupação de que todos fossem reconhecidos sem nenhuma alteração no visual. Para maior formalidade foi dado à possibilidade do uso do paletó e gravata. Que eu saiba uma minoria adotou este último e que em minha opinião não tinha nada de escoteiro. No POR se sacramentou as normas e uso. Todos ficaram sabendo que o dirigente de qualquer atividade determinaria qual uniforme deveria ser utilizado. O POR era firme em um dos seus artigos que dizia nas atividades escoteiras os chefes deviam usar o tradicional, ou seja, o caqui. Eu mesmo dirigi vários cursos onde se exigia ou o traje ou o caqui. Em vários avançados da Insígnia da Madeira que fui o diretor pedia sempre os dois uniformes. Cada dia usamos um ou outro. O intuito era não só formalizar, mas mostrar que a uniformização deveria ser ponto de honra para nós Escoteiros. Interessante que sem a tecnologia de hoje, a disciplina era irreversível. Poucos destoavam e obedeciam sem discutir.

          A partir do meio da década de oitenta muitos adultos e seniores passaram a usar o azul mescla, mas com calças jeans desvirtuando o sentido da aprovação do traje no passado. Não esquecer que por volta de 1984/85 foi formalizado o escotismo feminino no Brasil e um novo uniforme foi acrescentado para elas. Dai em diante a cada liderança nova na UEB a abertura era constante. Acrescentou-se itens e banalizou-se completamente o sentido do uniforme SOCIAL. Cada grupo podia escolher com todos os seus participantes o que gostaram de usar. O próprio chapéu foi escamoteado abrindo a possiblidade do uso de bonés e outras coberturas. Lembramos que a própria UEB em sua loja vende um tipo de cobertura feita de brim ou similar e esta se espalhou por vários Grupos Escoteiros como uma chama. É comum ver o Chefe com ele e os jovens sem nenhum. Finalmente no final da década de noventa bastava portar o lenço com uma camiseta e se considerava uniformizado. A própria UEB foi quem criou esta Torre de Babel com o uniforme Escoteiro. Hoje se arvoram em dono da verdade e impuseram um novo uniforme a quem chamam de vestimenta.

          Com a participação em jamborees e atividades internacionais em outros países copiou-se o lenço preso nas pontas dando uma nova conotação da liberdade individual. Na nova vestimenta ficou a critério de cada um escolher como vestir e esqueceram-se da uniformidade o que sem sombra de duvida é o melhor marketing para o movimento Escoteiro. O tempo dirá. Cada um escolhe se quer a camisa solta ou não. Meiões ou não. Calça curta ou comprida. Lenço bem colocado no pescoço ou solto a escolha. Se isto vai dar nova visibilidade ao escotismo brasileiro vamos aguardar. Comparar o ontem com o hoje não é fácil. Era uma época que tínhamos o maior respeito com nosso uniforme. Nenhum novato poderia colocar peças antes da promessa. Todos faziam questão de estarem bem uniformizados e bem apresentados. Era uma questão de honra. Ninguém saia de casa sem ele. Impossível pensar em vestir na sede, pois o orgulho fazia parte de qualquer Escoteiro. Afinal o próprio BP já dizia que o melhor marketing do escotismo é um Escoteiro bem uniformizado.


             Brinco muito com amigos que comentam comigo sobre a uniformização que uma vez lá pelos idos de 1956 em uma jornada de mais de quinhentos quilômetros, de bicicleta pelo norte de Minas e na região do Vale do Jequitinhonha, próximo à cidade de Almenara, portando orgulhosamente o caqui curto com o chapelão, paramos em um boteco para comer alguma coisa e logo juntou ao nosso redor uma grande multidão de moradores. Em principio calados logo começaram a gritar – São os Escoteiros! São os Escoteiros! Olhamos pasmados aquela multidão que sem pedir nos saudou com uma estrondosa salva de palma. Bah! Emocionante isto. Será que teremos isto com a vestimenta?  Velhos e saudosos bons tempos!

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