Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Nas terras bravias do Lago Dourado.


Não há limites para os sonhos Escoteiros.
Nas terras bravias do Lago Dourado.

          Foi uma noite calma. As estrelas não cintilavam no céu como no dia anterior. Algumas nuvens brancas as cobriam como se fossem um manto protetor. A lua se fora há tempos. Achei que ia chover. Não choveu. Meus olhos estavam fechados. Dormitava pela madrugada fria. Um pequeno tronco me serviu como travesseiro. Coisas de um "Velho" mateiro acostumado. Um pequeno fogo ao lado agora só brasas com pequenas fagulhas que se inibiam ao subir aos céus me davam um pouquinho de calor. Pela aba do meu chapéu de três bicos eu podia ver a escuridão da noite. Gostava dela. À noite. Era minha amiga de muitas e muitas jornadas.

       Não ansiava pela madrugada. Que ela chegasse de mansinho. Não era um arbusto e quem sabe seria um pequeno arvoredo que encontrei perdido naquele vale dos sonhos onde dormia. Serviu-me de manto para a noite gostosa daquele inverno que não fora tão rigoroso como os anteriores. Minha mochila ao lado era minha companheira de anos e anos de caminhada. Sempre fora. Dentro dela com carinho estavam minhas “bugigangas” de mais uma jornada. Meu bornal pendurado no galho guardava minha “matutagem” caso tivesse fome. Abri um olho de mansinho. Avistei uma cigarra azul que cantava baixinho seus cantos noturnos. Gosto das cigarras. Fazem-se pródigas e só aparecem uma vez ao ano. E como são lindas. Amo-as! Muito!

         Senti uma brisa leve no rosto. Soprava gostosamente. Gostosa mesmo. Afagante. A brisa. Sempre perdida por aí. Nas montanhas, nos vales nos rios caudalosos ou no pequeno riacho de aguas turvas. Uma amiga. Não se esquece da gente. Os anos passam e lá está ela.  A madrugada não iria demorar. Grilos falantes pareciam fantasminhas na escuridão noturna. Melhor tentar dormir. Fora um dia e tanto. Uma grande jornada de um "Velho" Escoteiro sonhador. Um vagalume pousou no meu ombro. Sorri para ele. Enrosquei-me na Manta Negra que um dia a muitos e muitos anos meu Vô me deu com carinho. Não sentia frio. O corpo curtido pela idade já não era aquele de um passado que se foi.

         Um pequeno lusco fusco. Sinal que ela a madrugada ia chegar. Eu gostava das madrugadas. Eram lindas. Não importava se com sol ou com chuva. Adorava as madrugadas nos campos perdidos deste mundo de Deus. O cheiro da relva, das flores silvestres. O cheiro da terra. Ah! Maravilhoso! Tive madrugadas que marcaram. Com brumas a cobrir o campo verdejante, com brumas sobre os lagos azuis, cinzentos e vermelhos com o sol cobrindo-os. As brumas. Ah! Adoro-as. São lindas, querem cobrir meus olhos. Não querem que você veja ninguém só elas. Mas choram. Choram porque o sol irá chegar e elas terão que ir para longe, aonde ele o “Senhor Sol” ainda não chegou.

          Lá no horizonte um pequeno brilho. Pequeno mesmo. O sol. Ele estava chegando. Gostava de anunciar sua chegada. Era o rei. Não era um astro qualquer. Não aparecia assim do nada. Anunciava que se preparassem todos. Uma pequena claridade, um pequeno vermelho desbotado, raios brancos tingidos de amarelo ouro e eis que ele aparece. A montanha o reverencia. O dia nasceu. Eu estou acordado. Uma hora sagrada. Sempre gosto de ver o nascer do dia. É como se fosse uma criança chegando ao mundo. As brumas cinzentas me disseram adeus. O orvalho se escondeu. A última gota d’água caiu de uma folha adormecida. A brisa insistente continuava lá a me acariciar o rosto. Não se afastava. Uma amiga de épocas e épocas passadas.

          Hora de partir. Não disse adeus para todos eles que me acompanharam a noite e no lusco fusco da manhã. Não precisava. Eles sabiam que não era mais que um até logo, não era mais que um breve adeus. Eu voltaria. O "Velho" Escoteiro não para. Em sonhos ou pisantes nos meus pés hoje cansados. Ajeitei meu lenço, arrumei meu meião. Calcei meu velho coturno de guerra. Mochila as costas, pendurei meu bornal no ombro, o chapéu meu protetor do sol já posto. Minha forquilha de anos e anos e agradeci o arbusto que me serviu de lar e parti. Meu rumo? O mesmo de sempre. Para onde o vento me levar. Sabia que em algum lugar iria encontrar o Lago Dourado. Diziam que não tinha peixes. Que uma bruma cinza o cobria por todo o tempo. Isto eu iria ver quando chegasse.


            O sol a pino. Gosto disto. Os primeiros pingos do suor caem e somem na estrada da vida que leva a rumos impossíveis. Meu chapéu de abas largas me protege. A forquilha me ajuda a andar e achar o caminho. Uma montanha verde cheia de árvores floridas avisto ao longe. Deve estar perto a minha busca incessante. Quem sabe na virada da curva da Raposa que Chora eu encontro o Lago Dourado? Acordo. Era um sonho. Sempre sonho com este lago. Um dia irei encontrar. A cada dia em meus sonhos mais me aproximo. Levanto. Dou um sorriso. Um novo dia. Na janela o sol. Não há brumas. Até o lusco fusco da manhã se foi. A brisa está ali de leve de mansinho nunca deixou de me acariciar o rosto. Mais um dia iniciando. Ele vai passar como tantos que passaram. E quando a noite chegar vou dormir, vou sonhar e quem sabe um dia eu vou encontrar o Lago Dourado. Não vou desistir dos meus sonhos. Eles fazem parte de mim. A cada dia eu digo, não desista "Velho" Escoteiro. Digo sempre – “Eu voltarei”. Quem sabe um dia eu poderei dizer que encontrei o meu querido Lago Dourado? 

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