Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O último apague as luzes...


Crônicas de Um comissário de Distrito.
O último apague as luzes...

Conto escrito pelo Chefe Kleber Sidvzinski

                         - Pois é Chefe Adriano, não vejo outra saída – disse o Comissário Distrital, tirando os olhos do relatório e fitando aquela figura cabisbaixa na cadeira a sua frente – sei o que representa este grupo na sua vida e a importância que ele tinha na sociedade, mas já tentamos de tudo, palestras informativas, atividades de divulgação com outros grupos, trouxemos cursos preliminares para vocês, tentamos conversar com as lideranças locais, mas infelizmente não tem como fazer escotismo com as moscas. São mais de dois anos nesta situação. Chefe Adriano tomou o relatório das mãos do Chefe Leandro, mais que um Comissário Distrital, um amigo e confidente. Olhou para o papel, mas não conseguia fixar em nada. Onde foi que errara? Como ele, com toda sua experiência, com toda sua paixão pelo escotismo tinha deixado que isso acontecesse? Um grupo com 27 anos de existência, com um lindo histórico de formação de jovens, conhecido em toda a região...

                         Um filme se passava pela sua cabeça, lembrou-se das primeiras reuniões para a fundação do grupo, a escolha do nome, as cores do lenço, o desenho do símbolo do grupo. Parecia que tinha sido ontem. Lembrava claramente das sugestões para o nome, eram tantos, mas nenhum agradara tanto como o nome da rocha que dera nome a cidade – Pedra Azul. E o lenço? Foram quatro modelos, todos costurados a mão pelas esposas dos membros fundadores, havia sido uma difícil escolha, mas o escolhido era lindo, para eles o mais belo até então. Lembrava claramente do dia da inauguração, as primeiras promessas, a música alegre da banda municipal, os belos discursos...

- Hoje Pedra Azul escreve mais um importante capítulo de sua história – assim começara o discurso de Pedro Saviola, prefeito na época, hoje já falecido. O brilho nos olhos dos primeiros escoteiros promessados, as primeiras patrulhas. Fora uma época de ouro, os melhores de sua vida. Sua alegria só não tinha sido maior do que a promessa de seus dois filhos, Martina e Luccas. Quantos momentos de alegria intensa não vivenciaram junto com sua família? Acampamentos, jornadas, excursões, enfim, um mundo mágico, onde não existia monotonia, não existia tristeza. Os melhores momentos da sua vida ele viveu dentro daquele grupo, construíra fortes amizades, adquirira respeito, conhecimento.

Correu os olhos nas prateleiras daquela pequena sala. Olhou os troféus das conquistas das patrulhas. Eram dezenas, conseguia se lembrar de quase todos, afinal quase sempre esteve presente em todos os eventos do grupo, fosse das seções, fosse do grupo. Era um chefe extremamente ativo, participante, gostava de estar junto com a galera, vibrava com eles a cada conquista.

Primeiro foram os Chefes Jonas e sua esposa Eulália, ele um excelente assistente de tropa escoteira ela a primeira Akelá do grupo, cozinhava como poucas. A desculpa havia sido por problemas profissionais, muito serviço, pouco tempo para se dedicar, mas todos sabiam que depois que uma nova diretoria nomeou outra para o cargo de Akelá ela ficara muito desmotivada. Aos pouco foi deixando as obrigações, começaram a faltar, isso também foi desmotivando Carlinhos, o filho, e acabaram saindo todos.

Depois foi a vez dos Chefes Tino e sua esposa Vanessa, ambos da tropa sênior, eram os chefes da seção, animados, criativos, carismáticos. Mas depois da participação em um curso no campo escola regional de onde haviam chegado cheios de ideias, querendo fazer mudanças, questionando velhos dogmas e encontraram forte resistência por parte da diretoria, chegando a entrar em atritos várias vezes, também se desmotivaram até sair, o filho Cássio saiu alguns meses depois.

E assim foi um após outro, os membros fundadores do grupo foram saindo, pelos motivos mais diversos, brigas, sede de poder, falta de capacidade, falta de carisma, falta de comprometimento, enfim, os problemas e desculpas eram vários. E os que chegavam, mesmo se maravilhando com o escotismo, pouco tempo depois por um motivo ou outro acabavam saindo. Lembrava-se de quase todos, tentara de todas as formas evitar as perdas, sabia que a cada saída de um adulto a perda de jovens era certa e a reposição do adulto capacitado, motivado, envolvido era muito difícil.

Correu os dedos pelo seu colar da insígnia da madeira, cujo merecimento foi demorado e muito festejado pela sua tropa escoteira, pelo seu grupo, era a primeira e única do grupo e uma das poucas de toda a região. Infelizmente nem com os conhecimentos adquiridos com ela haviam sido suficientes para tentar reverter àquela situação. Levantou-se da cadeira lentamente, não conseguia olhar nos olhos do Chefe Leandro.

Olhou a coleção de lenços que enfeitava uma parede inteira daquela sala, tantas emoções, tantos momentos vividos, cada lenço tinha uma história. Aquela parede representava muito bem tudo que tinha vivido nestes anos todos de movimento. - Sabe que eu tentei de tudo, faz três anos que tenho registrado uma diretoria “fantasma” somente para manter os cinco escoteiros do grupo... Porque estes tipos de coisas acontecem? O que vou dizer para estes cinco jovens? - Disse sem se voltar para o Chefe Leandro, como se estivesse envergonhado com aquele momento. Seus olhos estavam mareados. Sentia-se um incapaz, um derrotado.

- Bem a ideia de você levá-los ao grupo de Cerro Verde é boa, e ainda de quebra você mesmo irá dar uma mão ao grupo também. Para eles será um grande reforço e para vocês uma forma de continuar no movimento. Quem sabe não conseguem voltar depois? Realmente. Havia ainda uma luz no fim do túnel, quem sabe depois de certo tempo não voltasse o interesse dos moradores da cidade? Quem sabe seus antigos escoteiros depois de terem a vida encaminhada não voltariam dispostos a ajudá-lo a reerguer o grupo? Pensar nesta possibilidade lhe deu certo alento.


Virou-se lentamente, pegou o velho e surrado chapelão escoteiro que estava sobre a mesa, colocou-o meio desajeitado sobre a cabeça, dobrou cuidadosamente o relatório que estava sobre a mesa, colocou no bolso do seu impecável uniforme, exatamente no bolso onde estava pregado o distintivo de sua promessa. Fitou firmemente o Ch. Leandro, um meio sorriso surgiu em sua boca. - Eu sou escoteiro e não desisto jamais... O escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades. Este guerreiro irá apenas adormecer, mas voltará, criará mais forças, buscará mais informações, reforços, mas voltará. A bela história deste bravo guerreiro não irá acabar em minhas mãos... Palavra de escoteiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário