Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Eu amo contar estrelas!


Eu amo contar estrelas!

                     Quando menino escoteiro eu gostava de contar estrelas. Uma, duas, três... E quando perdia a conta começava de novo a contar. Eram muitas, milhões delas. Foi em uma excursão noturna no Vale do Sino que aprendemos a contar. Não entendi bem na época o porquê. Hoje estrelas no céu sempre me fazem sonhar. Como é mesmo a canção? – “Mas a lua, furando o nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão, tu pisavas os astros distraída, sem saber que a ventura desta vida é a cabrocha, o luar e o violão”! Muito linda ela.

                    Fui crescendo contando estrelas e velejando num barco a vela no meio delas, perdido e embriagado com tanto encanto. Quantas estrelas eu contei? Milhões? Bilhões? Números infinitos sem nunca terminar. Eu me perdia no meio delas quem sabe tentando tocar e sentir a caricia do seu frescor? Do seu calor? Do seu brilho? Eu gostava de contar estrelas... Ainda Escoteiro eu adorava deitar na relva e ver aquele espetáculo que só Deus pode explicar. Passei noites acordado olhando para elas!

                      Eu sempre gostei de contar estrelas, aquelas que moram lá no céu. Contei estrelas em lugares incríveis, montanhas impossíveis, picos indecifráveis. Sempre descansando a cabeça na grama, em uma pedra, ou a velha mochila companheira de aventuras. Fui ao mais alto pico do Caparaó e não contei estrelas. O céu encoberto de nuvens não me deixou contar. Pensei que naquele dia as estrelas quem sabe envergonhadas se escondiam por trás dos astros distraídas, e eu relutante ali a olhar para o céu e só via a bruma branca, opaca não me deixando ver.

                    Eu gosto de contar estrelas... Uma, duas, três, quatro... Foram tantas! Em Itatiaia um espetáculo inesquecível. Nas Montanhas do Morcego elas perdiam de vista. Nas planícies de Crenaque eu me esquecia de dormir. No lago do Enforcado era um imaginável chão de estrelas a salpicar nas asas cinzentas o colorido de um brilho de uma noite sem lua. Deus criou tudo em sete dias? Tantas estrelas no céu e eu nunca consegui saber quantas são. Perfeição do criador. Criou tantas coisas lindas, criou o nascer do sol, o por do sol se escondendo no mar imenso. O vento! Sim o vento amigo que nos acaricia o rosto no sol escaldante. Será que ele acaricia as estrelas?

                    Eu gosto de contar estrelas... A vida não para. Fui crescendo e homem me tornei e a idade não mais me deixou contar estrelas. Hoje as procuro no céu claro da minha morada e não as vejo. É, moderno isto. A luz do homem ofusca a luz de Deus. Não se pode mais contar estrelas nas grandes cidades, mas eu não desisto. Vou continuar insistindo e um dia quero de novo deitar na relva, próximo a um fogo adormecido onde as fagulhas relutam em subir aos céus, quem sabe para não atrapalhar a maravilha do firmamento e eu então começarei do zero, de novo a contar estrelas... Uma, duas, três quatro...

                    Hoje vou dormir pensando nelas.  Pensando quantos como eu um dia tiveram a felicidade de contar estrelas. Seria o mundo mudado? Ninguém mais se importava com elas? Os meninos e as meninas não contam mais estrelas? Ah! Como eu gostaria de ser pequenino perdido em uma montanha, deitar na relva e olhar para o céu estrelado, sentindo o zunzum dos cometas que passam e não pedem passagem e somem em uma parte perdidos no meio das estrelas.


                     Deito, coloco as mãos fechando meu pensamento. Olho para o teto do meu lar onde durmo, abre-se uma fenda e vejo o céu. Não sei se estou dormindo ou se estou contando as estrelas... Uma, duas, três, quatro... Eu amo contar estrelas...

Nota de rodapé: - Se as coisas são inatingíveis... Ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

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