Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

sábado, 13 de janeiro de 2018

O papel do Chefe Escoteiro. Por Lord Baden-Powell.


O papel do Chefe Escoteiro.
Por Lord Baden-Powell.

                          Quando vejo um Grupo desfilar bem, mas não ser capaz de seguir uma pista ou de cozinhar as suas próprias refeições, vejo logo que o Chefe não é um bom Chefe Escoteiro. O Chefe indiferente ou com falta de imaginação acaba sempre por cair nas formaturas, paradas e desfiles como único recurso.

                        A atitude do Chefe é da maior importância, já que os rapazes moldam os seus caracteres em grande parte a partir do dele; o Chefe tem, pois, a obrigação de ter uma visão do seu cargo mais ampla do que se baseada em critérios meramente pessoais, e de estar disposto a sacrificar os seus próprios sentimentos para o bem do conjunto. É isto a verdadeira disciplina.

                      O segredo do sistema Montessori é que o professor apenas organiza o trabalho, sugere a ambição, e a criança dispõe de inteira liberdade na realização do objetivo visado. Liberdade sem objetivo organizado seria o caos. É sem dúvida por isto que o Escotismo tem sido definido como a continuação do sistema Montessori com rapazes.

                   O papel do Chefe de Escoteiros é orientar para o bem o entusiasmo do rapaz. Só pode esperar ter verdadeiro êxito como Chefe de Escoteiros aquele que souber ser o seu “irmão mais velho”. O “comandante” não vale nada, e o “mestre-escola” está condenado ao fracasso. Por “irmão mais velho” entendo alguém que sabe viver com os seus rapazes como camarada, participar nos seus jogos e rir com eles, e conquistar-lhes assim a confiança; alguém que consegue assim colocar-se na posição - indispensável para quem pretende ensinar - de guia, daquele que através do seu próprio exemplo os conduz pelo bom caminho, em vez de ser uma simples tabuleta de sinalização, com frequência demasiado acima das suas cabeças, e que se limita a apontar uma direção.

                 Mas que as minhas palavras não sejam mal interpretadas: não se suponha que eu quero que o Chefe seja um «mole e um sentimental»; bem ao contrário, a camaradagem exige firmeza e retidão, para que o seu valor seja duradouro. Não quero que os Chefes de tropas se sintam de modo algum manietados por tradições, regulamentos e programas.

                 A sua experiência e imaginação pessoais, o seu ardor juvenil e a sua compreensão das almas infantis serão os seus melhores guias. A Chefe de Guias bem sucedida nunca empurra - toma à dianteira.

Para ser um Chefe Escoteiro eficaz, um homem tem de ser apenas um homem-rapaz, isto é:
1) precisa de estar animado do espírito do rapaz, e de ser capaz de se colocar ao nível dos rapazes, em primeiro lugar;
2) precisa de compreender as necessidades, modos de ver e aspirações das diferentes idades da vida do rapaz;
3) precisa de tratar mais com o rapaz individualmente do que com a massa;
4) precisa depois de promover o espírito de corpo entre os seus rapazes, para alcançar os melhores resultados.

                    O Chefe Escoteiro precisa de não ser nem mestre-escola, nem oficial comandante, nem cura, nem instrutor. Precisa de se colocar no lugar de irmão mais velho, isto é, ver as coisas do ponto de vista do rapaz e orientá-lo, guiá-lo e entusiasmá-lo na direção correta. Como o verdadeiro irmão mais velho, precisa de compreender as tradições da família e procurar que estas se mantenham, ainda que seja necessária grande firmeza.

                        O Chefe Escoteiro que é o herói dos seus rapazes possui uma poderosa alavanca para o desenvolvimento destes, mas ao mesmo tempo assume uma grande responsabilidade. A tarefa do Chefe Escoteiro é como o golfe, ou a ceifa, ou a pesca à mosca. Quem se apressa não chega ao fim, pelo menos não chega com o resultado que se obtém com um andamento alegre e calmo.

                      Os princípios do Escotismo estão todos certos. O êxito da sua aplicação depende do Chefe e do modo como ele os aplica. É claro que o Chefe Escoteiro se encontra em desvantagem se comparado com o oficial que tem o seu manual de instruções, ou como o mestre-escola que possui o seu livro de texto para seguir.

                           O Chefe Escoteiro não dispõe de nenhum auxiliar externo; tem de extrair o que pode do “Escotismo para Rapazes” e do “Auxiliar do Chefe Escoteiro”, mas na realidade é na sua própria imaginação que ele tem de confiar, combinada com o seu conhecimento do rapaz. Ele tem, no entanto, um auxiliar valiosíssimo, que é o desejo que o rapaz tem de ser Escoteiro.

                             O espírito do rapaz está sempre presente, e vem ao nosso encontro a três quartos do caminho; não o esmaguemos, saibamos desenvolvê-lo e dar-lhe os 25% que faltam para refazer Espírito Escoteiro na sua plenitude - e aí temos!
Do Livro Rastros do Fundador de Baden-Powell of Gilwell.


Nota: - Serás mais feliz se procurares deixar o mundo um pouco melhor com a tua passagem por ele. Um passo a dar nesta direção, como pai, consiste em fazeres do teu filho um homem melhor do que você. O velho Sócrates dizia a verdade ao afirmar: “Homem algum pode ter propósito mais nobre do que aquele que se preocupa com a educação correta não só dos seus, mas também dos filhos dos outros homens”. 

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