Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Conversa ao pé do fogo. O Pernilongo, a Muriçoca, o carrapato e outros bichos.




Conversa ao pé do fogo.
O Pernilongo, a Muriçoca, o carrapato e outros bichos.

Prólogo: - Falando em muriçoca, pernilongo, maruim, carrapatos e etc. sempre é bom lembrar que Escoteiro não anda voa! Escoteiro não ri, dá gargalhadas! Escoteiro não chora, dá pernadas na dificuldade! Escoteiro não tem medo, luta até a morte! Escoteiro não corre dos insetos ou animais peçonhentos, enfrenta-os com seus caratês e golpes mortais. Eu eim? 

           Isto é coisa do demônio, dizia a Chefe Mercedes. Chefe “gente boa” a Chefe Mercedes. Entrou com idade avançada e logo conseguiu sua Insígnia de Madeira. Nos acampamentos detestava os insetos que ela chamava coisas do Demônio. No primeiro acampamento os pernilongos se deliciaram. Ela jura que ouviu eles dizendo: - “tem carne nova no pedaço”! - Em outro uma “tropa de carrapatos fez dela seu ninho"! Risos. Eu dizia que para tudo tem jeito, mas ela não acreditava. Vado Escoteiro eles são escolados e cada um tem sua maneira própria de morder e chupar o sangue dos pobres dos escoteiros e dos pobres chefes. Coitada da Chefe Mercedes seu braço ficou todo mordido e suas pernas também, pois adorava uma calça curta. Risos. Eu sabia que eles são danados. Chupam o sangue e adoram sangue novo no pedaço. Dizem que os jovens ficam tão encantados com o campo que se esquecem de tudo e os pernilongos e carrapatos se deliciam.

          Acampei muito em minha vida. Sem falsa modéstia mais de 700 noites de acampamento. Nunca gostei muito destes “bichos”. Insetos chupa sangue não é o meu forte. Mas fazer o que? Dizem que tem Chefe que gosta. Cacilda! - Nunca esqueci um morcego próximo à gruta de Maquiné que se deliciou com meu sangue. Pudera, eu estava morto de cansado e dormi feito uma pedra. Bebeu pouco menos de um litro! Eu sei que hoje a modernidade trouxe o repelente, na minha época não tinha. Dava cinco e meia da tarde e era ver onde soprava o vento para fazer um foguinho com folhas verdes, estrumes de boi e cavalo. Um bom fogo cheio de folhas verdes, e ficávamos livres deles por algum tempo. Enfrentar a fumaceira nos olhos e chorar era melhor que ser mordido. Uma vez descobri que o pernilongo do acampamento e o da cidade são diferentes. O do acampamento atacam, mordem e você sente logo. Dizem que os piores são os maruins. Com um raminho na mão a gente os espanta, mas tem de ficar abanando sem parar. Os da cidade são covardões vivem escondidos em baixo da cama ou de um móvel qualquer.  Primeiro zumbem no seu ouvido e somem. Você acorda com uma coceira danada. Você sabe, ele encheu a pança do seu sangue e vai se refastelar na parece do quarto sem se incomodar com você.

           Lembro-me de um acampamento com a tropa sênior próximo ao Rio São Francisco em uma mata beirando o Rio das Velhas. Lugar maravilhoso. Lago piscoso e lindos pássaros migratórios a fazerem acrobacias fantásticas no rio e nas lagoas próximas.  Era uma fazenda enorme e com uma bela floresta nas suas margens. Perfeito para um grande acampamento.  O capataz da fazenda nos preveniu. Olhe Chefe, lá a noite é um inferno. Das cinco e meia as sete ninguém aguenta, as muriçocas são sedentas de sangue. Rimos dele. Não sabia que éramos uma tropa dos valentes e intrépidos seniores aqueles que cantam dizendo que matam e arrebentam. Primeiro dia, barraca, algumas pioneirias, uma mesa e deixamos do lado centenas de boas folhas verdes. Que venham estes malditos demônios, dissemos. Vão enfrentar uma tropa que não tem medo de nada! Quem vier morre!

           Seis horas o inferno desceu do céu e ficou entre nós. Não era um, não eram dois e sim milhões deles. Você olhava e via aquela nuvem cinzenta e preta e não havia onde correr. Mas corremos. Primeiro pulamos no rio e não dava para cobrir o corpo todo, então corremos até a sede da fazenda, mais de quatro quilômetros. O capataz riu a valer. Voltamos ao campo lá pelas nove da noite. A paz desceu a terra! Mas desistimos de dormir ali. Procuramos uma área próxima à fazenda e lá ficamos. Mas querem saber de uma coisa? Pernilongo e muriçocas avisam quando vão atacar e quando não avisam pelo menos a gente só coça. Risos. Mas e o danado do carrapato? Este sim é o satã em pessoa. Não grita, não canta, não fala e procura o pior lugar no seu corpo para se esconder. Fica lá dias e dias sem dar bandeira. O danado sabe como chupar o sangue. A principio uma coceira gostosa. Você coça e para. Até o dia que descobre o bicho gordo, cheio de sangue como a dizer a você – Seu Escoteiro idiota chupei seu sangue e você nem viu! Agora posso morrer feliz! Risos. E morre mesmo. Você tira o bicho gorducho, mete unha com unha o sangue espirra e o danado morreu. Você é sênior, não perdoa, mata!

             Para dizer a verdade nunca levei repelente. Achava que se os heróis da floresta, os índios os bravos sertanejos e os mateiros não usavam eu também não o faria. Mas dizem e não sei quem disse que isto não é coisa de escoteiros. Quem ainda não enfrentou saudáveis pernilongos, alegres muriçocas, carrapatinhos gentis, e aranhas negras e lindas nas suas teias nas florestas à noite no rosto, dançando ou rindo de você? Se isto não aconteceu desculpe. Você ainda não foi batizado de herói da floresta. Meus amigos, quantas coisas contamos para nossos escoteiros para reafirmar aquilo que ele é. – Escoteiro não anda voa! Escoteiro não ri, dá gargalhadas! Escoteiro não chora, dá pernadas na dificuldade! Escoteiro não tem medo, luta até a morte! Escoteiro não corre dos insetos ou animais peçonhentos, enfrenta-os com seus caratês e golpes mortais. Eu eim? Sei não. Coitado do Escoteiro quando dizem isto para ele. Ele vai ficar assustado. Sabe que nem seus super heróis são assim. Sabe que ele é humano como os outros. Eu prefiro dizer calmamente que ele não se preocupe com as dificuldades, elas passam. Costumo dizer que se tem amor no coração, sabe ser fraterno, se você sabe sorrir com o zumbido da noite, sabe apreciar o orvalho de madrugada, você é um Escoteiro. E quem venham os malditos carrapatos e pernilongos filhos de Satã!

- Quanto a Chefe Mercedes hoje mora no céu. Nunca desistiu e a gente se divertia a noite com ela de tantos tapas que dava na perna, nos braços e no pescoço. A gente oferecia um raminho e ela dizia que aquilo não era coisa de escoteiro. Então tá! E viva os pernilongos! Viva as muriçocas! Bem vindos os carrapatinhos espertos! No fundo no fundo sou Escoteiro e adoro-os!  Bichinhos do Senhor. E quem vive sem eles? Um dia me disseram que quem tem medo de pernilongos, muriçocas, carrapatos, aranhas negras e lindos morcegos negros não é Escoteiro. Sei não. Se for verdade acho que não sou, pois detesto estes insetos. Mas se Deus os criou deve ter um motivo e só pode ser pagar nossos pecados aqui na terra. E viva os insetos da floresta, sem eles a vida lá não tem sentido!

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