Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. O sonho da formação escoteira. De São Paulo para o Brasil e o Mundo.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O sonho da formação escoteira.
De São Paulo para o Brasil e o Mundo.

... Estava pronto para montar e publicar um artigo sobre o Sistema de Formação de Adultos e seu processo atual de aprendizagem pelo voluntário recém-chegado ao Escotismo. Eis que me deparo com um relato interessante desde os primórdios do Escotismo paulista. Porque não publicar?

Foi em São Paulo que surgiu em 1914 a primeira entidade escoteira de caráter nacional: - “ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESCOTISMO” – (A.B.E). Seus mentores foram Mário Sérgio Cardim, Júlio Mesquita e Olavo Bilac. Foi Mário Cardim que selecionou dentre várias opções, a denominação “Escoteiro” e o lema “Sempre Alerta” traduzidos dos termos originais em inglês “Boy Scout” e “Be Prepared”. Finalmente, em 29 de novembro de 1914 foi realizada a cerimônia de fundação da A.B. E no “Skating Palace”, na Praça da República Numero 59. Nesta ocasião com a presença de 450 escoteiros. Foram aprovados os estatutos e eleito o Conselho Superior com mandato até 1919. Mais tarde esse conselho se reuniu e elegeu a diretoria sendo o primeiro presidente o Dr. José Carlos de Macedo Soares.

Foi o primeiro estopim para que os demais estados brasileiros tivessem sua associação escoteira. Apesar do sucesso a iniciativa da A.B.E ainda estava muito distante dos princípios escoteiros concebidos por Lord Baden-Powell. Suas características eram fortemente ligadas ao militarismo e subvencionadas pelo estado. Consequentemente a fraternidade escoteira mundial não reconhecia a iniciativa da A.B.E e tantas outras como escotismo. Paralelamente, também sob a inspiração de Mário Cardim, era organizado o Escotismo Feminino (aqui cabe uma pequena nota: - O Bandeirantismo surgiu depois, baseado nos mesmos princípios, e por bastante tempo os dois existiram simultaneamente). Em 1915 a A.B.E já tinha representante em seis estados. Em 1º de Setembro Mário Cardim realizou uma viagem a então Capital Federal em companhia de quatro escoteiros uniformizados, e foram recebidos pelo Presidente da Republica, Venceslau Brás e pelos ministros. Eles visitaram os principais jornais e aproveitaram para divulgar o Escotismo.

Em 1916 foi organizada a primeira Escola de Chefes sob a direção do Ten. Cel. Pedro Dias de Campos da Força Pública do Estado de São Paulo. Ele foi figura fundamental nesses primeiros dias e por muito tempo permaneceu na direção do Escotismo da A.B.E. Não podemos esquecer e colocar em posição de destaque Benevenuto Cellini dos Santos, autor do “Emendário de Escoteiros”, livro de instrução técnica para escoteiros e autor da letra do “Rataplan do Arrebol” hoje hino da União dos Escoteiros do Brasil. Nesta época o movimento escoteiro expandiu-se bastante, tanto que na década de 1920 chegou a haver cerca de 100.000 escoteiros. Logo após a I Guerra Mundial, foi notável a ação dos escoteiros prestando serviços auxiliares durante o surto de gripe espanhola, que vitimou milhares de pessoas no Estado e São Paulo.

Em 1917 é fundada no Rio de Janeiro a “Associação de Escoteiros Católicos do Brasil” na paróquia de São João Baptista da Lagoa por iniciativa do monsenhor André Arcoverde, vigário da Paróquia, Cônego Dr. Carlos Manso e os Srs Edmundo E. Lynck, Rodolfo Malempre e o Dr. Joao Evangelista Peixoto Fortuna. Essas Associação foi à primeira iniciativa propriamente dita que seguia os princípios puros do escotismo, tanto que em 1921 foi reconhecida internacionalmente pela Organização Internacional Escoteira como a primeira e única entidade escoteira no país. Em 1920 Rodolfo Malempre mudou-se para São Paulo onde liderou diversas iniciativas de escotismo em São Paulo com a fundação da “Boy Scouts Paulistas” em 23 de setembro de 1923 com a ajuda do monsenhor Francisco Bastos, vigário da Igreja da Consolação. Começou aqui a primeira iniciativa do verdadeiro escotismo em São Paulo, ligada a uma Associação Reconhecida internacionalmente e que seguia todos os princípios concebidos por Baden-Powell.

Em 1922 foi realizada uma homenagem ao Centenário da Independência nos campos do Ipiranga com a presença de dez mil escoteiros. Nesta época passaram a ser realizados os “Raids Pedestres”, nos quais os escoteiros percorriam grandes distancias a pé. Foram realizados “Raids” em Natal – São Paulo, Recife, Niterói, Belo Horizonte e Porto alegre entre outros. Entre 1920 e 1930 o Escotismo em São Paulo foi fortalecido pela ação da Secretaria de Estado da Educação que encampou a pedagogia escoteira no curriculum escolar e passou a oferecer nos estabelecimentos de ensino a prática de “Escotismo Escolar”. A intenção era agregar os ideais de Baden-Powell na formação da juventude e assim houve uma grande expansão do escotismo no estado. Nesta época existiam diversas associações escoteiras espalhadas pelo Brasil que com o tempo foram se unindo a nova entidade de caráter nacional, fundada no Rio de Janeiro em 4 de novembro de 1924 e que até hoje dirige os Escoteiros: - a União dos Escoteiros do Brasil.

Em 1940 o Estado Novo criou a “Juventude Brasileira” (de cunho fascista) e incorporou todas as organizações juvenis por decreto, inclusive o escotismo. A “Boy Scouts Paulistas” alterou seu nome para “Associação de Escoteiros São Paulo” devido à proibição de nomes estrangeiros, e se negou a participar de atividades de cunho político. A Associação foi fechada pelo DOPS (Departamento de Ordem Politica e Social), seu Chefe geral foi detido e interrogado, mas não permaneceu preso por interferência de altas personalidades, dando-lhe então liberdade condicional. Durante os dois anos seguintes a Associação de Escoteiros de São Paulo funcionou na clandestinidade, os mais jovens foram dispensados, mantendo-se apenas os Pioneiros (Rover-Scout) e chefes, que continuaram a se reunir e acampar, usando os uniformes apenas no campo.

Em 1942 a Associação de Escoteiros de São Paulo foi oficialmente reaberta e com enorme influência regional, nacional e internacional. Esta época se destacaram pelo apoio em diversas ações como: - Organização do 1º Curso da Insígnia da Madeira com a participação dos maiores dirigentes nacionais e de países vizinhos. – Implantação do esquema internacional de adestramento de “Gilwell Park”. – Nomeação dos primeiros quatro diretores para a formação da equipe de Adestramento, para cursos da Insígnia da Madeira. Tais nomeações foram feitas pelo Bureau Internacional de Escotismo e por Gilwell Park, o Centro mundial de adestramento. Participação de Chefes da Associação em cursos de formação de Escotistas na Inglaterra e nos Estados Unidos. – Organização de Cursos da Insígnia da Madeira e outros em diversos países da America Latina, inclusive na Jamaica e Estados Unidos, liderados pelos nossos Escotistas.

Por volta de 1946, ainda por exigência do governo federal as unidades escoteiras passaram a se denominar Grupos Escoteiros ao invés de Tribos como se chamavam na época. Em 1954 em comemoração ao 4º Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo foi realizado o “Acampamento Internacional de Patrulhas”.

Continuaremos proximamente.

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