Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

sexta-feira, 30 de março de 2012

Chefe valeu a pena?



Chefe valeu a pena?

Para mim sim, e acho que no seu caso valeu também. Valeu mesmo. Cheguei a uma conclusão. Não devo parar. E você também. Os que não acreditam no escotismo de BP podem dizer e fazer o que quiserem. Eu continuarei a bater na mesma tecla. Sei que a trilha não é fácil, mas quantas trilhas eu percorri? Quantos caminhos me perdi? Desci a Serra do Mar e levei quatro dias para chegar ao litoral, (e não pedi ajuda) me perdi ao subir na Serra da Piedade e não desisti. Cai em minas velhas de ouro sem saber aonde iam dar lá pelas bandas de Ouro Preto. Percorri grutas em Lagoa Santa sem guia para me guiar. Fiquei cinco noites no Pico da Bandeira pensando em descer do outro lado e me enrolei. Desci em uma jangada feita de “piteiras” secas o Rio Doce por mais de cem quilômetros e quase morri afogado. Acredito que a minha velha “Silva” de guerra me ajudou a sair de poucas e boas enrascadas.

Mas e daí? Dai que vou brigar eternamente pelo escotismo de aventuras. Acredito nele. Tive o prazer de fazer uma ponte com a Patrulha que serviu a toda uma comunidade. Foram oito dias e mais cinco em duas etapas. Precisavam ver o sorriso deles. Já dormi em muitas barracas suspensas nas mais altas árvores. Riram quando disse que fazia muitos nós de olhos fechados e até na boca com barbante. Para que isso serve meu caro Osvaldo disseram. Para sentir-me orgulhoso de mim mesmo. Alguns acham que nesses tempos usar um canivete Escoteiro não vale a pena. A faca é um enfeite. Aprender a afiar ou achar o fio da lâmina na faca, facão ou mesmo da machadinha não é mais necessário. Dizem - Os tempos são outros. Pode ser. Mas eu lhe pergunto meu caro, já lavou panelas em um riacho distante? Chovendo? Sem Bombril e sabão? Não? Ainda tem muito que aprender.

Se hoje eu fosse hoje um jovem, mesmo com toda essa modernidade, não trocaria um Jamboree pelo acampamento que fiz na Mata do Morcego. Oito dias. Só levando sal e óleo. O resto que se vire. E nos viramos. Não trocaria uma jornada de bicicleta por mais de 600 quilômetros percorrendo três estados com duas patrulhas seniores. Não trocaria nunca as centenas de noites de acampamento onde aprendi tantas coisas. A velejar em sonhos pelo espaço sideral, atrás das Três Marias, do Escorpião, Andrômeda, Ursa Maior, ver a Coroa Boreal, o Cruzeiro do Sul, a Cabeça de Cavalo e outras centenas de constelações.

Você já serrou uma árvore? Aprendeu a usar o traçador? Ora, ora para que isso nos dias de hoje? Construir um Ninho de Águia? É piada? Um "Chefe" Escoteiro me disse que a possibilidade de se perder em uma floresta é a mesma que acertar a Mega Sena.  Isso é perda de tempo me disseram. Esqueça como fazer macas, usar o lenço como tipoia ou em diversas formas de socorro, isso não precisa mais. Ligue no seu celular para o Samu ou similar e pronto. Logo tem gente para socorrer. E se alguém por acaso tiver uma fratura no acampamento, não precisa se preocupar. Não faça de modo nenhum um torniquete ou uma tala. Já sabe. Ligue 191. Agora você está coberto com o seguro escoteiro.

Cobras venenosas? Esqueça. Você só vai ver em fotos ou no Butantã. A vida delas, o que fazem, onde moram, quais as que atacam quais as venenosas não importa. Agora você vai com todo mundo acampar em um campo de futebol, próximo a uma fazenda, ou num parque pronto para isso. E lá estará o seu "Chefe" Escoteiro a dizer o que fazer e o pior, se ele resolver fazer por você. O que? Fazer um frango no barro? Ovo no espeto? Arroz sem panelas? Ou quem sabe fazer um belo forno de campo para deglutir um delicioso bolo de Chocolate? Ou gostosos biscoitos de polvilho ou amanteigados? Pescar? Que isso companheiro. Não precisa mais. O peixe vai ser levado no carro do "Chefe" Escoteiro. Lavar nossas roupas? Passar com elas esticadas em pioneirias próprias para secagem? Tudo mudou me dizem. A Patrulha fica numa “boa”. Elas não cozinham mais. Os panelões que os pais levam resolvem tudo. E eles mesmos cozinham. Risos.

Mas mesmo com tudo isso eu garanto, se fosse jovem hoje não trocaria nunca a vida que vivi em minha Patrulha. Onde decidíamos. E ninguém decidia por nós. Andávamos com nossas pernas e não era o "Chefe" Escoteiro a fazer tudo. Tempos do passado que poderia ser do presente. Ainda me dizem que tudo mudou. Hoje é um escotismo moderno. Moderno? Onde dizem onde pisar e o que devemos fazer? Afinal pensamos ou fingimos que pensamos? Fico a imaginar no fazer fazendo de BP.  Em deixar que o jovem seja responsável pela sua formação. Agora não o "Chefe" Escoteiro virou um professor. Um pedagogo. Tem assessor, tem curso para aprender normas, estatutos e tantas “cositas, mas”.

Asseguro, no entanto que valeu a pena o meu passado. Valeu minha discordância em tudo que os dirigentes fazem por todos, sem consulta direta a quem de direito, a resolver em nome de muitos qual o melhor caminho. Como se eles fossem os únicos que sabem o caminho para o sucesso. Valeu meu mote da democracia Escoteira, valeu os bons fluidos que escrevi dos meus contos escoteiros. Valeu meu aprendizado de Morse, e que nas Semáforas consegui bater meu recorde de 45 letras por minuto. Valeu os dias que transmitimos de morros distantes por horas e horas, em um grande jogo inesquecível. Valeu dormir sobre as estrelas, das pioneirias que fizemos. Uma época que sabíamos fazer em qualquer tempo uma oca, uma taba. Fabricar arcos, flechas e jangadas era para pata tenras.

Não sei se valeu minhas 34 especialidades. Muitos disseram que eu não merecia. Outros disseram que meus cursos de IM de lobos, escoteiros, Chefe de grupo e dois avançados não vale tanto assim hoje. Não vale minha biblioteca escoteira com mais de cem livros escoteiros. (li todos) Também não valeram os mais de 200 cursos que colaborei e dirigi. As viagens que fiz pelo Brasil e Exterior. Acho que não valeu mesmo. Agora sem poder andar junto com os outros só posso dizer, vou continuar minha senda. Senda de poder pensar, digitar e ter onde postar o que sinto. Esta agora é minha sina, meu único elo onde posso mostrar e colocar temas para que o escotismo não siga um rumo sem volta e um dia se perder na memória do tempo.

Como nas minhas histórias, ainda vou viver meu último acampamento. Quero sentar numa rocha e ver o horizonte. Sentir o vento acariciar meu rosto naquele pico distante. Quero ficar ali até o sol se por em uma tarde de outono. Quero ver a passarada cantar nas árvores das florestas distantes. Quero ainda encontrar a Coruja Buraqueira a me olhar com seus olhos sonhadores. E se possível deitar na relva e olhar as estrelas no céu, pois se falo tanto delas pretendo incrustar na minha mente essa visão celestial. Quero viver o sonho de esperar o dia amanhecer. Olhar no horizonte e ver o sol nascer. Sentir o orvalho cair e molhar minha face. Ver o sol chegar de mansinho e olhar a gota d’água brilhante presa num fio quando o sol quente a encontrar. E então direi, Valeu amigo. Valeu mesmo. Agora posso sentir o perfume das flores do campo e partir em paz. E neste caminho torço para que você também fique todo o tempo que fiquei no escotismo e ao chegar à minha idade poder dizer como eu – Valeu! E se valeu!  

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