Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Fraternidade



Fraternidade

  Numa noite fria de inverno, lá pelo final do mês de junho, na casa do “Velho”, eu ele e a vovó deglutíamos um delicioso bolo de chocolate (o estômago do “Velho” não suportava, mas o teimoso insistia) e mantínhamos um agradável “tête-à-tête”. Minha mente ia acompanhando o desenrolar dos assuntos e simultaneamente admitia que o destino nos coloca frente a frente com um novo ponto de vista, com novos amigos e passamos a ver a vida de outra maneira. Eu era Escotista há oito anos, mas achava que era novo em meus conhecimentos e a cada dia mais e mais aprendia com o "Velho". Agora via também a Vovó de outra maneira.

  “Ora meu “velho”, você não é assim, quer mostrar uma carranca de durão, mas no fundo é um sentimental como todos nós “- falou a vovó”. - Hum - Hum ! fungou o “Velho” - “ Amizade se conquista”. - Certo, continuou a vovó , - “quantas e quantas pessoas você conheceu e como eles trouxeram infinitas alegrias para você!

  - “Nem tanto mar, nem tanto terra”- continuou o "Velho". - Deixe disto, - abra o seu coração e procure lembrar-se de todos que de uma maneira ou de outra foram seus amigos. Continuou a vovó. - “Amizade não é do jeito que queremos e sim da maneira com que a aceitamos”. - Vovó sorria com ternura e quando ela sorria uma áurea brilhante clareava a sala, já na penumbra do lusco fusco da tarde, naquele final de inverno frio e chuvoso.

  - “Velho”- disse eu, - quase não vejo ninguém em sua casa. Fica sentado em sua poltrona, fumando seu cachimbo esperando e esperando. O que espera? Você não acha que seus amigos também têm seus problemas e como você não dá o ar da graça, também não retribuem? Pensam que você os esqueceu! - Levanta e vá procurá-los. Verá a alegria deles em recebê-lo.

  O “Velho” piscou, deu “mil baforadas” piscou outras vezes, desprezando o que eu disse e falou para a vovó como seu eu não estive ali. A Vovó sempre dizia ao "Velho" que muitas vezes temos que procurar nossos amigos em vez de esperar que nos procurem. Veja o caso daquele casal - falou a vovó - Você sabe que não é bem assim. E vovó passou a contar a historia de uma grande amizade dele e como ele mantinha uma ternura toda especial com aquele casal.

E depois? Você simplesmente só esperava em casa a visita deles. - “Nem tanto assim, falou o “velho” - querendo demonstrar que a amizade era igual a todas que achava possuir”. Meu tempo é curto - Falou o "Velho". - Curto? "Velho" você não faz nada. Fica de um lado para outro e nem se toca que os outros também sentem sua falta. - comentou a vovó.

  - Não é só eles com quem o “velho” tem uma grande amizade. Existem outros. Vovó ficou séria e continuou. - Fraternidade, amizade e outros adjetivos são bonitos na palavra dos outros, mas nunca quando sentimos que estamos falhando com elas. Quantas vezes o “velho” falou em seus cursos, em suas idas e vindas na “Grande Fraternidade Escoteira”. Isso existe? - Claro que existe! - Mas não da maneira com que queremos ver. Os outros também tem suas necessidades, seus tempos corridos e a vida é uma labuta que nos empenhamos a cada minuto. Quem quer “anda” quem não quer “manda”. - Vovó era um pouco radical com o “Velho", mas acho que ele tinha que ouvir.

  O “velho” ficou calado e cabisbaixo. Talvez a lembrar do seu passado e quantas pessoas ele conheceu e conviveu. Até a alguns anos atrás ele recebia muitos amigos e correspondências. Mas estas rarearam até desaparecer de vez.

  Fiquei pensando como falamos tanto em fraternidade no Escotismo. Será que ela existe mesmo? Ou é algo de momento? - Poderia até imaginar quando não estivesse mais de uniforme e comparecesse em uma atividade qualquer, se seria recebido da mesma maneira. Seria? - Não sei não.

  Vovó parecendo adivinhar meus pensamentos, falou: - Não só no Escotismo a palavra Fraternidade é comentada constantemente. Para alguns significa muito e para outros significa pouco. O importante é o que sentimos diante dela. Ser fraterno é dar sem receber, esperar que os outros façam primeiro não significa que sou fraterno. Fraternidade é sentida e usada em todas as situações com todos que querem ser fraternos. Podem ser poucos, mas são verdadeiros.

Você conhece um Escotista que pratica a fraternidade só por vê-lo em atividade. Está sempre com um sorriso nos lábios. Ajuda em tudo e não espera que os outros peçam a ele para ajudar. Não reclama, sabe dar um abraço sincero e não deixa de ligar para você perguntando como vai. Quando ele não vem ao grupo você sente logo sua falta. Quando encontra com outros escotistas todos perguntam por ele. Nós temos graças a Deus ainda um grande número de pessoas fraternas. O Escotismo é um meio de chegarmos até elas e sermos como elas, meios repito e não o fim. Como dizia o “Velho” qualquer um pode entrar no Movimento Escoteiro, mas ser escoteiro não é para qualquer um.

  Vovó acertou no alvo. Até o “Velho” sentiu fundo suas palavras. Ele sabia como ninguém que fraternidade é para ser sentida no coração e na mente e não para ser comentada como se fosse um artigo a venda só para impressionar. Amizade não se acha, mas se conquista.

  E no final daquela tarde, onde o frio e a chuva fina que caia dava um ar especial aos meus pensamentos sentia que era como uma benção ter amigos e saber conservá-los.  Meu ser, minha mente buscava em todos os pontos os sonhos de ser feliz. Dei-me ao luxo de lembrar-se de uma oração conhecidíssima dos escoteiros, e que nem sei por que me veio à mente para recitá-la:

“Senhor ensinai-me a ser generoso, a servir-vos como mereceis, a dar sem contar, a trabalhar sem descanso, a sacrificar-me sem esperar outra recompensa, que faço segundo a sua vontade”.

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