Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A história de Natalie escoteira, uma Condensa do Castelo de La Possonnière.



Crônicas de um Chefe Escoteiro.

A história de Natalie escoteira, uma Condensa do Castelo de La Possonnière.


                    Conheci Natalie a muitos e muitos anos atrás. Trabalhava para uma empresa como técnico mecânico de máquinas pesadas e muitas vezes viajava em cidades por todo o país para dar assistência, treinar operadores ou mesmo até fechar alguma venda. Como Escoteiro que sou não deixava de procurar um Grupo Escoteiro nas cidades que ia. Em uma cidadezinha no interior de um estado brasileiro, me apresentei ao Chefe do Grupo que insistentemente achando que eu era um “expert” em escotismo me convidou para o período de um mês e meio que ficaria lá, a dar a ele assistência na reformulação do grupo e quem sabe na arregimentação de pais. Era uma área que dominava bem. Em todos os grupos que passei sempre fiz amizades com eles e a maioria se oferecia para colaborar como escotistas, diretoria ou mesmo instrutores de especialidades.
              No primeiro sábado que lá estive, fizemos um périplo pelas sessões e vi uma Escoteira de uns onze ou doze anos sentada em uma cadeira no canto do pátio. Enquanto todos se movimentavam ela permanecia lá, indiferente, sem se mexer e sorrindo. Era uma linda jovem, loira, olhos verdes, cabelos cor de palha, e magra. Muito magrinha. Tinha um sorriso encantador. Perguntei o porquê daquilo e ele me disse que em algumas reuniões ela sentava ali por algum tempo e parecia estar em outro lugar, vivendo outra vida e quando resolvia falar contava casos incríveis. Sempre disse que era a Condensa Natalie, nascida em 1770 na França, mais precisamente no Castelo de Lá Possonnière no Condado de Vendôme. Não entendíamos nada. Seus pais gente humilde nos pediu ajuda e ajudar como?
               Concordei com ele. Muitas vezes nós chefes nos colocamos como professores, padres, pastores, psicólogos, políticos como se fossemos super homens e somos somente um ser vivente como todos. Esquecemos que estamos ali para colaborar e não substituir alguém que pode realmente ajudar. A cidade era pequena, onze mil habitantes. Não tinha psicólogo e nem seus pais tinham condições de pagar. O Grupo aceitou, pois quando não estava “viajando” (maneira como ele dizia) era uma excelente Escoteira. Em seu colégio todos adoravam ela, mas seus professores tinham medo de suas crises. Cheguei mais perto e perguntei inocentemente onde ela estava. Incrível a sua história:
             _ Sou do Condado de Vendôme, moro no castelo de La Possonniére, meu pai é o Conde Livorno. Minha mãe morreu quando eu nasci ao dar a luz. Estou com doze anos e meu pai foi preso. Ele me contou que houve uma revolução e ele podia ser preso. Disseram que ele era da realeza, pois estavam prendendo todo mundo que participavam da Corte. Isto aconteceu no inverno de 1793 e o nosso Rei Luis XVI foi levado ao cadafalso e decapitado. Uma onda de vingança estava correndo na França. Meu pai foi preso. Morreu dois anos depois tuberculoso na prisão. Sempre achei que isto nunca aconteceria a nossa família. Éramos descendentes do Conde Pierre de Ronsar, um poeta famoso que foi dono do nosso castelo. Ela se calou. Seus olhos viraram como se fosse estrábica. Acordou de sua “viagem” como dizia seus pais e chefes e correu a brincar com sua Patrulha. Fiquei estupefato!
              Durante as duas primeiras semanas Natalie não disse nada e nem “viajou”. No hotel foi que fiquei sabendo que um menino surdo mudo de oito anos tinha desaparecido. A cidade em peso o procurava. Multidões percorriam as ruas e a noite com enormes tochas percorriam vielas, beira de riachos, rios e morros próximos. O padre rezava missa quase cinco por dia. Todas com a igreja cheia, pois pediam a Deus para que o menino fosse encontrado. O Delegado abanou a cabeça e pensou que ele já estava morto. Um filho da mãe de um estuprador de crianças. Dois dias depois no sábado fui à reunião do Grupo Escoteiro. Em dado momento Natalie correu para sua cadeira e balançando a cabeça viajou como sempre fazia. Agora dizia em voz alta e repetindo sempre - Poço do Roncador! Poço do Roncador! Poço do Roncador! Ninguém entendia nada. Ela nunca disse isto e quem sabe suas viagens estavam piorando? – Foi então que um lobinho veio dizer ao Chefe que havia um Poço do Roncador atrás da Serralheria do Bastião onde os meninos gostavam muito de brincar.
             O Chefe me chamou e fomos correndo até lá. O menino lá estava. Ainda vivo. Quase morto com água pela cintura. Eu mesmo desci pela corda e o amarrei para levantá-lo. A cidade inteira soube e correu para lá. Um grito de alegria saiu de cada um. Seus pais Riam e cantavam a mais não poder.
             Cinco anos depois voltei àquela cidade. Procurei o Grupo Escoteiro. Era outro Chefe de Grupo. Perguntei por Natalie. Foi embora disse. Seus pais não aguentavam mais a romaria que faziam em frente a sua casa. Achavam que ela poderia contar sobre parentes que já morreram outros querendo saber resultados de loteria. Um inferno. Fiquei pensando que o desconhecido para nós sempre é motivo de duvidas. A menina era “médium”. Um tipo especial. Uma grande amizade de seus anjos protetores. Uma vida no passado que não esqueceu. Mas histórias são histórias. Umas são alegres outras tristes. Mas todas podemos dizer – “São coisas da vida”!      

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