Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Crônicas de um Chefe Escoteiro. Minhas quinze horas de terror.



Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Minhas quinze horas de terror.

       Não gosto de contar histórias assim. Acham que não aconteceu e minha imaginação e fértil. Não importa. Esta é a história de Katia. Katia era guia. Da Patrulha Sete Quedas. Katia adorava o escotismo. Estava nele desde lobinha e nunca perdeu uma reunião, um acampamento. Ela, entretanto tinha um segundo amor. Orquídeas. Era louca por orquídeas. Em casa tentava fazê-las viver e rejuvenescer. Nem sempre conseguia. Tudo que escreviam ou falavam sobre elas ela lia. Ela nem bem fez quinze anos e a passaram para guia. Disseram que era uma tropa nova formada só por moças. Ela achou bom. Teria maior liberdade o que não acontecia quando sub-monitora na tropa Escoteira. Ela sabia que havia mais de trinta mil espécies de orquídeas e fáceis de cultivar em casa. Lindas, coloridas, perfumadas cabiam em qualquer lugar e como era cuidadosa duravam anos. Seus amigos e até um professor de seu colégio já tinha ido visitar seu orquidário.
       Nos acampamentos sempre tentava descobrir alguma árvore, próximo ou não de uma floresta que tivesse uma orquídea. Quem sabe descobria alguma que não conhecia. Lorena sua monitora já alertara ela diversas vezes que nunca devia sair sozinha e sempre avisar aonde ia. Claro o tempo livre era pouco e Katia não perdia tempo. Já tinha dois dias que estavam acampadas em um sitio e bem próximo uma linda mata. Ela tinha certeza que iria encontrar lá a “Phalaenopsis”, pois o ambiente da floresta com pouca humidade era próprio para isto. No segundo dia logo após o almoço sabia que haveria um tempo livre de pelo menos três horas. Não era a cozinheira e pela manhã tinha construído uma bela de uma mesa com bancos reclináveis.
        Sabia que não devia sair só, mas estavam todas tão entretidas com seus afazeres que escapuliu e se embrenhou na mata. Não andou muito. Próximo a um pequeno vale bem profundo ela avistou em uma árvore o que achava ser uma “Phalaenopsis”. Não se fez de rogada. Tirou a blusa de frio e lá foi ela arvore acima, pois tinha um bom treino em subir em árvores. Encantou-se com a orquídea. Linda, maravilhosa. Esqueceu que estava em uma arvore escorregadia. Caiu, um tombo enorme, quando batia nos galhos da árvore sentiu que um galho havia atravessado sua coxa esquerda. Na hora não sentiu nada, pois rolou em uma ribanceira caindo entre um vale onde havia uma vegetação espessa que escondia o que havia por ali.
        Agora sim, via que não podia mexer com a perna. Uma dor terrível. Um braço estava quebrado. Não podia se movimentar. Teve vontade de chorar, pois sabia que ali dificilmente iriam encontrá-la. A tarde chegou e veio à noite. Ouviu vozes e gritos tentou gritar e não conseguiu. Alguma coisa a impedia de falar. Logo o silencio da noite voltou novamente. Para Katia seria uma noite de terror.
       A Patrulha deu falta dela logo após a chamada geral. Busca daqui e dali e nada. O desespero passou a acompanhar todos os participantes. A Chefe Maria Célia ligou para os bombeiros na cidade. Não demoraram e antes do escurecer mais de vinte homens experimentados na arte de sobrevivência na selva lá estavam. Até meia noite tentaram e depois só no dia seguinte. Uma nevoa espessa e terrível tomou conta da floresta. Não se via um palmo adiante do nariz. Todos choravam. Ninguém conseguia dormir. Os pais de Katia chegaram. Ainda bem que eram calmos. Diziam confiar na filha e em Deus. Ela tinha experiência e não se deixaria levar pelo desespero. Aconteça o que acontecer.
          Miltinho tinha cinco anos. Todos o chamavam de manteiga, porque ele não sabia. Sua mãe era assistente da tropa. Não tinha com quem deixar e o levou para o acampamento. Ele dizia ver coisas. Ninguém acreditava. Coisas de crianças diziam. Chamou sua mãe. – Mamãe, eu sei onde ela está. A mãe não acreditou. Ele pegou na mão do Capitão Marquetti. – Venha comigo, eu sei onde ela está. O capitão o olhou de soslaio. Resolveu segui-lo floresta adentro. Passava das quatro da manhã. O dia ainda não tinha amanhecido. – Alí ele apontou. O capitão Marquetti desceu até a ravina. Katia estava lá. Desmaiada. Praticamente com avançado estado de hipotermia. Sonolenta não ouviu e nem sentiu a chegada deles. O Capitão Marquetti viu que seu ritmo respiratório a estava levando a uma parada cardíaca. Se tivessem demorado mais meia hora Katia teria morrido.
        Ele chamou pelo radio outros bombeiros. Levaram Katia ao hospital. Um mês depois ela estava em casa. Não houve sermões, admoestações ou ameaças. Ela voltou a Patrulha e a tropa. E agora nunca mais, mas nunca mais sairia sozinha do campo de Patrulha. Bastou àquelas quinze horas de terror para aprender a lição. Que sirva para todos os meus amigos escoteiros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário