Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

domingo, 12 de agosto de 2012

As crônicas de um Chefe escoteiro



As crônicas de um Chefe escoteiro

Ele era o meu pai – Dia dos pais? Claro, ele foi o meu herói!

                  Uma história que dedico a todos os pais. Acredito que todos nós temos uma história para contar dele. Esta era do meu. O meu pai. - Não tivemos um relacionamento muito próximo. Talvez pela época, onde o respeito e a palavra senhor fazia parte do nosso vocabulário. Pequenos momentos talvez. Ele me contou diversos fatos de sua vida. Não muitos porque se fosse hoje eu queria saber muito mais. Não foi um pai diferente dos outros e nem tampouco excepcional. Mas para mim foi aquele que admirei e admiro até hoje. Quando pequeno, não sabia o que se passava não me preocupava com o dia, a semana, o ano. Ia à escola e depois era só brincar e fazer escotismo.
               Lembro-me de uma casa que morávamos, foram tantas, esta de madeira, fundos para um rio e embaixo em um porão com piso de terra alguns pobres aproveitavam a seca do rio para ali morarem. Quando chovia o rio invadia tudo. Também éramos muito pobres, pois em volta de uma pequena mesa, sentávamos em caixotes para as refeições. Graças a Deus que nunca passamos fome. Dificuldades sim. Elas existiam e eu pequeno não tomava conhecimento. O café da manhã, o almoço e o jantar sempre existiram.
               Meu pai nesta época era Seleiro, aquele que fazia selas para cavalos e outros apetrechos afins.  Eu pequeno, 06 para 07 anos não ajudava a não ser aos sábados e domingos. Nestes dias ajudava a engraxar os sapatos de vários clientes do meu pai. Tornei-me um excelente engraxate. Não vou comentar aqui a minha vida Escoteira, hoje não vou falar sobre isto. Mas lembro do Grupo Escolar, do colégio, mas não me lembro de meu pai em momento algum me chamando a atenção ou brigando comigo. Era calmo e ponderado. Nunca me encostou a mão e por muito poucas vezes falou mais alto.
               O tempo passou e ele um dia pegou uma mala e foi embora. O motivo não fiquei sabendo. Minha mãe me pegou pela mão e disse – Vamos atrás dele. Onde estava não vivia bem. Minha mãe conversou muito com ele. O que conversaram não sei. Mas lembro da bicicleta que ele tinha e eu me esbaldei nela, caindo, montando e aprendi finalmente a andar sem problemas. Desta não esqueço nunca. Ele voltou conosco para a nova cidade.
              Nesta já tínhamos uma casinha para morar. Eu gostava de morar ali. Apesar de não ter ainda água encanada da rua, havia uma cisterna com uma bomba manual. Todos tinham como função bombear antes de sair de casa pelo menos por 100 vezes. Assim, mantínhamos a caixa cheia e o serviço feito por todos. Meu pai alugou um salão próximo ao centro. Ali montou uma oficina de rádio. Tinha estudado por correspondência e já era um perito no assunto. Achava que meu pai era muito inteligente. Tentei fazer o mesmo curso, mas não deu certo. Talvez porque não era bom aluno ou quem sabe vivia grudado no escotismo. É quem sabe. Após as aulas ia trabalhar com ele e ver se aprendia alguma coisa na prática.
             Nesta época já trocávamos ideias e ele com sua sapiência me mostrava algumas diretrizes de vida. Ética, respeito honra e responsabilidade. Era sempre assim. Conversávamos pouco. Foi ali que alguns fatos de sua vida me foram relatados, com parcimônia é claro. Contou-me quando esteve na revolução de 32 (constitucionalista). Ele esteve lá. No primeiro confronto, foi só correria. Os paulistas inventaram uma matraca que imitava perfeitamente o pipocar de uma metralhadora ponto 30. Quando começou o barulho foi um Deus nos acuda. Depois virou rotina, ninguém mais tinha medo, pois já sabiam o que era. Muitos morreram pensando que era e não era. Não contou muito de sua luta, da sua militância política da revolução enfim de muitas outras coisas que eu gostaria de saber.  Sabia que ele gostava do partido da UDN e odiava o PSD. Porque não sei. 
              O tempo passou. Ele ficou doente, quase morreu. Minhas irmãs o levaram para a capital. Lá achavam que ele teria melhores chances. Depois ficamos sabendo que era diabete. Pouco conhecida na época. Muitos anos depois, morando na mesma cidade, aos domingos me dirigia a casa dele, passava lá o dia inteiro, mas conversávamos pouco. Acho que não havia assuntos, mas quanta coisa poderia ter sabido se tivesse perguntado.
              Sua vida foi sem sobressaltos. Doente, andava aqui e ali fazendo pequenas caminhadas. O que sentia não perguntei. Devia ter perguntado. Ele nada dizia. Foi para o outro lado em uma semana qualquer. Fui ao enterro e chorei. Pensava no meu pai ali e rezei para que ele alcançasse o seu lugar lá em cima. Como espírita que sou acredito que ele não deve ter tido dificuldades para alcançar um lugar melhor para ficar. Mas cada cabeça uma sentença. Não sabemos de nada e qualquer um de nós pode sofrer consequências de atos anteriores com dividas mal pagas.
             Senti e sinto falta do meu pai. Hoje com quatro filhos e muitos netos, me pergunto por que não ficamos mais próximos. Ele era assim e acho que eu também. Ainda sou meio taciturno com os meus filhos. Herança? Não sei.  O mundo é assim. O livre arbítrio nos faz escolher caminhos que nem sempre são aqueles que deviam ser escolhidos. Faz parte do nosso crescimento.
              Um dia vou me encontrar com ele. As perguntas que não fiz a farei. Se as respostas forem a que espero ótimo se não forem paciência. Ele era o meu pai. Um homem calado, bondoso, amigo que me deixou fazer o que queria. E hoje eu sei que o amava muito. Nunca em tempo algum me fez qualquer admoestação. Que ele seja feliz onde quer que esteja e que na sua próxima encarnação encontre felicidade que merece. E quem sabe um dia voltaremos a estar juntos aqui na terra?

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