Lendas escoteiras.
O grande amor da Escoteira Nataly.
Nataly não estava acreditando. Nunca pensou em passar por aquela
situação. Namorar alguém na tropa? Nunca! O grupo escoteiro Tesouro do Mar já
teve experiências que não deram certo. Os chefes se reuniram e fizeram uma
norma. Pequena, sem muitos artigos. Aconselhava a não ter namorados entre
escoteiros e guias. Na sede e na saída era proibido. Se os pais concordassem
desde que dessem testemunho pessoal ao Chefe, o namoro em casa ou em locais
devidamente autorizados poderiam acontecer, no grupo não. Ela riu quando viu
estas normas. Era Escoteira. Dedicava de corpo e alma a sua Patrulha, suas
atividades e em tempo algum pensou em namorar alguém. Quando a norma foi
entregue a todos ela mesmo comentou com Norberto da sua Patrulha – Estamos aqui
para fazer escotismo e não namorar. Era firme nas suas palavras.
Nataly naquele setembro fez sua passagem para a Tropa Sênior. Eram
dezesseis. Seis rapazes e dez moças. Escolheu a Patrulha Pico da Neblina e ali
encontrou grandes amigos. Não esquecia sua Patrulha Quati. Sempre que podia
fazia uma visita e as amigas que lá ficaram.
O disse me disse de quem gosta de quem havia entre os seniores e guias.
Ela nunca deu ouvido para isto. Não era o que queria. Sonhava em ser Escoteira
da Pátria e este era seu objetivo maior. Gostava da tropa. Animada, com mais
liberdade de ação e de ideias. No Conselho de Tropa Sênior podia-se opinar e
sugerir. Junto com eles fora em vários acampamentos regionais e até em um
Jamboree. Mas sua preferencia mesmo era os acampamentos da tropa. Se possível
longe da cidade, terreno desconhecido e sem casas perto. Nada que pudesse
trazer a lembrança de civilização.
Tudo aconteceu no Acampamento em Agua Doce. Lindo local bem arborizado, um
riacho gostoso para banho, muitos bambus para pioneirias. Seriam quatro dias e
poderia ter sido o melhor acampamento de sua vida. Poderia mas não foi. No
segundo dia à tarde o Chefe Landinho comentava sobre orientação, percurso de
Giwell, leitura de mapa tema já discutido com o Monitor Robson da Patrulha e
ele nos dava conhecimento da jornada do outro dia. Sem querer ela olhou para
Paulo Roberto. Era um “bonitão” da tropa. Viu que ele olhava para ela e não
tirava os olhos de sua direção. Ficou sem ação. Já o conhecia, não tinham
muitas amizades fora do grupo e até na ultima “balada” na casa da Guia Marly
pouco dançou com ele.
A
noite ele se aproximou dela durante o jogo dos Feiticeiros da Morte. Perguntou
se precisava de ajuda. Obrigada disse. Foi dormir impressionada. Sonhou com
ele. Pela manhã acordou pensando nele. O amor chegava. A paixão adolescente florescia.
Nataly estava ficando apaixonada. Tentou tirar ele da sua mente e não
conseguia. Todo o acampamento para ela deixou de existir. O amor das atividades
passou a ser o amor por ele. No terceiro dia só suspirava. Seu coração batia
descompassadamente. Sua respiração quando olhava para ele acelerava. Sintomas
de uma paixão? Ou de um grande amor chegando? Nunca em sua vida pensou que isto
pudesse acontecer com ela. Afinal foram três dias de campo e tudo isso
aconteceu tão rápido assim?
Na
noite de sábado após o Fogo de Conselho as amigas se reuniram com os seniores para
um “sarau” (cantigas de roça, desafios, poesias) e sob a supervisão de Chefe
Vera ficaram até meia noite se divertindo. Paulo Roberto sentou ao seu lado. Ele
a atraia. Irresistível. Seu coração como sempre deu pulos e pulos e sentiu sua
mão suada quando ele a pegou. Era uma emoção forte demais. Ficaram rindo,
brincando e se divertindo quando foi dada a ordem de recolher. Nataly achou que
naquela noite não tinha dormido bem. Esqueceu por completo o acampamento.
Esqueceu que ia tirar a especialidade de pioneiria. Esqueceu-se de tudo. Só
pensava nele e já em plena madrugada dormiu. Sentiu um calor enorme no corpo e
acordou assustada. Rezou. Pedia a Deus para que não se entregasse tanto aqueles
devaneios.
No
último dia após a inspeção e bandeira ele lhe fez um sinal. Ela não entendeu e
ele repetiu. Subir o morro e encontrar com ele. E agora? Não sabia o que fazer
e seu coração pediu que ela fosse. Atrás do bambuzal lá estava ele. Olhar
lindo. Ele era o homem mais lindo que ela conhecera. Ele a tomou nos braços, a
beijou e ela quase desmaiou. Ouviu vários jovens rindo e batendo palmas. –
Ganhou a aposta Paulo Roberto. Disse que a beijaria e beijou. Nataly ficou
vermelha. Aposta? Maldito! E ela acreditou? Saiu correndo e chorou. E como
chorou. Sua monitora ficou preocupada. O acontecido logo, logo tomou conta da
tropa. Nataly queria morrer. Ali mesmo a Chefe Vera fez um Conselho de Tropa.
Pediu a cada um sua opinião do que tinha acontecido. Foi correto? Foi
Escoteiro? Leal? Votou-se pela suspensão de Paulo Roberto por dois meses.
Ele não voltou mais a tropa. Dizem que sua família mudou para um bairro
distante. Nataly aprendeu a lição. Por vários meses detestou todos os homens.
Mas depois sentiu que na tropa o apoio moral foi grande. Os que apostaram e
fizeram chacota pediram perdão. Eu não gosto de julgar. Sempre não fui a favor
de tropas mistas. Mas aceito que tem muitas dando bons resultados. Se esta
história serviu de lição para mim não sei. Para Nataly tenho certeza. Ela só
foi namorar firme com dezoito anos. Casou aos vinte e dois. Tem dois lindos
filhinhos gêmeos. A males que vem para o bem. As coisas ruins que acontecem
hoje conosco, podem nos ajudar e muito no futuro. Nada como ter exemplos e experiências
para achar a trilha certa. A trilha que conduz ao Caminho para o Sucesso!
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