Crônicas de um Chefe escoteiro.
Só escoteiros ainda podem viver e sentir a natureza.
Eu sei que tem muitos de nós escoteiros que tem uma queda por lugares
lindos, onde podemos sentar e ficar horas e horas sem piscar, só a observar a
paisagem, sentindo o cheiro da terra, o perfume das flores silvestres, criar
histórias, lembrar-se do seu passado tudo no mais completo silêncio. Dizem que
assim fazem os poetas, os que tiveram grandes amores, os amantes da natureza e
claro, aqueles escoteiros especiais que vivem e sonham com as campinas
verdejantes e floridas, os vales e bosques, as montanhas, as gargantas enormes,
os despenhadeiros longínquos e os picos mais distantes onde um dia assentaram
acampamento.
Eu sempre amei fazer fotos onde as paisagens se destacavam. Quem sabe
foi porque vivi ao vivo e a cores a beleza de um Escoteiro sonhador que aprecia
a vida selvagem e a natureza intacta em uma floresta qualquer. Elas as paisagens
são para mim uma maneira de me aproximar mais do criador. Sou um Escoteiro
privilegiado. Consegui viajar por este mundo de Deus e ver com meus próprios
olhos as belas paisagens que ficaram na memória para sempre.
Na
serra da Piedade, consegui um momento inesquecível. Uma vista de tirar o
folego. Estava sentado em uma pedra enorme, bem no seu cume e olhando um
infinito horizonte, e uma pequena nuvem deixou cair pequenos pingos de chuva.
Misturavam-se com o sol e o vento fazendo enormes arcos íris bem próximo a mim.
Difícil esquecer. Que espetáculo. Na floresta do Papagaio levantei cedo, abri a
porta da barraca e outro espetáculo maravilhoso. Milhares de borboletas de
todas as cores bem próximos faziam seus bailados no ar. Fiquei hipnotizado. No
Itatiaia também sentado em uma pedra olhando o horizonte vi ao longe uma águia,
enorme, os raios de sol sobre ela e parecia ser dourada e sendo levada pelo
vento. Aos poucos ela ia se aproximado e quase próximo fez um bailado
impossível e pegou no ar um pequeno tiziu, que esqueceu os perigos que poderia
correr ali.
Uma tarde em um
acampamento. Sentado a beira de um lago, vi uma pequena sucuri se aproximar
nadando em curva sem fazer barulho e engolir de uma vez só um pequeno sapinho
que tomava sol em cima de uma folha qualquer. Mas espetáculo mesmo foi na
Cachoeira dos Sonhos. Época da Piracema. Maravilhoso. A tentativa dos milhares
de peixes, de todos os tamanhos, os saltos ornamentais sem desistir nunca
tentando subir a cachoeira procurando um local onde pudessem cumprir seu
destino e eu sabia que muitos não iam conseguir. Fiquei ali por horas e horas. Eu
gostava muito de acampar sozinho. Uma ou duas vezes lá ia eu em busca dos meus
sonhos. Não existe nada mais belo. Sem vozes humanas, sem barulho, sem
telefone, sem televisão e só você a sentir a natureza assumindo e encobrindo
você da cabeça aos pés. É nesta hora que se adquire a percepção da visão, do
olfato, do tato e do paladar e a audição é perfeita. Ninguém mais para dizer
sim ou não. À noite, sem falar, sem se mexer a ver o balet dos vagalumes, os
grilos saltitantes no meio deles, as formigas serviçais, um tatu que é
iluminado nos seus olhos pela chama da fogueira. É incrivelmente belo.
Sempre tirei
lindas fotos. Tinha 150 slides inesquecíveis. Em 1979, um jovem respondia sobre
Baden Powell no SBT. A escoteirada vibrando e torcendo. Alguém me pediu as
fotos para o SBT passar durante as perguntas. – Chefe vamos mostrar o escotismo
para o Brasil! Fiz minha boa ação. Não me devolveram as fotos. Fui até lá
inúmeras vezes. Já nem existem mais. As mais lindas fotos que eu tirei por este
mundão onde fui. Gosto de fotos lindas, de paisagens lindas, vistas ao vivo e a
cores. Não posso mais ver isto. Não posso. Mas sou feliz, pois tive a
oportunidade de ver, de sentir o vento no rosto, de ver o nascer e o por do sol
em terras distantes muito alem daqui. Onde fui avistei eu vi o mais lindo por
do sol de um monte próximo ao mar. Gaivotas dançando no ar. Coisas fantásticas
deste mundo que os escoteiros vivem e sabem apreciar.
Bem aventurados
os que ainda podem fazer tudo isto. Bem aventurados o que militam no escotismo,
pois mesmo não sendo anjo e nem profeta eu digo: É deles, só deles esta esplêndida
natureza que Deus no deu.
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