Conversa ao Pé do Fogo.
Páginas da vida.
O auto Retrato
No retrato que me faço,
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas,
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem,
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco!
O poeta O S Marden
escreveu um dia que quando na vida, uma porta se fecha para nós, há sempre
outra que nos abre. Em geral, porém, olhamos com tanto pesar e ressentimento
para a porta fechada, que não nos apercebemos da outra que se abriu. Acredito
que todos nós temos uma porta. Muitos a mantém fechada outros não. Somos
milhares de adultos no escotismo. Cada um interpreta a sua maneira como viver
escoteiramente para ser feliz. Uns mais outros menos. Eu não tenho direitos de
analisar ninguém. Nunca tive. Um dia também fechei a porta que sempre deveria
ficar aberta como escoteiro. Tentei ao meu modo deixar que só aqueles e, que eu
acreditava passassem pela porta para abraçá-los. Vi que com o passar dos anos
sem perceber, alguns não quiseram passar por aquela porta. Significa que na
vida deles eu não podia entrar ou receber.
Sempre quando celebramos
datas especiais que falam do escotismo estamos vendo adultos e jovens
enaltecendo o que se passa em seus corações. São palavras lindas e tenho
certeza à maioria a tirou dentro de sua alma. Mas o escotismo é isto? Tudo é
maravilhoso? Não existem portas fechadas? Portas que não se abrem? – Todos os
dias vemos aqui e ali insatisfeitos. Por quê? Não se deram bem com os demais
irmãos onde montaram barraca? Graças aos céus que temos condições de analisar o
bom e o mau. Assim dizem. Seremos maus? Seremos bons? Difícil dizer. Onde está
a verdade? Com aquele ou comigo? Temos amigos ele também tem. Um dia fizemos a
mesma promessa, a Lei Escoteira nos foi apresentada e todos nas entrelinhas
disseram um dia cumprir. – Deixe-me entrar em sua porta? Posso? Não? Você não
me acha merecedor? E eu o que acho de você? Um incapaz? Alguém sem Espírito
Escoteiro?
Não são todos com as portas
fechadas. Em muitos grupos escoteiros vemos no dia a dia o afastamento de um e
outro. Tentou entrar em portas daqueles que considerou amigo e não conseguiu.
Afastou-se. Foi para casa. Nem todos desistiram, abriram grupos, agora novas
portas foram criadas. Agora todos serão bem vindos. Mas foi isto mesmo que
aconteceu? Ali também os novos não se sentiram do lado de fora? Esperamos
muito. Muito dos adultos. Nem perguntamos o que eles esperam de nós. Cada um
tem sua maneira de agir, de pensar, de analisar e estamos deixando de lado um
fato, um ato que esquecemos completamente. Ouvir. Ouvir sempre. Augusto Branco
um sábio me mostrou em um lindo comentário o que seria saber ouvir: - Saber ouvir e saber calar: nisto consiste o supremo valor
do silêncio.
Ouvir, silenciar, pensar, falar, silenciar e pensar outra vez evitaria muita
coisa dita em vão.
Por falar apenas e pouco pensar, pessoas cometem erros difíceis de reparar
depois.
E por ouvir tanto menos do que pensam, piores erros cometem ainda...
O escotismo se cercou de
muitos que falam muito. Esqueceram-se de ouvir. Resolvem, tomam atitudes,
decidem e até falam palavras que machucam assustando uns e afastando outros que
muito teriam a contribuir. A cada mês, a cada ano as cisões nos grupos
escoteiros fecham portas que não vão abrir a não ser para quem os donos das
chaves acham que merecem. A cada temporada de novos grupos que surgiram sempre
estarão ali os insatisfeitos, os que queriam entrar por uma porta e a
encontraram trancada. Seria este o escotismo que queremos? É tão difícil
compreender? Elogiar alguém mesmo que não o achamos merecedor? Norman V. Peale
disse que o mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio
a ser salvos pela critica. Verdade? Assim confirma Sigmund Freud que disse
também – Contra os ataques é possível nos defendermos: contra o elogio não se
pode fazer nada.
Precisamos mudar para acreditar em nós mesmos. Sei que é difícil. Um
grande poeta Chico Anísio (risos, grande sim) sempre disse que palavras são
palavras, mas outro que desconheço disse também – Agua mole em pedra dura tanto
bate até que fura. Não custa nada, faça um elogio honesto e sincero e vais ver
quantos amigos passaram pela sua porta para lhe abraçar e agradecer. Ou nos
conscientizamos que somos irmãos escoteiros mesmo com nossas deficiências, ou
então as portas do futuro estarão sempre fechadas para nós. E nem precisa
lembrar Baden Powell com sua frase mais famosa – A verdadeira felicidade é
fazer a felicidade dos outros. Não sei, gosto de ver os outros sorrindo. Se os
fiz feliz ou não fico na duvida. Mesmo que estejam rindo de mim, das minhas
palavras, dos meus escritos me sinto feliz. Obrigado, entre, pois minha porta
sempre estará aberta para você!
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