Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

domingo, 7 de abril de 2013

Memórias de um Mestre Cuca Escoteiro.



Conversa ao pé do fogo.
Memórias de um Mestre Cuca Escoteiro.

            Eu não sei por onde ele anda agora. Dos sete magníficos da Patrulha Raposa muitos já foram para o grande acampamento. Um deles está vivo, bem velhinho lá pelas bandas do Vale do Rio Doce. Passaram-se anos. Muitos. Lá pelos idos de 1950 quando os conheci. Desculpem só três, pois os demais foram lobinhos comigo. Era uma Patrulha recém-formada. Surgiu uma amizade que marcou a todos nós profundamente. Uma época que o intendente se orgulhava do seu cargo. Do Escriba que não deixava uma ata sem fazer. Do bombeiro e lenhador ali na cozinha não deixando nada faltar. Do socorrista sempre pronto a passar uma pomada “Minâncora”, onde ela anda hoje? Destes todos o mais importante era o cozinheiro. Nenhuma Patrulha neste mundo pode ficar sem ele. Para dizer a verdade é a alma da Patrulha. Faz ela andar, correr, brincar, sorrir e amando como nunca um acampamento mesmo que debaixo de uma tremenda tempestade.

              Fumanchú era seu apelido. Se não me engano seu nome era Sebastião Felisberto da Silva. Era negro. Bem atarracado. Cortava os cabelos rentes e tinha uns enormes olhos negros que podiam observar tudo ao seu redor. Fui a sua casa muitas vezes. Sua mãe trabalhava como cozinheira do Hotel Condor. Acho que foi aí que ele aprendeu. Desde pequeno ficava muito sozinho em sua casa. Eu não sei hoje, mas naquela época a gente ficava pedindo a mãe para nos ensinar a arte da cozinha. – Mãe me ensine a fazer arroz, uma sopa, um feijão, assar uma carne, fritar peixes e assim íamos aprendendo, pois nem sempre poderíamos contar como Fumanchú. Cada um de nós “quebrava o galho”, mas o dono da cozinha mesmo era ele.

             Andam dizendo por aí que nos acampamentos os escoteiros comem matinho, arroz com fumaça, feijão queimado, carne torrada e assim por diante. Brincam e dizem que era e é assim e eles gostam. Lembram-se sempre dos seus célebres almoços e jantas e sorriem quando pensam como era gostoso acampar. Sem sal e sem gordura. Acho que os meus não foram assim. Fumanchú sempre se esmerou. Seu arroz era soltinho, seu feijão inteiro com farinha de milho ou de mandioca não tinha igual. As sopas que fazia então? Era só dar para ele alguns maxixes, uns lambaris gordinhos e pronto. A sopa de maxixe dele era de arromba. Como sabia improvisar. E um guisado de rolinhas? Ou de um tatú? Na brasa Fumanchú era invencível. Fazia um frango no barro como ninguém. Piriá, ariranha tudo ele dominava e nos fazia feliz. Uma vez matamos um Caititu, espécie de porco do mato e Fumanchú nos esperava de uma jornada para buscar frutas na fazenda do Seu Totinho, com o mais gostoso churrasco que já comi. (lembro aos meus leitores que era outra época).

           Cozinheiro não é só cozinhar. Tem de saber improvisar. Fumanchú era assim. Sabia como ninguém fazer um fogão suspenso. Dos bons. Da sua altura nem mais nem menos. Fogão Tripé, estrela, tropeiro e outros eram feitos assim em segundos. Cozinhava em qualquer hora. Em trilhas quando parávamos nas nossas jornadas. Em ribanceiras perigosas, com chuva fina ou não. Acender fogo? Era bamba! Podia contar no dedo até trinta e o fogo logo estava crepitando. Que chovesse canivete, mas o fogão do Fumanchú sempre soltava sua fumaça e fumaça em fogão no acampamento é motivo de alegria e felicidade. Seus bolinhos de chuva, de polvilho, bolinhos de milho, doce de manga, de laranja de goiaba e seu doce de mamão nunca esqueci! E olhe tudo improvisado no acampamento.

            Poderia ficar horas aqui falando do Fumanchú. Das poucas e boas que nos aprontou. Dos causos que contava após o almoço ou jantar e muitas vezes nossos estômagos não aguentavam. No frio ele nem esperava chamar. Seu fogo espelho era nota dez. Podíamos dormir na barracas sem manta ou cobertor. Saudades do Fumanchú. Do seu sorriso enorme, dos seus dentes grandes, do seu pescoço enorme e do seu coração... Grande demais para a gente esquecer. Saudades mesmo. Bela época. Época que já se foi. Agora só a memória para lembrar.  Se você que me lê tem um assim em sua Patrulha, não esqueça, abrace seu cozinheiro. Ele é a razão de um bom acampamento. E depois quando ficar na minha idade, irá lembrar com muita saudade dos tempos que viveu. E para terminar, você meu amigo escute bem, faça assim como eu também. Vá divertir-se o ano inteiro, entrando em um grupo de escoteiros e irás viver o que eu já vivi!            

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