Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

terça-feira, 11 de junho de 2013

O sonho de Robert durou até o último verão.


Conversa ao pé do fogo.
O sonho de Robert durou até o último verão.

                         Tudo aconteceu porque Dona Milena, gerente do RH um dia disse me disse – Robert, você tem um futuro promissor conosco. Mas como você tem vários aqui na empresa. Sei do seu esforço pessoal quando lutou dois anos para conseguir um MBA (Master in Business Administration) para executivos na área de administração. Você sabe que não foi o único, portanto como você tem muitos outros. – Eu ouvia atentamente. Estava fazendo três anos que participava da Mavotini&Sati Ltda.. Logo ao me formar me foi feito um convite e o aceitei de pronto. Lisibel minha esposa também trabalhava em um conglomerado hospitalar e não podíamos nos queixar. Tínhamos uma vida sem sobressaltos. Manny nossa filha de seis anos estudava em um bom colégio de período integral. Mas eu queria mais. Afinal somos humanos e sonhamos em crescer sempre. – Dona Milena completou – Pois é Robert, vou lhe dar um conselho. Hoje em dia as grandes empresas estão valorizando muito o trabalho de executivos em todas as áreas, vi que tem uma área onde no seu curriculum não consta. O trabalho Voluntariado.

                         Fui para casa pensando. Comentei por alto com Lisibel. – Ela me olhou e disse – Porque não vai comigo aos sábados no Hospital do Câncer? Faço parte da turma de entretimento de jovens portadores da doença e é um trabalho maravilhoso. Ela já tinha me convidado outras vezes. No principio ficava em casa lendo, pois tinha livros e livros para me atualizar e na semana não dava tempo. Agradeci. – Vou pensar em outra coisa disse – Um sábado gostoso de verão, sentado em minha varanda vi dois jovens passando. Eram Escoteiros isto eu sabia. A maneira simpática no andar e no cumprimentar as pessoas que encontravam chamaram-me a atenção. Viraram a esquina e eu fiquei ali olhando Manny que brincava seus folguedos no quintal. Tudo começou a germinar na minha mente. Seria outra escola. Outra forma de voluntariado. Quem sabe os meus sonhos de juventude não poderiam ser revistos ali?

                        - Manny, venha cá – eu disse – Você já viu os Escoteiros? Ela meneou a cabeça. Parece-me ser divertido. Quer ir lá comigo conhecê-los? – Não deu outra. Fomos a pé. Era perto. Eles se divertiam em um pátio apertado, mas que dava para suas atividades. Perguntei ao jovem que passava onde encontraria o responsável. Ele displicente me mostrou o salão. Engraçado, uns fazendo excelente apresentação e outro deixando a desejar. O Senhor que me recebeu não me deixou falar muito. Parecia desconfiar de mim e de minhas pretensões. Deu-me duas fichas para preencher e trazer no sábado seguinte. Fiquei mais algum tempo lá olhando. Sinceramente gostava do que via. Mas parecia faltar alguma coisa. O que seria não pude saber na época. Talvez por estar acostumado a ser gerenciado e a gerenciar uma organização de forma estratégica, holística e sustentável onde o trabalho em equipe era imprescindível. Ali não via muito disto e quem sabe era assim o modo de ser das atividades deles.

                         Manny ficou impressionada. Gostou muito. Comentei com Lisibel. Ela riu e não disse sim e nem não. Voltei lá no sábado seguinte. Fui aceito de pronto. Estranhei, pois era uma organização de jovens e todo cuidado deveriam ter na admissão de adultos. O Próprio Chefe a quem chamavam de Diretor Técnico disse-me que seria meu assessor. Não entendi bem, mas estava bem motivado a começar. Levou-me até a Tropa de Escoteiros e só comentou com o Chefe deles que eu iria fazer uma espécie de estágio. Ele sorriu para mim e nem perguntou meu nome. Foi estranho isto, mas depois de alguns meses ele e eu nos tornamos grandes amigos. Um sábado comentou comigo sobre cursos e literatura. Interessei-me. Na semana tirei um tempo de almoço e fui até loja escoteira comprar os livros que ele me indicou. Não quiseram me vender sem provar que era um membro registrado da UEB. Não entendi isto. Para literatura?

                        Pela internet consegui três títulos do fundador na Salcedo, uma grande livraria em minha cidade. Quando eles chegaram fiquei dia e noite lendo. Devorei página por página. Adorei tudo que o escotismo poderia oferecer aos jovens. O fundador Baden Powell foi muito feliz nesta empreitada. O Escotismo para Rapazes, o Caminho para o Sucesso e o Guia do Chefe Escoteiro me nortearam em tudo daquilo que o escotismo possuía. Uma grande organização de jovens com possibilidade de mudar o mundo! Isto mesmo. Agora eu sabia, mas porque não faziam um grande marketing? Porque os jovens que hoje são adultos e que ali passaram não traduziam para seus pares, nas suas empresas, nas suas associações as vantagens de um movimento como ele? Isto me pareceu abstrato.

                         Tentei me entrosar mais. Conhecer mais profundamente o âmago da questão. Precisava me informar mais e tinha mil ideias a balançar minha mente. Achava que podia ajudar e muito. Afinal fiz muitos cursos, participei em diversos seminários e vi como seria fácil levar o escotismo aos pícaros da gloria. Lugar que ele sem sombra de duvida merecia. Inscrevi-me em vários cursos escoteiros. Foi ali que comecei a ficar decepcionado. Os lideres eram diferentes dos meus professores de faculdade e os grandes mestres do MBA o último que fiz. Havia no ar uma disciplina tal que amedrontava os alunos que discordavam. Uma força maligna que impelia a aceitar tudo para não ser defenestrado ou mesmo reprovado. Fiz outros cursos, em alguns o companheirismo imperava. Enquanto isto tudo que eu era na minha empresa, os cursos que fiz não tinham no escotismo o menor valor. Ou era um seguidor ou não era nada. Participei de algumas atividades nacionais. No Grupo Escoteiro um dia fizeram um Conselho de Chefes. Poucos falavam. Muitos querendo que terminassem logo para ir embora. Não resolveram nada, pois o Diretor Técnico era o dono das ideias. Não deixava mudar um milímetro do que ele entendia como certo.

                           A maneira de conduzir do Distrito e da Região também era como se fosse uma grande fazenda, onde só o proprietário dirigia tudo ao seu bel prazer. Dizer que tinha voz e voto seria difícil de aceitar. Eram muitos. Claro tinha aqueles grandes chefes que sabiam aonde chegar e arrastavam multidões com eles. Não desisti. Olhe que fiquei no Grupo Escoteiro por dois anos. Sempre como assistente do meu Chefe de Tropa. Neste interim em minha empresa fui promovido a gerente regional e sócio sênior com amplos direitos na minha área. No Grupo Escoteiro permaneci assistente. As Assembleias de Grupo eram insignificantes. Pais desinteressados e faltantes. Tudo que idealizava para dar um salto no conhecimento Escoteiro no país era rechaçado de pronto. Diziam que eu não entendia nada, pois escotismo era uma coisa, empresa era outra. Se dentro do próprio Grupo Escoteiro minhas ideias nunca foram debatidas, discutidas ou aprovadas que dirá nas outras esferas?

                             Aos poucos estava desistindo. Minha filha a Manny que outrora era uma entusiasta ia mais as reuniões por minha causa. Comentei com Lisibel. Ela não disse nada. Não me criticou, não criticou o escotismo. Sem levantar a voz disse que em organizações como o escotismo tinham muitos participantes adultos que seguiam a corrente, que pouco indagavam o caminho e nunca iriam querer identificar possíveis soluções e implicações, para uma tomada de decisões sólidas e fundamentadas com ideias de toda a sociedade escoteira. Achei que ela tinha razão. O pior é que eu passei a amar o movimento. Eles os Escoteiros diziam que tem um bichinho que morde e deixa lá seu veneno Escoteiro. Eu estava impregnado com ele. Mas tinha de sair. Não dava para ficar. Nunca me senti útil em toda sua plenitude. Tinha grandes conhecimentos, poderia ajudar e muito, mas era sempre tolhido pelos velhos lobos, ou lobos novos que surgiam para dirigir aqui e ali os caminhos que eles achavam importantes.

                              Afastei-me. Até hoje passado quatro anos ainda tenho saudades. Meu sonho não acabou. Ainda penso em voltar, mas aquela chama do passado hoje não é tão grande como foi. O meu amor ao escotismo não era maior do que a realidade que acreditava. Eu sabia que ele nunca iria ser extinto. Não era um mastodonte que nunca foi esquecido, mas hoje não mais existe. Hoje sou o Diretor Presidente da empresa que presto minha colaboração. Ali todos nós os colaboradores sabemos que para vencer precisamos trabalhar em equipe. Desde o mais humilde ao mais alto escalão. Ali coloquei em prática que a felicidade só existe quando fazemos os outros felizes. Baden Powell me trouxe enormes conhecimentos. Pena que nosso escotismo esqueceu-se de suas palavras. Parece mais um urso hibernando na fantástica caverna dos sonhos impossíveis.


                              Meu último verão se fora. Quem sabe um dia, a primavera vai chegar soprando os ventos da boa nova. - O que sempre sonhei para o escotismo.
Ver milhões participando, mudando tudo que está aí hoje. Fazendo felizes os vários rincões do país onde uma politica saudável, onde o respeito à dignidade humana prevalece sobre tudo, e onde a ética e a honradez faz parte de todos aqueles que um dia participaram e vivenciaram um escotismo. Um novo Brasil. Uma nova mentalidade. Quem sabe o doce sabor da primavera irá trazer o escotismo no coração de toda a comunidade brasileira? O escotismo que um dia amei e nunca deixei de amar?

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