Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Escolha, ou o escotismo ou eu!



Conversa ao pé do fogo.
Escolha, ou o escotismo ou eu!

             Ao chegar à casa do "Velho" Escoteiro naquele domingo fiquei surpreso. Lá estava ele de uniforme, o seu Velho caqui de guerra que ele adorava. – Sorri, pois mesmo com seus 86 anos ele ainda fazia bela figura. Sempre um exemplo envergando o uniforme. Ele diferente da sua rotina me cumprimentou normalmente. Não estava com semblante carregado sinal que o dia estava sendo promissor. Sentamos na sala grande e uma melodia silenciosa nos trazia uma paz gostosa. Reconheci Edward Simoni, um dos meus preferidos. – Hoje tirei o dia pra meditar disse – Pensei em tantas coisas e parei no entusiasmo do novo e até do velho Chefe. Observe a alegria demonstrada por muitos que participam do movimento. São jovens, adultos e nem sempre sabemos se a alegria é só dele ou de toda sua família. Ontem mesmo esteve aqui um Escotista e ficamos conversando horas. Conversa interessante. Ele mesmo vítima do escotismo. Separou da família graças ao sua dedicação ao Movimento Escoteiro. Acontece muito com chefes novos e antigos. Nem sempre sua família aceita participar e ele diferente dos demais, mantém um enorme entusiasmo e maior ainda quando um filho ou uma filha estiver engajado com ele.

           Eu acompanhava o raciocínio do Velho Escoteiro. Conhecia alguns chefes com graves problemas em família por causa do escotismo. Um tema que poucos comentam. Sempre vemos o lado bom, o Chefe sorridente com a esposa, os filhos todos uniformizados e o outro aquele que vai só aprendemos a escondê-lo atrás da porta. – O Velho Escoteiro me olhou e como sempre adivinhando o meu pensamento continuou – É comum, o adulto quando entra se motivar de tal maneira que esquece que sua cara metade ou alguém de sua família não pensa como ele. Sabemos que o conceito básico da família é formada a partir da união de pai, mãe e filhos. Quando um deles assume uma personalidade que acredita trazer a felicidade e o bem geral a todos, a vida em grupo pode acarretar um grande obstáculo para uma união perfeita. Principalmente se antes do escotismo o casal não estava ainda preparado para o contrato social e espiritual que fizeram. Nestas horas a não ser os mais próximos poucos ficam sabendo dos acontecimentos.

           Em vários cursos que participei sempre coloquei como dinâmica de grupo o que poderia trazer a desagregação familiar na participação ao escotismo. Em primeiro lugar vinha o sacrifício de quem não participava isto por achar que o outro estaria consumindo valores, sem pensar que a família deveria estar em primeiro lugar e não o escotismo. As rusgas começavam a aparecer e logo o bom relacionamento que deveria existir era corrompido por um ou até dos dois cônjuges. Outro ponto que abordava em menor intensidade era absorção do escotismo nos fins de semana e feriados. Sempre o participante deixando a outra parte sem ele ou ela. Afinal dizem que basta três horas por semana e estaremos colaborando o que não é verdade. O sábado dia utilizado por boa parte das reuniões em Grupo Escoteiro, não bastam três horas. Muitas vezes vai, além disto. Quase sempre o sábado passa a ser parte do escotismo. Sobra o domingo isto se não haver atividades extra sede neste dia.

          Já vi grupos com reuniões realizadas no dia de semana. Isto ajudava muito com os fins de semana liberados para a família. Mas existem muitos senões. Alguns não gostam, acham pouco tempo e não é como sentir todos juntos em um só dia. Infelizmente não temos no escotismo nada que possa ajudar ou orientar o Chefe ou a Chefe nesta hora tão difícil. Um Psicólogo, um Conselheiro Matrimonial nem pensar. Sobra para os amigos tentando ajudar, mas a maioria sem nenhuma experiência. Quando o Grupo Escoteiro tem personalidade, onde todos se sentem como uma grande família então, a chamada interação de pensamento será responsável para achar um caminho, isto claro se as vibrações de amizade emitirem entre todos uma maneira de dizer – “Um por todos, todos por um”. E olhe isto se aplica em todas as camadas escoteiras. Na chefia e nos dirigentes.

          Este preâmbulo que fiz do problema é muito pouco comentado no escotismo e nunca lembrado pelos dirigentes. Deveria ser obrigatório ter uma Unidade Didática falando sobre o tema em todos os cursos escoteiros. O Escotismo não pode de maneira nenhuma substituir a família. Ela está sempre em primeiro lugar. Felizes os que a família aos sábados partem juntos para o escotismo. Sempre digo que nesta união se resume a família unida, e isto acontecendo à alegria vai ajudar em muito não só a eles como a fazer um bom escotismo. Bom para todos. O contrário acontecendo, perde-se muitas vezes a noção do que é o certo e o errado, com ambos os cônjuges se considerando com a razão. Esquecem os amantes do escotismo que o outro lado exige sua presença principalmente em atividades sociais e familiares, que muitas vezes são esquecidas.

            Os novos voluntários muitas vezes não são alertados. Acham ser um problema simples de resolver. O tempo nem sempre lhes dá razão. Se eles não sabem dosar esta participação e quando reconhecem o erro, pois um dia será pressionado pelo outro lado (aí entra a família dele e dela) abandona as atividades escoteiras, Isto poderia ser resolvido se o Grupo Escoteiro tivesse uma boa estrutura para entrosar família chefes, em atividades paralelas dirigidas por alguém conhecedor. Tenho visto diversos aspectos do tema. Sabe o pior deles? O participante ativo do escotismo além de ajudar querendo resolver os problemas financeiros da sessão que atua ou mesmo do Grupo. A família que não participa acha que está sendo sacrificada, que isto não trás beneficio algum.

                O Velho Escoteiro calou-se. Pensei com meus botões a me analisar mais profundamente. Casado há oito anos, sem filhos, eu e minha esposa não éramos um exemplo que dizem por aí de família unida. Nunca tivemos desentendimentos, mas seria como dividíssemos o lar onde dormíamos e íamos trabalhar. Quase nunca atividades sociais, ela era dona de si e eu também. Não sei se isto é o matrimonio moderno e perfeito. O Velho Escoteiro dormitava na poltrona de vime, já gasta com o tempo e eu em meu banquinho de três pés pensava em tudo que falamos. Despedi do Velho Escoteiro e na rua deserta, uma brisa gostosa daquele agosto ensolarado me pegou de pronto. Pensava comigo que precisava mudar. Deveria dar o primeiro passo. Hoje só fazia escotismo. Tornou-se para mim um modo de vida. Prometi a mim mesmo dar uma guinada em minha vida.


          Sem perceber olhei para o céu estrelado. Sem lua, parecia que via a figura do Velho Escoteiro de carona em uma estrela cadente passando rápido no céu e dizendo: - “Sua família é tudo, o escotismo é um complemento, mas não o principal. Ela a sua família é sua razão de viver”. Pisquei os olhos e o cometa sumiu em um ponto do universo. Nada mais a dizer!

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