Um passado que não
morreu.
O tempo e o vento para
os Mestres de Campo.
Sempre temos lembranças marcantes das coisas lindas que o
escotismo nos ofereceu em um passado distante. Ou quem sabe no presente de
hoje. Eu sei que a maioria vai dizer que o fogo de conselho em um acampamento é
o ponto marcante ou quem sabe o ápice. Sem sombra de dúvidas este marca mesmo a
gente. Mas tem outras, muitas outras que às vezes ficam esquecidas e só o tempo
nos traz de volta as lembranças daquelas noites gostosas, vividas em um
acampamento qualquer, as patrulhas em seus campos, ouvindo as conversas aqui e
ali, o lusco fusco da noite e os lampiões sendo aceso, um sorriso alto uma
canção despercebida, a fumaça do fogo a lenha no fogão tropeiro ou suspenso e
os cozinheiros preparando seu jantar com toda a patrulha em volta aguardando
que o manjar ficasse pronto. A gente na chefia, sentindo o vento no rosto
também com nosso fogo aceso, girando a manivela devagar, um belo naco de lombo,
bonito de se ver e sentindo a carne ir tostando, outros chefes ali ao seu lado,
de olhos pregados na carne, sentindo o sabor na mente, e com a noite suave a
mostrar os primeiros vagalumes, a gente escuta uma patrulha dar o primeiro
grito. Aqueles felizardos seriam os primeiros a jantar. A chefia sorri. E o
Monitor correndo? – Sempre Alerta Chefe, Patrulha Gavião com jantar pronto.
Aceitar jantar conosco?
O som do grito da segunda da terceira e da quarta patrulha e a
gente sabia que nem assim o silêncio iria acontecer. A gente não estava com
eles, mas imaginava. Sentados em bancos, ou no chão, com os pratos na mão,
algumas patrulhas com mesas e bancos e eles não deixavam de matraquear. A noite
está firme. O lampião aceso clareando o campo de patrulha e a gente de longe
olhando e saboreando aquela noite gostosa. A alegria reinante não tem preço
para pagar o que sentimos. E o olhar deles? No prato ou no rosto de um
patrulheiro um sorriso e nunca a reclamar. Sem dizer que estava sem sal, sem
óleo ou gordura. E a gente em volta do fogo no campo da chefia olhando os
chefes que de olhos abertos perguntavam sem dizer – E esta carne, ainda não
está boa? – Tome experimente – a gente corta uma tira com a faca mateira para
um e outro. O estalar da boca, o sorriso e já era hora do nosso jantar. Bem
próximo o barulho das patrulhas aumenta, eles dão risadas, alguns cantam e a
gente sabia que o acampamento tinha atingido o ponto esperado.
O tempo. Ah! O tempo que um dia aconteceu e a realidade daquele
momento ainda permanecem vivos em nossa mente. Uma alvorada, um alvorecer, uma
noite bem dormida, um jogo bem jogado uma refeição bem nutrida, quem sabe um
peixe bem pescado, um tomate colhido no lago, um mamão achado ao sopé da
montanha para uma sopa bem gostosa e a noite alta, o silêncio a dormir com eles
esperando o amanhã. São coisas nossas e próprias de nós chefes que vivemos tudo
isto. O tempo e o vento! O vento sul, do norte não importa. A soprar nas tardes
quentes, um banho no riacho de águas geladas, a escoteirada vibrando, brincando
de pic, nic, brincando de palmar na água, ah! O vento! A alvorada, um passar de mão nos olhos
tentando acordar, hora da ginastica, o sol surgindo, uma névoa que se vai. São
somente lembranças, do tempo e do vento. Vento que tantas vezes sentíamos no
rosto trazendo a fragrância das colinas tão perto, o perfume das flores nos
montes, o frescor a substituir o calor de um dia bem vivido. Não dá para
esquecer. São coisas nossas, são coisas de escoteiros.
Se você meu caro amigo ainda não sentiu o cheiro da terra molhada,
não sentiu nas madrugadas o orvalho caindo e molhando sua face, a chegada da
brisa fresca antes do nascer do sol, se ainda não viu o sol se por, a cigarra
cantando, o canto dos Jaburus, o uivo de um lobo guará, uma bela coruja a piar
no galho de um jacarandá, o barulho das águas nas pedras fazendo chuá-chuá! Se você
meu caro ainda não viu tudo isto está na hora de botar o pé na estrada. E se
por acaso me encontrar na volta eu irei ver o seu sorriso e poderei dizer – Você
é um Escoteiro de fato!
Nenhum comentário:
Postar um comentário