Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Memórias de um Mestre Cuca Escoteiro.


Conversa ao pé do fogo.
Memórias de um Mestre Cuca Escoteiro.

            Eu não sei por onde ele anda. Dos sete magníficos da Patrulha Raposa muitos já foram para o grande acampamento. Um deles está vivo, bem velhinho lá pelas bandas do Vale do Rio Doce. Passaram-se anos. Muitos. Lá pelos idos de 1950 quando eu os conheci. Desculpem só três, pois os demais foram lobinhos comigo. Era uma Patrulha recém-formada. Surgiu uma amizade que marcou a todos nós profundamente. Uma época que o intendente se orgulhava do seu cargo. Do Escriba que não deixava uma ata sem fazer. Do bombeiro e lenhador ali na cozinha não deixando nada faltar. Do socorrista sempre pronto a passar uma pomada “Minâncora”, onde ela anda hoje? De todos o mais importante era o cozinheiro. Nenhuma Patrulha neste mundo pode ficar sem ele. Para dizer a verdade é a alma da Patrulha. Ele consegue fazer a patrulha andar, correr, brincar, sorrir e amando como nunca um acampamento mesmo que debaixo de uma tremenda tempestade. Barriga vazia não tem alegria, barriga cheia, Escoteiro alegre.

              Fumanchú era seu apelido. Se não me engano seu nome era Sebastião Felisberto da Silva. Era negro. Bem atarracado. Cortava os cabelos rentes e tinha uns enormes olhos negros que podiam observar tudo ao seu redor. Fui a sua casa muitas vezes. Sua mãe trabalhava como cozinheira do Hotel Condor. Acho que foi aí que ele aprendeu. Desde pequeno ficava muito sozinho em sua casa. Eu não sei hoje, mas naquela época a gente ficava pedindo a mãe para nos ensinar a arte da cozinha. – Mãe me ensine a fazer arroz, uma sopa, um feijão, assar uma carne, fritar peixes e assim íamos aprendendo, pois nem sempre poderíamos contar como Fumanchú. Cada um de nós “quebrava o galho”, mas o dono da cozinha mesmo era ele.

             Andam dizendo por aí que nos acampamentos os escoteiros comem matinho, arroz com fumaça, feijão queimado, carne torrada e assim por diante. Brincam e dizem que era e é assim e eles gostam. Lembram-se sempre dos seus célebres almoços e jantares e sorriem quando pensam como era gostoso acampar. Sem sal e sem gordura. Acho que os meus não foram assim. Fumanchú sempre se esmerou. Seu arroz era soltinho, seu feijão inteiro com farinha de milho ou de mandioca não tinha igual. As sopas que fazia então? Bastava dar para ele alguns maxixes, uns lambaris gordinhos e pronto. A sopa de maxixe dele era de arromba. Como sabia improvisar. E um guisado de rolinhas? Ou de um tatú? Na brasa Fumanchú era invencível. E as bananas verdes na brasa? Com mamão verde fazia milagres. Era bamba com o frango no barro. Piriá, ariranha tudo ele dominava e nos fazia feliz. Uma vez matamos um Caititu, uma espécie de porco do mato e Fumanchú nos esperava de uma jornada para buscar frutas na fazenda do Seu Totinho, com o mais gostoso churrasco que já comi. (lembro aos meus leitores que era outra época).

           Cozinheiro não é só cozinhar. Tem de saber improvisar. Fumanchú era assim. Sabia como ninguém fazer um fogão suspenso. Dos bons. Da sua altura nem mais nem menos. Fogão Tripé, estrela, tropeiro e outros eram feitos assim em segundos. E o forno de barro? Incrível seus pães quentinhos pela manhã. Até bolo ele fazia! Cozinhava em qualquer hora. Em trilhas quando parávamos nas nossas jornadas. Em ribanceiras perigosas, com chuva fina ou não. Acender fogo? Era bamba! Podia contar no dedo até trinta e o fogo logo estava crepitando. Que chovesse canivete, mas o fogão do Fumanchú sempre soltava sua fumaça e fumaça em fogão no acampamento é motivo de alegria e felicidade. Seus bolinhos de chuva, de polvilho, bolinhos de milho, doce de manga, de laranja de goiaba e seu doce de mamão nunca esqueci! E olhe tudo improvisado no acampamento.


            Poderia ficar horas aqui falando do Fumanchú. Das poucas e boas que nos aprontou. Dos causos que contava após o almoço ou jantar e muitas vezes nossos estômagos não aguentavam. No frio ele nem esperava chamar. Seu fogo espelho era nota dez. Podíamos dormir nas barracas sem manta ou cobertor. Saudades do Fumanchú. Do seu sorriso enorme, dos seus dentes grandes, do seu pescoço enorme e do seu coração... Grande demais para a gente esquecer. Saudades mesmo. Bela época. Época que já se foi. Agora só a memória para lembrar.  Se você que me lê tem um cozinheiro assim em sua Patrulha, não esqueça, abrace seu cozinheiro. Ele é a razão de um bom acampamento. Sem ele não acredito no sistema de patrulha, em um acampamento de Giwell, pois se queres ser feliz, coma até pelo nariz! Risos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário