Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

terça-feira, 22 de abril de 2014

Zap, zep e zão... Um viva a revolução!


Conversa ao pé do fogo.
Zap, zep e zão... Um viva a revolução!

          Menos de dez horas, Nonô e Araceli desceram do ônibus na Praça Sete. Levaram o maior susto. Em todos os lugares soldados do exército armados até os dentes. Tanques de guerra cobriam cada rua e cada canto do centro da cidade. O que estava acontecendo? Nonô foi a uma banca de jornal e comprou o Estado de Minas. Lá explicava tudo. A revolução aconteceu. Nonô não era politico, não era comunista, não era revolucionário. Nonô era um Chefe Escoteiro. Um homem trabalhador que pensava em criar sua família como um bom brasileiro. Nonô foi a capital aproveitando uma folga de 80 horas da Usina onde trabalhava. Combinou com todos no grupo que passaria na Cantina escoteira e quem saber bater um papo com os lideres regionais claro, se tivesse alguém lá. Estava hospedado em casa de um primo. Ficaria só um dia, pois pretendia a noite pegar o trem noturno de volta para sua cidade.

           Nonô comentou com Araceli sua esposa que não deviam se preocupar. Eles não eram malfeitores e melhor eram cumpridor de seus deveres e bons cidadãos. Na Cantina Escoteira fizeram uma boa compra. Como sempre não havia ninguém da liderança regional. Ele entendia, pois sabia que todos trabalhavam. Pegaram o trem noturno e ele partiu da gare às onze e meia. Deviam chegar por volta de nove da manhã. Na estação de Pedreira eles desceram. Logo avistaram Lilico, um motorista de taxi e pai de um lobinho. – Chefe, cuidado, a “coisa tá feia” prenderam o Chefe Laerte e os demais chefes sumiram da cidade. Proibiram o Grupo Escoteiro de Funcionar. Disseram que ali estavam ensinando aos meninos as tática de guerrilhas e que o grupo era comunista. Isto porque o lenço era vermelho e branco. Soube que foram na sua casa e perguntaram por toda a vizinhança. Nonô notou que os trens passavam cheios de prisioneiros com destino a capital. O Chefe Laerte preso? Um rapaz seu amigo e irmão. Conheceram-se na usina e logo passaram a falar de escotismo. Coisas de escoteiros.

           Lilico os levou até sua casa. Alertou para não ficar ali. Era perigoso. Nonô disse para Araceli ficar de sobreaviso. Iria até a paróquia. O Padre Eli era gente boa. Ele devia saber o que estava acontecendo. No caminho alguém gritou de uma janela. Nonô viu que era Gegê, o Monitor da Raposa. – Chefe! Cuidado! Estão procurando o senhor por toda a cidade. Tem uma patrulha acampada atrás do Morro da Viúva. Estão com eles o Vavá e o Jair. Eles ficarão lá até passar esta onda de prisão. Nonô agradeceu e partiu para a paróquia. O Padre Eli sorriu quando o viu. – Chefe acusaram vocês de serem comunistas por causa do lenço vermelho e que estão treinando os meninos para guerrilheiros. Pode? Olhe expliquei para o Sargento Modesto que tudo não passava de um engano. Não sei se ele entendeu, mas o Marcondes estava com eles. Foi ele quem dedurou todo mundo aqui. Lembrei-me do Marcondes. Era Juiz de Menores na cidade e foi contra a fundação do Grupo Escoteiro.

        - Mas olhe continuou o padre Eli, não precisa se preocupar. Fui pessoalmente à 15ª Companhia da Policia Militar. O Capitão Natal foi legal. Disse que nunca acreditou no que disseram do Grupo Escoteiro. – Fiquem nas suas. Ninguém vai incomodar. Ele sabia que os Escoteiros tem uma formação patriótica. Ele iria ver se soltava o Chefe Laerte, mas ele tinha sido levado para o DOPS na capital. Passou uma semana e tudo estava voltando ao normal. Ninguém mais procurou o Chefe Nonô. A patrulha que estava acampada voltou. Vavá e Jair tinham dezessete anos. Eles se assustaram. Como sêniores e novos no Clã ficaram com medo de serem presos. Aos poucos o Grupo Escoteiro foi voltando ao normal com suas atividades. Só três semanas depois que soltaram o Laerte. Ele estava revoltado e dolorido. Aplicaram nele choques elétricos, enfiaram sua cabeça dentro de um vaso de água e com um pequeno alicate arrancaram uma unha de sua mão. Seus olhos estavam vermelhos. Devia ter chorado muito.

          Chefe Nonô! Não vou perdoar estes canalhas. Vou entrar para o sindicado e para a guerrilha. Lá terei respaldo e desculpe, vou deixar o grupo. Não quero que os militares achem que estou lá preparando uma revolução. Chefe Nonô não concordou, - nada disto Laerte. Não é nossa sina. Não somos revolucionários. Temos família para cuidar. Temos o Grupo Escoteiro e temos um nome a zelar. Chefe Laerte abaixou a cabeça e não disse nada. Sumiu de novo da cidade. Ninguém sabia onde fora. Um mês depois soubemos que tinha entrado para uma guerrilha na Mata do Pintassilgo. Durante meses lutaram de arma em punho. Cinco mil soldados chegaram e em menos de um mês acabou a guerrilha. Ninguém mais ouviu falar no Chefe Laerte. Chefe Nonô ficou inconsolável. Dizem que não houvera prisioneiros. A família do Chefe Laerte mudou para longe. Uma cidade grande e ali acharam que ficariam escondidos.


          Muitos anos se passaram. Hoje os filhos do Chefe Laerte são adultos. Boas lembranças do seu pai que só conhecem por fotografias, bem assim me disseram. A vida do Chefe Nonô virou do avesso. Despedido do emprego vagou por varias cidades. Um dia batendo sua bengala na Avenida Angelica passou por um ancião também com uma bengala. Pararam. Entreolharam-se. Impossível, não poderia ser o Chefe Laerte. Mas era ele mesmo. Abraçaram-se e os transeuntes que passavam por aquela rua não entendiam. Dois velhos se abraçando e chorando como duas crianças. Se eles tiveram “causos” para contar ninguém soube. O que sei é que resolveram colocar a conversa em dia. Dizem que ficam sempre conversando na varanda do Chefe Nonô até altas horas da noite. Ambos na casa dos setenta e cinco anos mal aguentavam em pé, mas a amizade que tinham um pelo outro os uniram até o fim da vida. Eu quando me lembro desta história eu fico pensando...  Zap, zep e zão... Um viva a revolução!

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