Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

sábado, 23 de agosto de 2014

O Chefe Escoteiro de lua Verde.


Lendas escoteiras.
O Chefe Escoteiro de lua Verde.

                     Três patrulhas. A quarta só no ano seguinte. Tropa nova, com menos de seis meses de atividade. O Chefe Galício era novo, menos de vinte e três anos. Resolveu um dia ser Escoteiro. Nunca foi. Achou nos guardados do seu pai um livro chamado Escotismo Para Rapazes de Baden Powell o fundador. Leu em uma noite. Gostou. Seu pai quase não falava. Vivia em uma cadeira de rodas. A mãe morrera há anos. Ele ó arrimo da família. Sempre pensou em ir embora de Lua Verde. Só conseguiu terminar o segundo grau. Cidade pequena, menos de dez mil habitantes. Sem perspectivas de crescimento profissional. Não podia deixar seu pai. Para sobreviverem ele montou uma quitanda. Pequena. Na frente de sua casa para não pagar aluguel. Algumas verduras, frutas, doces, e quando pode comprar uma geladeira, refrigerantes e algumas guloseimas geladas. Dava para seguir adiante a cada mês. O “fiado” era a parte mais difícil. Como negar ao Seu Romerildo? A Dona Eufrásia e a tantos outros? Eram como ele. Nem sabiam o que iam comer amanhã.

                    Depois que leu o livro o releu diversas vezes, pensou com seus botões. - Porque não ter uma tropa Escoteira? E assim fez. Mãos a obra. Convidar meninos foi fácil, a sede também não foi difícil. Ficaram num pequeno porão da Igreja Matriz. Mas Galício não entendia nada. Começou assim na raça, nem sabia que existia autorização, alguém responsável acima dele. Ele e os Raposas, os Tigres e os Leões eram os escoteiros mais felizes do mundo. Amigos, irmãos, juntos sempre. Quando os viam pela cidade a correr pelos campos, parecia um bando de meninos loucos a fazerem suas aventuras fantásticas. Galício adorava. Um dia recebeu uma carta. Era do Grande Chefe Escoteiro da Capital. O convidava para um curso. Todas as despesas pagas. Porque não ir? A quitanda deixou na mão de Quinzinho e Marquinho. Dois Monitores que sempre o ajudavam nos sábados quando a quitanda estava cheia.

                   Partiu de trem para a capital. Quinze horas de viagem. Na chegada se informou onde era o Zoológico. Pegou o bonde. Desceu no final e dai seguiu a pé. Eram mais seis quilômetros. Nada que assustasse Galício. Quando chegou viu muitos chefes. Bastante. Gostou do curso. Não gostou de alguns. Prepotentes, vaidosos, cheios de importância. Porque perguntava? Aprendeu muito. Resolveu que devia ter uma Alcatéia. Mas quem convidar? No trem quando retornava pensava a respeito. Uma jovem morena sentou ao seu lado. Galício teve duas namoradas. Pouco tempo com elas. Nunca pensou em casar. Novo. Agora com seu pai entrevado não tinha esse direito. Ela o olhou de cabeça baixa. Galício viu que chorava. – Por quê? Perguntou. Ela não respondeu. Acordou com ela dormindo em seu ombro. Reparou que era muito bonita, mas tinha o olhar envelhecido por uma vida de lutas.

                    Toda a viagem ela chorava. Galício insistiu. Ela nada dizia. Só disse que deveria ter morrido e Deus quis assim. Que seja. - Vai para onde? Sem destino respondia – Sem destino? Não tem amigos, parentes, nada? Não tenho. Quando chegou à estação de Lua Verde tinha resolvido. Desça comigo. Ficará uns dias em minha casa. Ela assustou – Descer? E sua família? Não se preocupe. Uns dias em Lua Verde você irá colocar a cabeça no lugar e saberá aonde ir e o que fazer. Ela desceu. A cidade inteira na janela vendo Galício e a bela morena. Quem era? Ele casou? Ele não disse nada. Sua vida continuou. Seu pai nem perguntou. Os escoteiros nada disseram. Sua vida mudou. Lena era uma mulher perfeita. Cuidava da casa. Fazia tudo. Seu pai tinha os olhos brilhando quando estava ao seu lado. A cidade inteira comentando. E a Tropa? Alguns pais querendo tirar os filhos. Os comentários não eram bons. Uma mulher da vida, só podia ser.

                   Galício resolveu casar com Lena. Ela disse não. Por quê? Você não tem ninguém. – Ela chorando disse que ia contar a verdade. Era mulher de vida na capital. Gostava de um soldado. Ele prometeu casar com ela. Morreu em tiroteio com bandidos. Chorou muito e o pior. Tinha AIDS. Sim, isto mesmo! Ainda em fase inicial.  Galício manteve seu pedido. Não importa. Quero você como minha mulher. Casaram-se na Igreja de São Judas Tadeu. Cerimônia simples. Ele uma vizinha e as três patrulhas escoteiras. Casou de uniforme. Ela feliz. Sorria. Viveram muitos anos. Lena se tornou Akelá. Os lobinhos adoravam sua Chefe. Galício e Lena nunca fizeram sexo. O amor dos dois eram diferentes. Lena morreu com quarenta e oito anos. Seu velório foi assistido por toda a cidade. Dizem que virou santa. Não sei. Mas seus lobinhos hoje homens feitos nunca esqueceram a Chefe que tiveram. Galício chorou por muitos anos. Morreu com sessenta e quatro anos.


                  Conheci ambos. Sempre quando vou a Lua Verde não deixo de fazer uma visita ao tumulo dos dois. Lado a lado. Escreveram uma lápide simples. Nem sei quem escreveu. – “Aqui jaz, dois amantes que nunca foram. Amaram o escotismo e com ele viverão para sempre no céu!”.

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