Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

domingo, 7 de dezembro de 2014

Meu primeiro curso Escoteiro foi inesquecível!


Conversa ao pé do fogo.
Meu primeiro curso Escoteiro foi inesquecível!

              Curso é curso, cada um que fez o seu primeiro eu sei que não esquece. O meu primeiro foi Inesquecível! Corria o ano de 1959, sênior com quase dezoito anos fui intimado pelo Chefe João a ir fazer um curso na capital. Os demais chefes do grupo não podiam ou não se interessaram. Desculpem era outra época. – Porque não? Pensei. A Região se prontificava a pagar a passagem e a taxa do curso. Bem sei que isto não acontece hoje em dia e algumas taxas são meio carinhas né? Mas naquela época era assim. Preparei-me como um louco. Afinal eu pensava que iam nos colocar em uma sala e ver se tínhamos conhecimentos técnicos para ser Chefe. Não perdi tempo, renovei meus conhecimentos em nós, sabia mais de quarenta nós Escoteiros e de marinheiro e precisava de mais. Fiquei dias praticando semáforas e Morse. Eu era bom nisto. Não só eu, mas todos os Escoteiros do grupo.

               Sabia a lei e a promessa de cor e salteado. Um perito em primeiros socorros, orientação pela bússola e pelas estrelas. Passo duplo e Passo Escoteiro era fichinha. Armava barraca com uma só mão, de olhos fechados e sozinho a de duas lonas eu armava em quatro minutos. Acreditem se quiserem. Lia mapas, tirava de letra um percurso de Giwell, exímio no uso do machado do lenhador e no uso do Traçador. Fazia com perfeição uma tala ou torniquete, Sinais de pista eu ria dos que estava nos manuais. Reconhecia boa parte dos habitantes da floresta só em ver suas pegadas. Na cozinha não era o Fumanchu, mas quebrava o galho num café sem coador, num arroz sem panela e no frango no barro. Revisei tudo. Tintim por tintim. Esses chefes da cidade grande e estes comissários iriam me conhecer. Embarquei numa terça às sete da noite no noturno da Vitória Minas. De uniforme é claro. Meu uniforme estava nos trinques. Sapato super engraxado (meu Vulcabrás de guerra), fivela do cinto brilhando, meu chapéu tinindo, meu lenço de fazer inveja.

               Fiz questão de colocar tudo que ganhei na camisa escoteira. Cruzeiro do Sul, Segunda Classe, Primeira Classe, trinta e cinco especialidades, Correia de Mateiro, Cordão Dourado, as duas tiras de Monitor no bolso esquerdo e meu distintivo da Patrulha Touro. Claro, do lado minha faca mundial e meu cantil francês. Sem esquecer o cabo para emergências. Fiz questão de colocar todas minhas estrelas de atividade. Só usava as de um ano. Eram dez. Quatro de lobinho, quatro de Escoteiro e duas de sênior. Vocês devem estar se perguntando, mas pode com dezessete anos e meio fazer curso? Se pode ou não eu não sabia. Meu Chefe me mandou e como bom Escoteiro disciplinado lá fui eu. Cheguei a capital no horário marcado. A pé e orgulhoso do meu uniforme e Chapelão desfilei da estação até a Av. Afonso Pena com minha mochila e sorrindo para todo mundo. Próximo ao Parque Municipal peguei o ônibus para o Zoológico. Às onze e meia cheguei ao portão. Um seta indicava o ponto de reunião. Seta mal feita pensei eu. Eu faria melhor!

              Não mais que dois quilômetros seguindo uma pista ridícula cheguei. Uns vinte e cinco alunos em uma sombra conversavam. Tinha Escoteiro do ar e do mar de diversos estados. – Pensei comigo: - Vou mostrar a eles que nós básicos somos os melhores falei para mim mesmo! Cheguei na roda, todos me olharam espantados e na melhor pose de um soltado inglês, juntei os cascos, fiz a saudação e gritei alto: Sempre Alerta! A maioria começou a rir. – Palhaços, eu pensei, não sabem o que é um Escoteiro de coração. Sentei em um canto, minha mochila verde da Policia Militar cheia com minha manta negra cheia de distintivos em volta. Tirei o cantil na melhor pose e bebi uma talagada d’água. Ninguém me pediu um “golinho”. Às doze horas em ponto ouvi um berro de um berrante. Não era berrante e depois fui saber que era o Chifre do Kudu. Putz! Que nome. Se falasse isto para os seniores iriam dizer que era um palavrão.

            Ninguém se apresentou. Formamos uma ferradura. Bandeira em saudação e oração. A equipe posta na frente se apresentou – Chefe Francisco Floriano de Paula, Chefe Darcy Malta e Chefe JF (João Francisco de Abreu). Sabia que seriam seis dias ali acampados. (naquela época nos cursos existia uma patrulha de serviço de meninos Escoteiros para ajudar a equipe).  Cada um deu um passo à frente e se apresentou. Quando chegou a minha vez, na melhor pose militar desfiei meu nome, onde nasci minha idade, meu tempo de escotismo, minha cidade e o JF fez sinal para eu parar. Explicações como seria o curso. Sistema de patrulhas em rodizio, responsabilidade e antes do debandar JF me chamou a frente a todos. Para minha vergonha disse em poucas palavras que um Chefe não usa seus distintivos como eu. Só poderia usar meu lenço, meu distintivo de promessa e mais nada. Me deu uma hora para tirar tudo! Ia mandar ele a M... Mas pensei bem e não o fiz.

               Quer saber? De todos foi meu melhor curso que fiz. Nunca o esqueci e tampouco os amigos que fiz lá. Hoje não lembro de ninguém a não ser o Az de Ouro, (nome preservado)  de Montes claros que sem perceber tínhamos grandes afinidades. Aprendi muito. Deixei minha soberba de ser o melhor. Deixei minha índole de não levar desaforo para casa. Mas quer saber o melhor do curso? Vocês não vão acreditar. Pela primeira vez deram para a patrulha fazer fritados de Bacon. Uma delicia. Nunca comi e nunca ouvi falar! Queria mais, mas a frigideira vazia. Chamei à tardinha o Az de Ouro. Perguntei se ele gostou. Ele disse que sim, como eu ele também nunca tinha comido. Eu era mestre quando jovem de roubar bananas na barraca de intendência. Agora sabia que precisava comer mais bacon. Valia tudo para conseguir uma fatia. Eu e ele pegamos um bom pedaço na barraca de Intendência e fomos longe do acampamento. Ali acendemos um foguinho, fatiamos o bacon e preso em um espeto o assamos. Deus meu! Que coisa gostosa! Quando contasse para a turma da tropa eles iriam morrer de inveja. Pena que durante mais de dois dias uma dor de barriga quase nos fez abandonar o curso.


               Bem foi meu primeiro curso. Chamava CAB (Curso de adestramento básico) caminho para a Insígnia da madeira. Na época seis dias, minha insígnia foram nove dias. Hoje? Mesmo preso em um alojamento, ou em barracas, comida pronta deve acontecer muitas delicias no curso. Mas fazer um acampado, sistema de patrulhas, cozinha, pioneirias, correr pela mata de madrugada ao ouvir o som do Chifre do Kudu (A tropa deu excelentes gargalhadas), cantar dentro do lago, fazer um ninho de águia são coisas que a gente não esquece. Quer saber? Valeu. E como valeu. Nunca guardei animosidade com o JF. Só um dia em uma cidade no Vale do Aço, ele lá, metido a bacana com sua insígnia, mandou tudo mundo fazer um monte com seus chapéus. O jogo seria ver quem seria o ultimo a achar o seu. Antes de ele dizer o jogo já começou guerra, corri lá e peguei o meu. Ele me olhou enviesado. O meu não. O meu não. Você não sabe como é difícil manter as abas retas meu amigo!

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