Uma ponte longe demais...
Era uma vez... Uma ponte, simples de madeira
com dois vãos, pequena, mas que acalentava os caminheiros que por ali passavam.
Dizem que era longe demais, que não ligava a lugar nenhum. Pode até ser. Não
era uma ponte qualquer, pois para mim ela tinha vida, ela tinha alma. Cansado
de uma longa jornada eu sentei naquela ponte muitas vezes. Gostava de ficar
ali, olhando um rio que passava sobre meus pés. Meus olhos acostumaram com
aquelas ondas que brincavam de zig zag nas corredeiras que iam para o mar. Nem
via o tempo passar, hipnotizado não queria voltar ao meu percurso. A ponte
agora me dava vida, queria que eu e ela fossemos um só. Os incrédulos diziam
que ela não ia dar a lugar nenhum. Eu sorria quando diziam isto. Uma doce
mentira de caminheiros que não viram o brilho daquela ponte. Ela me levava ao
Campo da Felicidade.
Quando surgia a primavera eu
corria para chamar meus amigos Escoteiros e eles sorriam como eu quando dizia
que íamos acampar no Campo da Felicidade. Todos sabiam que íamos atravessar a
ponte, que todos diziam ser longe demais... E diziam que ela não levava a lugar
nenhum... Era longe sim, a ponte era longe demais e isto nos fazia voltar
sempre... Ver a ponte de madeira rústica, olhar o rio com suas águas brilhantes
a correrem para o mar... Na várzea das Borboletas azuis, em uma pequena trilha
cheia de flores silvestres, avistávamos a ponte. A ponte que diziam ser longe
demais... A ponte que não levava a lugar nenhum... Mas nos levava ao Campo da
Felicidade.
Um dia, um dia, ah que nunca mais esquecerei,
um dia que ficou marcado em meu coração para sempre, a ponte não estava lá... A
ponte que nos levava ao Campo da Felicidade tinha partido... A ponte longe
demais agora não mais existia. A ponte que não levava a lugar nenhum agora era
uma réstia de uma lembrança de um passado que se foi... Ficamos ali,
cabisbaixos, deixando o sol nos queimar, nossas mochilas às costas pesando e
nossa preocupação era uma só. A ponte longe demais partiu sem dizer adeus...
Não era um empecilho para atravessar o rio, o rio que serpenteava suas águas e
corria para o mar. A ponte que diziam não ligar a lugar nenhum agora era uma
sombra, um arremedo de sonhos, uma alegoria de um carnaval que passou.
Nunca mais voltamos ao Campo da Felicidade.
Ele e ela, a ponte longe demais se completavam. Um não tinha serventia sem o
outro. Algumas vezes volto meu pensamento no tempo que já se foi. Lembro
daquela ponte, uma ponte longe demais... Uma ponte que não ligava a lugar
nenhum, mas sem ela nunca mais poderíamos voltar ao campo da Felicidade. Não
choro lágrimas doídas, não verto águas que os olhos deixam cair... Meu coração
bate forte quando em minha mente eu vejo a ponte, a ponte longe demais... A
ponte que diziam não levar a lugar nenhum. Vejo-me sentado, olhando o rio que
serpentava naqueles campos que seguia seu rumo para o mar. Sei que não terei
mais aquela visão que me marcou profundamente. Mas enquanto ela existiu me
trouxe a beleza da vida, o sonho da natureza, me ligou de um ponto ao outro
mesmo dizendo que ela era longe demais... Que não ligava a lugar nenhum!
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