Um
pouco de nostalgia faz bem.
Logo eu? Porque não? Ninguém
é perfeito e eu então? Também sou humano, como todos. Sinto alegrias, saudades,
lembranças que machucam dor e por mais que queira dominar meus pensamentos nem
sempre eu consigo. Quantas vezes sozinho em minha varanda, olhando para a rua,
fico tristonho nem vejo os vizinhos me cumprimentando e sinto que meus olhos se
enchem de lágrimas. Desculpem, não sou machão. Sou um chorão sim mesmo com meus
75 anos choro por dentro e por fora. Eu
sei que sou feliz, muito. Agradeço a Deus por isto. Não esqueço a frase que a
felicidade tem nome: - Deus, família e amigos. Mas eis que hoje me senti
triste. Tentei me alegrar e não consegui. Pensei com meus botões: - Chefe (gosto
de me chamar de Chefe, desculpem) como falar em ser feliz, em felicidade, em
driblar as dificuldades, saltar o obstáculo se agora está triste e acabrunhado?
Olhei para o vento que batia nas minhas costas vindo pela escada que leva ao
porão. Ele me deu um pouco de alivio e
tentei sorrir. Não consegui. Uma enorme tristeza invadia meu ser.
Pela manhã tentei
escrever. É minha rotina. Quando estou no meu computador me sinto feliz, mas
hoje não. Não escrevi nada. Foi então que me lembrei do Chico. Chico? Sim o
Chico Xavier. Gosto dele, dos seus escritos, copio muito o que ele escreve. Não
tive a honra de conhecê-lo pessoalmente, mas tenho enorme admiração por sua
pessoa, ou melhor, pelo seu espirito. Lembro que um dia ele contou um dos seus
casos divertidos, mas que mostrava que também era humano. Caso este que deve
ser bastante conhecido por muitos de vocês que aqui estão lendo. Dizia o Chico:
- Foi em 1959, eu me dirigia de Uberaba, para onde eu
me transferira recentemente, para Belo Horizonte, junto da qual está Pedro
Leopoldo, a terra onde nasci na presente reencarnação. Então, o avião decolou
de Uberaba e fez uma breve parada na cidade de Araxá. Depois, o avião decolou
de novo. Depois de uns dez minutos, o avião começou a se inclinar para um lado,
para outro. Às vezes fazia assim uma pirueta, e o pessoal começou a gritar e a
pedir a Deus, pedir socorro. E eu ali acompanhando.
Veio o
comandante do avião e disse que não nos impressionássemos que era um fenômeno
chamado "vento de cauda", e que apenas chegaríamos um pouco mais
depressa. Mas algumas pessoas disseram: - "Mais depressa no outro
mundo!". Eu então comecei também a me impressionar, porque eu não sei qual
é o nome técnico da evolução que o aparelho fazia; uma pessoa entendida em
aeronáutica saberá descrever o caso, dizendo os nomes em que um avião roda de
cabeça para baixo E nós íamos e muita gente começou a vomitar e a gritar,
apertar o cinto, alguns amigos começaram a orar, senhoras começaram a rezar o
terço. Eu com muito respeito, mas quando vi aquela atmosfera, eu comecei a
gritar também. Eu falei assim: bem, todo mundo está gritando, eu também vou
gritar porque isto é a hora da morte. Então comecei a gritar: "Valei-me,
meu Deus!" Comecei a pedir socorro, a misericórdia de Deus, mas com fé,
com escândalo, não é? Mas com fé.
Então nisso, peço até
permissão para dizer, que alguém disse assim a um sacerdote católico que estava
não muito longe de mim: "O Chico Xavier está ali, ele é médium e é
espírita." E esse sacerdote, com muita bondade, disse: "Não, mas eu
sei que o Chico tem pedido orações em muitos documentos e o Chico está orando
conosco no terço." Eu disse: "Graças a Deus, padre, eu também estou
orando." Mas comecei a gritar: "Valei-me, meu Deus!". Então, aí chega
o Espírito de Emmanuel. (Parece que é uma coisa de anedota, uma coisa de
fantástico, mas é a verdade) entrou no avião. Passou no meio do pessoal que não
o via e ele me disse assim: - "Por que é você está gritando? Eu escutei o
seu pedido. O que é que há?" Porque aquilo já tinha mais ou menos 20 minutos,
não é? Eu falei assim: "Bem, o senhor não acha que estamos em perigo de
vida?" Ele falou: "E o que é que há com isso? Não tem muita gente em
perigo de vida? Vocês não são privilegiados, não é?" Eu falei: "Está
bem, se estamos em perigo de vida, eu vou gritar." E continuei gritando:
"Valei-me, socorro, meu Deus!" E o povo todo gritando socorro.
E ele com rosto sério me disse:
"Você não acha melhor calar, parar com isso? Dar testemunho da sua fé, da
sua confiança na imortalidade?" Eu disse: "Mas é a morte e nós
estamos apavorados diante da morte." Ele falou assim: "Está bem,
então você acha que vai morrer." Eu falei: "O senhor não acha que
estamos em perigo de vida?" Ele disse: "Estão." Eu disse:
"Está bem, eu estou com muito medo, estou apavorado como todo mundo, eu
estou partilhando, eu também sou uma pessoa humana, eu estou com medo também
dessa hora e de morrer nesse desastre." Ele disse: "Está bem, então
morra com educação, cala a boca e morra com educação para não afligir a cabeça
dos outros com os seus gritos; morra com fé em Deus!" Eu disse então:
"Eu queria só saber como é que a gente pode morrer com educação!".
Risos.
Quando me lembro dele contando
isto à mente me aclara, o sol parece estar nascendo em alguma montanha onde
acampei. Uma brisa sopra lá fora. Uma menininha passou correndo me dando adeus.
Já não tem mais sombra, a noite se foi. Levanto
da minha cadeira e vou para meu cantinho onde está o computador. Dou um sorriso
gostoso, Celia vem por trás de mim e me dá um abraço carinhoso. Começo a
escrever... “Um pouco de nostalgia faz bem”!
Nenhum comentário:
Postar um comentário