Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Lendas da Jângal. O ultimo Grande Uivo – É difícil dizer adeus...


Lendas da Jângal.
O ultimo Grande Uivo – É difícil dizer adeus...

           Em nossa vida estamos sempre dizendo adeus. Não é um adeus para sempre. Mas para crescer temos que deixar para trás aqueles que amamos e nunca deixaremos de amar. Todos nós um dia deixaremos o nosso lar, sem perceber dizemos adeus aos nossos pais, nossos irmãos, mas continuamos junto a todos eles sempre na mente e no coração. Um dia vamos partir para mais longe, mas o longe é tão perto que nos manteremos unidos em qualquer tempo. Muitas vezes sentimos saudades do passado, buscamos lá no fundo da memória cada ato, cada ação e isto nos trás um bem tremendo. Dizem que recordar é viver. Acredito sim. Lembrando Drummond ele dizia que fácil é dizer “oi” ou “como vai?” Difícil é dizer “adeus”... Fácil é abraçar, apertar a mão. Difícil é sentir a energia que é transmitida... Fácil é querer ser amado. Difícil é amar completamente só...

           Realmente é difícil dizer adeus. Uma palavra que não gostamos de usar. No escotismo estamos sempre dizendo adeus. Um adeus diferente, pois estamos a poucos passos daqueles que despedimos. Mas aquela saudade gritante ainda machuca quando partimos para a Cidade dos Homens. Se um dia fomos lobos o nosso amor a nossa Alcateia, a nossa Akelá, nosso Balu, Kaa, Baguera ou Raksha ficará para sempre em nosso coração. Se ali vivemos uma vida cheia de amor, nada poderemos fazer para que um dia cada um de nós fique para trás. Vai chegar a hora de dizermos adeus. Faz parte do nosso crescimento? Sim faz parte. Iremos deixar para trás um pedaço de nós. Não foi assim que disseram? O homem ao homem! É o desafio da Jângal! Já parte aquele que foi nosso irmão. Ouvi, então, julgai, ó vós, gente da Jângal, respondei: - Quem irá detê-lo então?

          Tantos anos, um tempo simples cheio de amigos e sem querer sabemos que o homem vai ao homem, mesmo que saibamos que na Jângal está a nossa trilha, ninguém mais vai poder nos seguir. Nem mesmo Shere Khan. Permanece aquela dúvida cruel de menino lobo, a lembrar de que Mowgly queria ter morrido nas garras dos Dholes, quando sua força esvaiu-se e ele sabia que não foi veneno. Dia e noite ouvia um passo duplo no seu caminho. Quando voltava à cabeça sentia que alguém se esconde atrás. Procurava por toda parte atrás dos troncos, atrás das pedras, e não encontrava ninguém. Chamou e não tinha resposta, mas sentia que alguém o ouvia e se guarda de responder. Ele se lembra de tudo. Sabia que tinha de partir. Se Baloo, Akelá disse que ele iria um dia partir para a Alcateia dos homens não tinha como fugir. Não era a lei? Não foi Kaa quem disse que homem vai para os homens? Mesmo que a Jângal não mais o expulse? É não adiantava mesmo que os irmãos Gris uivem furiosamente dizendo – Enquanto vivermos ninguém, ninguém mesmo ousará!

           Ele sente que já está com saudades. Estão todos prontos para o Ultimo Grande Uivo. Quantas vezes ele os fez? Quantas vezes ele gritou melhor, melhor, melhor e melhor? Quantas vezes a Akelá no centro do círculo de braços abertos olhou para ele e ele sabia o que responder? Tudo agora vai acabar para sempre? Mas ele se lembrava das palavras de Bagheera dizendo que ele deveria seguir novos caminhos – Senhor da Jângal, lembra-se que Bagheera te ama, vai em paz. O Grande Uivo terminou. Era a hora da passagem. Passagem? Ele iria partir? Dizer adeus? Olhou além da floresta e viu os homens meninos o esperando. Ele já os conhecia. Ficou varias luas com eles. Foi bem tratado, aprendeu a dizer o Grito da Patrulha, aprendeu o novo lema à saudação. Aprendeu muitas coisas...

              Ele não sabia se chorava ou se dizia adeus quando se despediu de cada um. Mão por mão. Aquela do coração firme como a dizer: - Estarei sempre aqui e vocês estarão sempre aqui no meu coração. Olhou para Kaa e lembrou que ela chorava e que era difícil arrancar a pele, mesmo que Baloo também chorasse e pedia que antes de partir ele o chamasse. Venha até a mim sábia rãnzinha e ele quase rompeu em soluços naquela despedida dolorida. Não se esqueça de mim. Ele lembrava quando estava partindo e Kaa repetia – “Somos todos, eu e você irmãos de sangue”. Seus olhos estavam molhados de lágrimas. Tinha de partir, sabia que está era sua sina seu destino. Ainda deu para ouvir os soluços e os gritos do Lobo Gris que de olhos erguidos para o céu dizia – Onde me aninharei doravante? Pois agora os caminhos são novos...

          Era seu último Grande Uivo. Mais uma vez olhou lobo por lobo. Nunca mais iria esquecer aquele dia. Hora de partir. Sempre é uma hora difícil de dizer adeus. Mais uma vez ele se lembrou das palavras do seu irmão o lobo Gris – “Filhote de homem, senhor da Jângal, filho de Raksha, meu irmão de caverna, O teu caminho é o meu caminho. A tua caça é a minha caça e a tua luta de morte é a minha luta de morte”. E ele completou gritando para a Alcateia quando partiu - “Boa caçada grande povo da Jângal”! Não tinha mais nada a dizer. Mais uma vez deu seu ultimo adeus e ouvindo a canção do lobinho ele partiu para seu novo mundo. Akelá o levou até a trilha que o levaria a cidade dos homens. Segurou sua mão esquerda e disse – Você sempre será bem vindo ao nosso meio. Quem foi um lobo sempre será um lobo. Vá com Deus e que na cidade dos homens você seja feliz como foi aqui!

        O Monitor e o Chefe o esperavam na trilha da cidade dos homens. Com sorriso saudoso e venturoso ele apertou a mão do Chefe e do seu Monitor. Agora teria uma patrulha, agora ele teria de agir como homem. Sabia que todos iriam ajudá-lo na nova vida. Pois ali disseram eles que seriam um por todos e todos por um. Olhou para trás, acenou para a Akelá e os lobinhos. Seu coração bateu forte. Que vontade de voltar de dizer que não queria ir. Mas agora não era um homem? Suas passadas deviam ser para frente e voltar seria um retrocesso. Pensou consigo como era difícil dizer adeus. Difícil mesmo, mas agora era um homem. Disseram para ele que o homem mais sábio e mais digno de confiança é o que aceita as coisas como são. Ele agora tinha uma nova vida. Sabia que não seria fácil, pois nada neste mundo é fácil. Mowgly não era mais o mesmo quando partiu. Seu coração doído iria se regenerar. Foi saudado por todos na Tropa Escoteira, na cidade dos homens. Fez questão de apertar a mão de todos. Havia aprendido que o Escoteiro é amigo de todos e irmãos dos demais escoteiros.

“O abutre Chill conduz a noite incerta, e que o morcego Mang ora liberta - É esta a hora em que adormece o gado, Pelo aprisco fechado. É esta a hora do orgulho e da força unha ferina aguda garra. Ouve-se o grito: Boa caça aquele Que a Lei da Jângal se agarra”.


Nota de Rodapé: – Ai de mim! Exclamou Mowgly em soluços. Eu não sei o que sei! Não vou, não vou, não quero ir, mas sinto-me arrastado por ambos os pés. Como poderei deixar de viver estas noites do Jângal? – Ergue os olhos, irmãozinho, disse Baloo. Não há mal nisso. Quando o mel está comido, abandonamos os favos. – Depois que soltamos a pele velha, não podemos vestir de novo, ajuntou Kaa. É da lei. A pantera lambeu os pés de Mowgly. – Lembra-te que Bagheera te ama, disse ela por fim, retirando-se num salto. No sopé da colina entreparou e gritou: Boas caçadas em teu novo caminho, senhor da Jângal! Lembra-te sempre que Bagheera te ama.

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