Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

quinta-feira, 12 de março de 2020

Papo de Velho Escoteiro. O COVID-19 vulgo Corona está no PAXTU ou no POR?




Papo de Velho Escoteiro.
O COVID-19 vulgo Corona está no PAXTU ou no POR?

Debrucei nos meus arquivos, que tem mais de 38 artigos para publicar cujo tópico chamo amavelmente de “Crônicas de um Velho Escoteiro”, evito colocar rabugento, ranzinza e ranheta. Tudo bem sou um velho Escoteiro mesmo, daqueles lá das bandas das Gerais, dos anos quarenta que nem lembro mais. Não sou tão antigo e nem me dou ao luxo de dizer que sou um “Velho Lobo”. Esgaravatei página por pagina e vi que ali tinha um bom manancial para postar e ver muitos curtindo alguns poucos compartilhando e alguns gatos pingados comentando sobre o tempo e outros dizendo olá meu Chefe, tudo bem? Mas será que isso não é bom demais? Afinal ainda os tenho e conservar faz parte da minha formação do artigo da lei que amo: O Escoteiro é amigo de todos e irmão dos demais escoteiros... Disso faço questão e não abro mão! Nem que a Escoteiros do Brasil me peça para ir para aquele lugar, logo penso que é Shangri-lá, pois toda vez que acampava nas Montanhas do Ibituruna, logo pensava na descrição da cidade: Um lugar paradisíaco situado nas montanhas dos Himalaia, panoramas maravilhoso onde o tempo parece deter-se em ambiente de paz, felicidade e fraternidade...

Mas eis que surpreendentemente, recebo do meu amado filho Marcus, um áudio do doutor Fabio Jatene do Incor sobre o tal Corona, que sei não está no Paxtu e nem no POR. Ouvi com atenção. Francamente estou prá lá do Aiatolá e de tanta gente infectada. Os órgãos da imprensa não tem outro assunto. Uma TV por assinatura chega ao ponto de dedicar duas horas ouvindo os experts no assunto. Bem, educadamente para atender ao meu filho, ouvi o áudio do começo ao fim. Quer saber? O melhor que ouvi até agora. Deverasmente fiquei preocupado. Afinal chegando nos oitenta, velho rabugento, cara de comadre que comeu tomate com limão, não posso facilitar. Tenho a tal de diabete, da pressão alta e o melhor um Enfizema Pulmonar que me comeu metade do pulmão, me deixou sem ar, fraco como diz a galinha d’angola – Tô fraco! Tô fraco! Sou presa fácil para o tal Covid-19. Mas olhe, sou durão, mesmo com a minha bengala percorro 800 metros todos os dias e ainda faço alguns exercícios naqueles aparelhos de parques e etc;

E eis que tive uma ideia... Eureka! Porque não imitar o Chefe Zezé, aquele que com seus oitenta e quatro anos resolveu fazer o seu último acampamento? Ainda não leu? Um conto batuta se der vou publicar hoje à noite. Ele se revoltou por não o deixarem viver seu sonho de fazer o seu último acampamento, como sempre fazia a “lá Escoteira”, aquele que anda só. De madrugada, mochila no costado, cantil faca e facão e sua inseparável Silva para lhe mostrar o caminho, partiu sem ninguém ver e foi acampar onde sempre sonhava em ir. No sopé da montanha do falcão, onde havia um bosque com arvores de abacate, mangas e goiabas, Jatobás e Jenipapo e melhor, perto de tantas nascentes, comida farta na floresta, peixes pulando no remanso do Rio Pardo ele sabia que ali era sem éden, seu paraíso. Sabia que ali ele poderia viver para sempre. Sua família prá lá de preocupada, procurou e só dois meses depois o encontrou. Assustaram quando o viram sorridente, engordou corpo curado, pulmão sorrindo, o ar dando gritos de prazer. O levaram de volta a contragosto, jurou voltar, ali seria sua morada seu Paxtu seu ultimo lar aqui na terra!

E então começo a fazer planos. Aonde ir? Na mata do Tenente onde iniciei minha saga de Tarzan? No postado do Pico do Ibituruna onde centenas de vezes escalei? Nas matas de Derribadinha, jangadeiro a atravessar o Rio Doce para me encontrar com Guaraciaba, meu amigo cacique da Tribo dos Botocudos que penso nem existir mais... Faço mil planos. Sei que se encontrar uma floresta paradisíaca ficarei livre deste vírus infernal. Sei que onde escolher não haverá animais infectados, nem mesmo os macacos-pregos-dourados que dizem ser presa fácil da febre amarela que matou muita gente, mas que ninguém tem medo como tem do tal Corona... Resolvo treinar... Me adestrar... Ando devagar com minha amada bengala. Como fazer pioneiras com ela? Como entrar no remanso para brincar com os peixinhos se meus ouvidos zumbem quando entra água fria? Um casal de namorados passa por mim apressados. Não sei se estavam fazendo o passo duplo ou o passo escoteiro. Penso calmamente se vou aguentar esta nova aventura, bem maior que aquela feita a pé em Barra do Cuieté Velho, onde mataram o padre assobiador.

Célia, minha amada esposa desaconselhou. Marido vai ficar livre do tal Corona, vai respirar ar puro, irás comer do bom e do melhor do que colher e pescar em qualquer Shangri-la que encontrar... Mas e eu? Não estarei ao seu lado? Não posso deixar os filhos que estão aqui, nem os netos, não posso ficar longe da Maria Eduarda nossa bisneta que me encanta e a quem amo tanto! Célia tinha razão. Melhor é ficar longe de aglomeração. Lavar as mãos oitenta vezes por dia (acho que elas irão desaparecer no sabão) tossir na “cacunda” do cotovelo do braço. Mas sei que isso é pouco, se alguém com o vírus escoteiro, opa! Vírus mortal me pegar, irei sorrindo para meu outro lugar. Sei que lá um dia todos irão me encontrar. Levarei saudades da minha amada, dos que tem o mesmo sangue que eu. Levarei saudades da escoteirada, que por alguns dias irão lembrar do Velho Chefe Rabugento, nas paginas do aqui agora e depois... Baú,  baú!

Porque tudo isso? Porque um vírus sarnento chegar de mansinho para levar a gente para o céu? Que seja o que Deus quiser. Enquanto isso continuo a sonhar, como sonhou o Chefe Zezé. Na minha varanda calado, medito por algum tempo. O que ele fez tento acreditar que foi verdadeira felicidade. Trinta dias nas Serras do Cantagalo. Local maravilhoso, linda aguada, um céu incrível e bom para contar estrelas... Lembro quando ele me disse que montou um campo só dele, tinha tudo que eu podia imaginar... Sua cabana de galhos, folhas e capim aguentou chuvas e vendavais. A fartura era imensa, aipim, jabuticabas, bananas caturra, taioba, maracujá, mamões e frutas silvestres. Chefe lembro que ele falou... Ali foi meu éden meu paraíso. Quero rever o Caminheiro e a Midiata dois lobos amigos, quero rever os Quatis que me acompanhavam aonde ia. Quero conversar com Morena a linda Coruja buraqueira que nunca me deixou só...

Corona Vírus... Se todos pudessem acampar a “Escoteira” como o Chefe Zezé, ele já  teria sido extinto. Como daria minha vida para voltar no tempo, nas matas do Tenente, nos campos dourados de Derribadinha, no Pico do Ibituruna ou na Serra do Cipó. Poderia mesmo me esconder como aquela vez que me perdi em Lagoa Santa, nas grutas da Lapinha e Sumidouro. Lá só encontrei encantos, graciosidade, ar puro e estrelas a granel. Mas gente escoteira, não dá, tenho que enfrentar a realidade, farei tudo para evitar esta moléstia que assola o meu Brasil. Mas se ela me encontrar, vou usar o meu bastão de duas e meia polegada com ponteira de aço, vai ser uma luta infernal. Que seja que vença o melhor e que Deus me ajude na última batalha da minha vida!  

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