Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

terça-feira, 31 de julho de 2012

E os ventos mudaram de direção.



E os ventos mudaram de direção.
            
Eu gosto do vento ou da brisa fresca da manhã. Sinto-me feliz quando eles tocam minha face, meu rosto, meu corpo e sinto que quando isto acontece eu procuro sempre rever os momentos felizes de um passado cujo tempo se foi também com o vento. Os meus melhores momentos no escotismo foram no alto de uma montanha, ver o nascer do sol, a brisa leve, o orvalho caindo e uma vista espetacular. Nem sempre isto aconteceu. Uma vez ficamos quatro dias na Serra da Piedade e nada. Uma serração nos fez companhia nestes dias. Mas valeu.
             Todas as noites eu rememoro o passado. Chamam-me de saudosista. E quem não é? Espere voces atingirem minha idade e serão como eu sou hoje. Só fico triste quando vejo tudo diferente do que era antes. Novos tempos. Tantos defendendo. E o pior e que hoje os chefes possuem tantas literaturas disponíveis que nem se comparam com aqueles tempos das diligências e de John Wayne. Sete anos e meio, entrei para lobinho. 1947. Grande Uivo? Totalmente diferente. Mas literatura? Não existia. Um dia Fumacinha apareceu com um livro da Jângal. Desculpe. Fumacinha era nosso Akelá. Só o chamávamos assim. Chamou a Alcatéia. Fizemos um bolo de lobos em cima dele. Mostrou-nos as páginas, falou de Mowgly falou de Shere Khan. Que espetáculo. Maravilha! Nunca ninguém viu nada igual.
              Passei para Escoteiro. Passei direto, pois ainda não sabíamos da trilha e tantas outras coisas. No primeiro ano fui adestrado pelo meu Monitor o Romildo. Ele sabia pacas. Um mateiro dos bons. Conseguíamos de revistas avulsas algumas fotos de nós e amarras. Poucas por sinal. Um ano depois (1951) nosso Chefe Jessé trouxe da capital cinco volumes do livro Guia do Escoteiro do "Velho" Lobo. (Almirante Benjamim Sodré) Foi uma festa. Levei um para casa. Virei à noite lendo. Que livro estupendo! Claro foi o único que tinha visto até então. Nossa Patrulha a Raposa passou a fazer tudo que estava no livro. Nossas reuniões eram livres. Chefe Jessé chegava, hasteávamos a bandeira, oração inspeção e nós mesmo fazíamos os jogos. Depois era só adestramento e algumas competições de nós, sinais, Morse, semáforas e outros jogos de força.
               Ficávamos pouco na sede. Na maioria dos fins de semana saiamos a acampar ou excursionar. “Acampei prá caramba!”. (risos, não é chute, mais de 750 noites em toda minha vida Escoteira até hoje) Como Sênior mais ainda. Agora tínhamos “idade”. Grandes jornadas ciclísticas de mais de quatrocentos quilômetros. A pé fizemos várias. A maior de oitenta quilômetros. Outras tantas de trem ou de carona. Estavam construindo a Rio Bahia e os caminhões caçambas gostavam de nos dar caronas. Nos seniores tinha um Chefe chamado Munir que pouco comparecia. Interessante, nos lobinhos apesar de tudo tínhamos mais de dezoito lobos. Como Escoteiro mais de trinta e nos seniores três patrulhas com sete cada. Éramos sempre os mesmos, entra ano e sai ano. Vagas? Difícil. Alguns esperavam anos.
               Enfim nossa literatura era recorte de jornais, de revista e do livro do "Velho" Lobo. Um dia resolveram fazer os pioneiros eu com dezoito entrei. Fiquei quase dois anos e surgiu um curso na capital. Curso de Adestramento Básico. Cinco dias. A região subsidiava tudo. Beleza. Lá fui eu. 18 horas de trem. Conheci outro escotismo nos moldes de BP e do que chamam de Sistema de Patrulhas. Para dizer a verdade pouco diferia do que fazíamos.  Conheci outros chefes, diferentes daqueles que convivíamos nas cidades vizinhas que possuíam grupos escoteiros.
                Tornei-me Chefe. Enchia a boca para dizer: Chefe! Risos. A vida nos reserva surpresas. Muitas coisas aconteceram. Vivi experiências incríveis. Virei Insígnia, muito importante! Participei da Corte! (direção regional e nacional) E o sonho de muitos me tornei Diretor de Curso! Quatro tacos! Puxa! Como fui importante, já me chamavam de chefão! Um dia conto tudo aqui. Até lá fico pensando do que eu gosto mesmo é do vento e da brisa, gosto do nascer do sol. Gosto de uma barraca, de uma campina verdejante. Gosto de um riacho, de uma cascata, Gosto de uma montanha gosto de colocar a mochila nas costas e dizer, lá ao longe, muito distante fica o campo aonde vou! Isto me faz muito bem. Imagino se com tanto modernismo de hoje eu teria feito o que fiz. Imagino se uma tropa mantivesse os mesmos patrulheiros por anos e anos. Imagino tantas coisas que coloco na balança os Grandes Pensadores e Formadores Escoteiros de hoje que relutam em aceitar pelo menos um pouco do passado. Batem-se tanto na modernidade! Que eles sejam felizes com suas ideias com seus ideais. Alguns até chamam BP de velhinho, de ultrapassado, de tantas coisas que nem sei onde está a verdade absoluta. Comigo ou com eles? Com eles claro. Eles são modernos e eu um velhote perdido no tempo.

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