Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 11 de agosto de 2012

As crônicas de um Chefe Escoteiro. O Escoteiro do Rio.



As crônicas de um Chefe Escoteiro.
O Escoteiro do Rio.

          Corria o ano de 1953. Levantei cedo. Não precisava, mas era terça feira. E as terças e quintas eram sagradas para mim. Estava em férias do colégio e poderia dormir até tarde. Mas repito, hoje era terça, dia de ver e namorar a Dorita. Entrando nos treze anos e apaixonado por Maria das Dores para ser mais específico. Tomei um café correndo e fui para a Rua Peçanha, logo no início da praça de esportes. Encostei a bicicleta no muro e fiquei esperando. Sabia que todas as terças e quintas ela chegava à janela de sua casa, me olhava uns minutos, jogava os cabelo loiros encaracolados de um lado e outro, dava uma piscada de olhos para mim e fechava a janela. Isto me encantava. Era lindo isto. Já namorava assim com ela por quatro meses. Eu sonhava com ela, mas primeiro o escotismo. Sempre foi assim. Quando a janela abriu o Israel chegou a toda velocidade com sua bicicleta.
         Espavorido chegou logo dizendo que estava na cidade um Escoteiro do Rio de Janeiro. Alguém já tinha levado ele para a sede Escoteira. Caramba! Pelas barbas do profeta. Meu namoro com a Dorita ficaria para a próxima quinta. E lá fomos nós em desabalada carreira para a sede. Mais de trinta Escoteiros e lobinhos lá se encontravam. Todos nós vibrávamos quando aparecia um Escoteiro ou Chefe de outra cidade. Ninguém ficaria de fora sem olhar e conversar com ele. No centro da roda ele chamava atenção. Uniforme diferente. Calça azul, camisa de mescla azul clara, meiões pretos e uma boina preta tipo Montgomery. E na boina tinha um lindo distintivo de metal em forma de asas com uma flor de lis.
         Cheguei e entrei na roda. - Sempre Alerta disse! Ele sorriu para mim. Sentei e ele continuou conversando com todos. Dizia que morava próximo a praia do Arpoador (não fazia a mínima ideia). Era Escoteiro do Ar. Já tinha viajado em diversos tipos de avião. Seu pai era Piloto da Panair do Brasil. Contou que fazia mil coisas como Escoteiro do Ar. Seu pai tinha um teco-teco e ele por diversas vezes dirigiu o monstro. Acamparam em Paquetá, em Niterói, na região dos lagos, já fora na Alemanha, nos Estados Unidos. Lindo! Que Escoteiro feroz. Um autentico acampador! Ficamos ali por horas. Todos ouvindo o Escoteiro do Rio contando suas aventuras.
         Lá pelas duas da tarde convidei a ele para ir almoçar comigo em minha casa. Agradeceu, pois estava na casa da avó e se não fosse lá almoçar teria que ouvir poucas e boas. Bem, durante a semana ficávamos o dia inteiro com o Escoteiro do Rio. Passeamos com ele em vários lugares e depois de consultar o Romildo nosso Monitor o convidei a ir a uma excursão noturna no Pico do Papagaio no próximo sábado. Iriamos logo após a reunião terminar e voltaríamos no dia seguinte à tarde. Ele aceitou só não tinha mochila. Sem problemas. Tínhamos guardado na sede várias ganhas da polícia militar. As demais patrulhas sabendo que ele iria resolveram ir também.
        Sábado, sete da noite. Lá íamos nós em fila indiana as quatro patrulhas e o Guia Zenir seguia em frente. Eu ia ao lado do Escoteiro do Rio. Orgulhoso. Iria contar para muitos que ele ficou do meu lado e subiu a serra comigo. O Pico do Papagaio era próximo a nossa cidade. O duro era a subida. Treze quilômetros que matava qualquer um. Eu já tinha ido lá varias vezes e jurava sempre quando ia que seria a última vez. Eram onze e meia da noite. O Escoteiro do rio começou a chorar. Paramos. Quem sabe um espinho? – Eu quero mamãe! Eu quero mamãe! – Deus do céu! O que era aquilo? Só então ele nos contou que tinha onze anos e passou para a tropa vindo dos lobinhos no mês anterior.
         Foi demais para mim e todos da Patrulha. Rimos a mais não poder. Achávamos que junto a nós estava um Super Homem e era um lobinho crescido e que nunca fez atividade em Patrulha. Estava morrendo de medo e de cansado. Distribuímos sua mochila entre nós, e voltamos à cidade. As demais patrulhas continuaram. Eram uma da manhã quando o deixamos na porta da avó dele. Os olhos cheios de lágrimas. Chorava de fazer dó.
         Bem, lá se foi o nosso herói. Mas sabíamos que ele iria crescer. Aprender e ser um bom mateiro, mas que servisse de lição para não ser gabola, mentir dizendo o que não era. Nunca mais ouvi falar no Escoteiro do Rio. Para dizer a verdade nem o nome dele ficamos sabendo. Quem sabe ele está aqui a ler esta história e vai lembrar? Alô Escoteiro do Rio, (hoje beirando os setenta anos) Sempre Alerta para você! Apesar dos pesares você significou muito para nós. Sempre Alerta! E meu namoro com Dorita continuou por mais alguns anos. Ela lá naquela janela encantada a piscar para mim e eu encostado no muro a sonhar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário