Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

domingo, 25 de novembro de 2012

A Ampulheta do tempo. Era uma vez... O último natal.



A Ampulheta do tempo.
Era uma vez... O último natal.

                        O tempo passa. É mais que o relógio que marca as horas. Inexoravelmente. Algumas vezes deixa marcas, tristezas e alegrias, outras não. Marcas que ficam gravados na memória e até em nosso próprio modo de viver. Um dia, a beira de uma estrada com uma reta infindável eu comecei a notar a passagem dos carros em alta velocidade. Até aonde a vista alcançava eu via um automóvel pequenino que se aproximava e seu tamanho ia aumentando. E quando eu ia ver quem estava dentro dele ele passava tão rápido que não podia ver. Em grande velocidade ele em alguns segundos desaparecia na estrada sem fim. E assim veio outro e mais outro. Significava o que? Quem sabe a medição do tempo? Mas é possível medir o tempo? Dizem que ele passa tão rápido que nem percebemos.

                          Sei que não se pode medir o tempo. Filosofando seria possível dizer que ao nascermos alguém virou a ampulheta do tempo e nossa vida começou a ser contada. Tic tac, tic, tac. Claro, um dia está ampulheta irá ficar vazia. Durante sua jornada, ela vai marcando o seu tempo. Na primeira década estávamos a descobrir coisas. Aprender o certo e o errado. Brincar, sonhar, coisas de meninos e meninas. Na segunda década a puberdade. O mundo fácil de alcançar. O primeiro amor, a descoberta dos sonhos. Vem à terceira década. A escolha de uma cara metade para fazerem uma vida juntos para sempre. A faculdade, o emprego, os negócios, os sonhos deliciosos de um futuro promissor. Há quarta década começa a assustar. Nem tudo deu certo. Muitos dos sonhos não se realizaram. O poder, a riqueza, o ser feliz para sempre se tornou um conhecimento pragmático do mundo que ficou para trás. Há quinta década, a autoanálise. Valeu? Esqueci alguma coisa? Era o que queria? E aparece assim de repente há sexta década. A ampulheta está se exaurindo. É hora de pensar em tudo que realizou. Será que fui feliz? Valeu a pena? O corpo já não é o mesmo. Os remédios vão aumentando. Agora aquela preocupação com os ambulatórios e prontos socorros da vida. Há sétima década a ampulheta está quase no fim. Passa-se a olhar para ela com mais carinho. Agora sempre se tem um sorriso verdadeiro. Já não há mais chance de riqueza, poder, planos. Agora é contar os carros nas estradas da vida e ver que eles passam tão rápidos que o tempo não pode ser notado.

                           Lembro-me do meu último natal. A mesa cheia de filhos, netos, genros, noras, sogra, cunhado. Alegria só. Olhava para todos e pensava que quando viraram a minha ampulheta nada daquilo existia. Era eu somente. A ampulheta não parou, produziu tudo aquilo que estava em volta de minha mesa. Era como um leque que aos poucos se abria. Sorria, pois apesar de tudo, de sonhos que não se realizaram, das fantasias esquecidas no fundo de um bornal, havia um “que” de felicidade. O natal foi passando, pois assim passam todas as coisas do tempo. Esperar o próximo. Sem planos. Sem sonhos. Vivendo o dia como ele é. Fechar os olhos para não ver o automóvel sumir na estrada do tempo. Fechar a mente para não ver e sentir o último grão de areia da ampulheta da vida.

                            Um novo natal está chegando. Mais um que o tempo vai me presentear. E quantos natais eu tenho? Não sei e não importa. Sejam bem vindos todos que vierem. Aproveitar os minutos e segundos que ainda posso ter. Ver meus familiares reunidos, barulhos, sorrisos, gargalhadas, um pedaço do pobre do peru que se sacrificou para dar alegria aos “gulosos” da vida. Olhar a cerveja e aquele uísque com olhos brilhantes e pensar como eram deliciosos no tempo que um dia se foi. Em Eclesiastes, eu li um dia que – “Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo propósito debaixo do céu: O tempo de nascer e tempo de morrer. Tempo de chorar e tempo de rir. Tempo de Abraçar e tempo de afastar-se. Tempo de amar e tempo de aborrecer. Tempo de guerra e tempo de paz”.

                           Melhor seria copiar Charles Darwin que foi verdadeiro em suas palavras – “O homem que tem coragem de desperdiçar uma hora do seu tempo não descobriu o valor da vida.” E assim, de natal em natal em vou ficar a pensar quando será meu último. Melhor mesmo é não se preocupar. Cada natal vivo é natal alegre e assim ainda sonho em viver muitos natais nesta marcha implacável e inflexível da Ampulheta do Tempo!             

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