Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

domingo, 13 de janeiro de 2013

A Lobinha Laninha e o mistério dos sinos da Igreja Matriz.



Lendas Escoteiras.
A Lobinha Laninha e o mistério dos sinos da Igreja Matriz.

                       Não sei se vão acreditar. Dizem que eu invento muito. Mas juro de pé junto que estive lá. Acreditem se quiserem. Há muitos anos eu conheci uma cidade no interior do sertão de Pernambuco. Nem sei como fui ali parar. Não foi pela minha empresa, acho que foi um golpe do destino, pois deveria ter ido a Sertânia e fui parar em Terra Santa. Pequena, menos de vinte mil almas. Nem hotel tinha. Fiquei na Pensão das Esmeraldas de Dona Eufrásia. Para dizer a verdade a melhor cozinha que tinha conhecido. Almoço ou jantar era um manjar dos deuses. Acho que foi por causa dela e de Laninha que fiquei por cinco dias em uma cidade onde não tinha cinema, TV e as luzes da cidade eram desligadas a onze da noite. Na primeira noite alguns hóspedes conversavam sobre a lenda dos Sinos. Inteirei-me de tudo. Todas as noites de lua cheia os sinos da Matriz tocavam um melodia desconhecida. Muitos estavam ali como turistas. A fama dos sinos ganhou mundo. No dia seguinte seria lua cheia e eles e outros milhares iriam chegar para ouvir e ver os sinos tocarem.

                  Não sou cético e nem tampouco um fanático por lendas. Dona Eufrásia me contou que desde a morte da Lobinha Laninha no ano passado o sino tocava a meia noite nas noites de lua cheia. – Lobinha? Perguntei. – Sim ela respondeu. Aqui tínhamos um Grupo Escoteiro. Melchior um rapaz dos seus vinte e oito anos um dia chegou à cidade e comprou a Farmácia do Beraldo. Junto estava a filha de três anos. Sozinho sem a esposa. Dizia ser viúvo. Durante mais de quatro anos se tornou uma figura conhecida e bem quista por todos. Sempre contava “causos” de quando foi Escoteiro. Melanino o Prefeito o incentivou a organizar um. A Prefeitura daria uma verba. Melchior animou-se. Pediu o padre que convidasse pais interessados a colaborarem. No dia marcado mais de oitenta pais. A maioria mães. O primeiro passo foi dado. Quatro meses depois os primeiros escoteiros e os primeiros lobinhos.

                  Era um sucesso o Grupo Escoteiro da Cidade. Por votação ele se chamava Grupo Escoteiro Coronel Torres Belarmino em homenagem ao fundador da cidade. Melchior era o Chefe do Grupo. A diretoria ativa. Mariazinha uma professora assumiu como akelá e com mais duas assistentes tinha uma alcatéia linda e os lobinhos amavam sua Chefe. Claro que Laninha foi uma das primeiras inscritas. Durante dois anos o Grupo Escoteiro fez história. Chegou a ter em suas fileiras quinhentos participantes. Um dia alguém veio correndo dizer que Laninha caíra da torre da igreja. Contava antes de morrer que queria ver o sino tocar. Ele estava estragado e há mais de dois anos não tocava. Segurou na corda perdeu o equilíbrio e caiu de uma altura de trinta e seis metros. No seu funeral a cidade em peso presente. Um Sênior tocou no seu clarim o toque de silêncio. Todos choravam. Mais ainda a Akelá Mariazinha. Ela estava inconformada.  Laninha era uma menina muito amada por todos.

                  O Grupo Escoteiro Coronel Torres Belarmino sofreu um choque com o acontecido. Muitos saindo. Chefes desistindo. Em uma noite de lua cheia para espanto da população o sino começou a bater e a tocar. Era uma musica suave, mas ninguém sabia o que era. Resolvi ficar ver e ouvir o tal sino. Pedi autorização ao Padre para subir até a torre e ver como um sino tocaria sozinho. Onze horas da noite eu fui subindo devagar as escadas até o topo. Cheguei e sentei em um banquinho. Acendi meu legítimo cachimbo Irlandês e deglutindo aquele “blend” infernal esperei. Onze e cinquenta e cinco vi um vulto. Primeiro uma nuvem branca e nela um vulto. Uma menina vestida com seu uniforme de lobinha. Linda. Sorria. Nem olhou para mim. Não me deu uma palavra. Levantou os dois bracinhos e como se fosse uma grande Maestra o sino começou a tocar. Prestei atenção na música. Reconheci logo. Era a sonata de Schubert, (Franz Peter Schubert) “Sinfonia Incompleta”. Maravilhoso! Estava embasbacado.

                A menina sorria. Que sorriso maravilhoso! Tentei falar com ela. Nada. Ela estava como se vivesse o momento para aquela musica e eu francamente não entedia o seu amor por ela. Alí, no sertão de Pernambuco quem poderia gostar de Schubert? Cinco minutos depois a musica terminou. Agora era outra. A musica eu também conhecia. Agora tocava bem baixinho nada mais nada menos que a “Canção da Promessa”. Fechei os olhos e vi a força daquela orquestra sinfônica. Ela regia como se tivesse feito aquilo a vida inteira. Meu Deus! Qual o mistério? Nunca soube. Tentei conversar com o Padre. Ele nada. Tentei falar com o Chefe Melchior. Ele não acreditou em mim. Na cidade ninguém acreditou no que eu dizia.

             Dona Eufrásia sorriu. – Olhe, vou lhe contar. Ninguém sabe e alguns não querem saber. Não querem acabar com este encantamento. A cidade todos os meses depende dos turistas que chegam. Chefe Melchior era violinista da Orquestra Sinfônica de Pernambuco. Quando sua esposa morreu vitima de Poliomielite ele desesperado veio parar aqui. De farmácia não entende patavina. Nunca mais pegou em um violino. Sua filha o admirava quando ele tocava. Quem sabe ela agora procura nos céus uma maneira de ouvir o pai? Coisas misteriosas e uma charada impossível de ser desvendadas. Enigmas que ninguém quer saber. Preferem o impossível.  Não sou bom nisto. Alí em Terra Santa eu tinha certeza que ninguém entenderia. Dona Eufrásia me olhou com um olhar “treteiro”. Meu amigo há mais mistérios entre o céu e a terra, do que toda a nossa vã filosofia. Puxa! Dona Eufrásia uma velhinha dos seus setenta anos, cabelos brancos também versada em William Shakespeare?   

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