Jogando
conversa fora.
Mochila ame-a
ou deixe-a.
Já tive várias na vida. Tentei guardar a
primeira, mas uma enchente me deixou órfão. Quase chorei. Na sede escoteira
tinha um báu delas. Presentes do Batalhão Militar da cidade. Com o tempo fui comprando outras. A pior de
todas foi a com armação de metal. Uma jornada de vinte quilômetros acabou
comigo. Jurei nunca mais usar. Aprendi desde pequeno que mochila não é armário
ou guarda roupa. Aprendi usando. O Akelá disse – Não vou dar lista. Levem o que
acharem necessário. - Penei. A mochila não deu. Levei mais um bornal e uma
sacola. Fui alvo de gozação. Lobinho pata tenra só aprende assim. Mas aprendi.
E como aprendi. Afinal subir montanhas, quilômetros e quilômetros em vales e
gargantas, atravessar rios ou andar em lombos de burros foi lição para nunca
mais esquecer.
Você pode dar uma relação de itens para
eles levarem. Não vai adiantar. Mamãe, titia ou Vovó sempre tem mais um. Nunca
ri de Escoteiros noviços ao chegarem à sede parecendo uma árvore de natal. Mas
que dava vontade de rir dava. Ele chegava vermelho. Sonhando com o acampamento.
Eu só dizia – Vai precisar mesmo de tudo isto? Ele orgulhoso respondia - Claro
Chefe. Afinal não foi o senhor quem disse que quem vai para o mar avie-te em
terra? Tá bom. Aprender a fazer fazendo. Um quilômetro e o pobre bufando. Dois
quilômetros desmaia na sombra de uma árvore. – Aprendeu? Claro que sim. Sem
ajuda. Nunca deixei ajudar. Levou tem de carregar. Faz parte do crescimento.
Eu aprendi assim. Cortava isto, cortava
aquilo e não fazia falta. Não faz mesmo. Nunca levei saco de dormir, ou melhor,
em inglês sleep. Um trambolho. É isto mesmo? Não importa. Carregar um nas
costas? Nem pensar. Se quero conforto fico em casa. Sempre tive dois sacos de
linhagens. Era só encher com folhas secas ou capim e meu colchão estava pronto.
Uma cueca, um par de meias, uma camiseta, um short, minha manta e os dois sacos
de linhagens. Clara higiene e um bom livro. Mais? Não precisava. Se sujava eu
lavava. Tinha técnica até para passar com dois arcos de madeira. Tive uma
mochila que adorava. Simples, verde, gostosa. Nas costas não machucava. Nas
laterais colocava meu facão, uma chaleira e um caldeirão. Não precisava de
mais. Viajei mundo. Subi serras e picos.
Mas dei boas risadas com as mochilas dos
outros. Eu sempre fui um gozador às escondidas. Nos acampamentos nacionais,
regionais e internacionais era que eu dava gargalhadas mil. Meu Deus! Cada tipo
de fazer inveja. Eles chegavam posudos. Como se fossem os melhores do mundo.
Mochilas enormes. Cheias de barangandãs. – Por que esta rindo? Perguntavam. –
Por nada, desculpe. Mas lá no fundo eu sabia que ele era um eterno pata tenra. Você
conhece. Você sabe. Só de olhar o Chefe ou o Escoteiro você sabe ate onde ele é
um bom mateiro. E a Patrulha então? Só o Monitor formar e lá está. Grande ou
pequena Patrulha. Não tem erro. Adorava ver um Chefe tentando me explicar sua
mochila machucando na subida da serra. - Aprendeu papudo? Claro que sim. Ele
aprendeu. Achou que sabia tudo e não sabia nada. Mas não é assim que se
aprende?
Quando Sênior era bom andar com meus
companheiros. Ninguém reclamava. Todos sabiam o que fazer. Mochilas bem postas,
somente o necessário. Hora de falar, hora de cantar e hora de prosseguir o
caminho das nuvens. Andei por alguns lugares com chefes mateiros. Aprendi muito
com eles. Muitas vezes as barracas ficavam. Prá que? Em meia hora sabíamos
fazer uma cabana para dois ou três. Chuva? Uma capa plástica simples e mais
nada. E ela nunca durava para sempre. Mas voltemos às mochilas. Cada um sabe o
que quer. Cada um compra a quem mais lhe chamou a atenção. Mas cuidado. Muito
cuidado! Nem tudo que reluz é ouro. Olhe para ela. Se sinta confortável subindo
uma montanha por dois dias, sol a pino, nenhuma sombra. Como ela está nas
costas? Dói? Então não compre. Veja aquela mais simples, mais leve. Você não
vai mudar. Vai acampar ou excursionar e voltar para casa.
Ainda sinto saudades. Muitas. Em ver
todos chegando à sede. Dia do grande acampamento. Pais e mães brigando para ver
seus lindos filhinhos colocarem a mochila e dar adeusinho. Os mateiros rindo e
pensando na bela atividade pela frente. Os pata tenra vermelhos maldizendo as
vovós e as mamães que lhe entupiram de material. Mas não adianta. Só se aprende
fazendo. Feliz Baden Powell que nos ensinou e muitas vezes esquecemos. Bom
acampamento!
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