Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

domingo, 23 de junho de 2013

A pimenta, o cachorro, o jacaré e o escambal.



Conversa ao pé do fogo.
A pimenta, o cachorro, o jacaré e o escambal.
(baseado em fatos reais)

          - Foi confirmado. Virão quatro tropas escoteiras do Distrito. Cada uma com quatro patrulhas. Virão também varias patrulhas seniores. Os lobinhos ficarão no campinho do Seu Altino. O galpão vazio foi cedido sem ônus. Nosso problema são as patrulhas. Acredito que com os seniores seremos mais de trinta patrulhas. Precisamos de um bom local para receber todos. Serão cinco dias. Pensei em vários. Defini quatro locais. Conto com vocês de visitá-los e ver se podem receber tanta gente. Conversem com o proprietário. Eles sempre ajudam. O Chefe Jessé não disse mais nada. Entendemos. Afinal seriamos anfitriões e tínhamos que caprichar. Tiramos a sorte e lá fomos nós para a Serra do Marimbondo. Um ótimo local. Acampei lá muitas vezes. Mata, bambus, nascente, riacho com quedas d’água, e um descampado arborizado. Perfeito.

             Após o almoço colocamos o pé na estrada. De bicicleta. Apenas oito quilômetros. O plano era ver e fazer um pequeno esboço de Gilwell do local. No domingo poderíamos retornar antes do meio dia e almoçar em casa. Na Fazenda do Seu Inácio ele como sempre um grande amigo dos escoteiros. Querem almoçar? – Agradecemos. Saímos almoçados. Ele ofereceu um franguinho para nós fazermos no almoço. Agradecemos. Cada um levou um pouco de macarrão, uma batata, sal, e duas linguiças. À noite a sopa seria um maná dos Deuses. A fama do Fumanchu nosso cozinheiro era conhecida por muitos. Interessante, no passado todas as patrulhas tinham seus cargos e sabíamos os que se sobressaiam nele. Era ponto de honra. Ser cozinheiro era uma honra. Conheci muitos que se orgulhavam. Chegamos barraca pronta, lusco fusco da noite e Fumanchu fazia a sopa deliciosa de macarrão. Fomos tomar um banho e no retorno levamos lenha para uma fogueira a noite.

              Fumanchu estava cabreiro. Olhava-nos de modo estranho. – Não sei se vão comer – disse. – Por quê? Romildo o Monitor inqueriu. – Fiz uma besteira. Vi um pé de pimenta malagueta coloquei uma, experimentei nada, coloquei outra e outra. Tá duro comer. Arde feito o “capeta”. – Capeta não arde Fumanchu, eu disse. Olhei a sopa. Uma fumacinha saia de dentro do caldeirão. Experimentei. Ardeu e como ardeu! – coloca água quem sabe vai dar – disse Rael. Colocou. Nada. Coloca uma colher de açúcar! Disse Zezito. Nada. Uma fome do inferno. Nunca tive tanta fome. Com a concha coloquei um pouco no meu prato. Tentei comer. Virou uma meleca. Agua, açúcar e nada adiantou. Sem nada para comer. Só um pacote de bolacha do Tiãozinho. Dormimos com a barriga reclamando. Cedo todos acordaram. Um café foi feito sem nada. Alguém deu a ideia de ir buscar o frango do Seu Inácio. Ofereci para pegar uns peixes. Era bom nisto. Rael sumiu na curva da estrada em busca do frango salvador. Eu cortei um bambu fino, pois o bambuzinho chinês para pesca não tinha ali.

               Não demorou Rael chegou com o frango. Fumanchu já tinha esquentado água para o frango amolecer e tirar as penas. Preparou umas brasas e transpassado por um pedaço de madeira verde, o frango rodava em cima para ficar no ponto. No remanso da curva do riacho sentei. Joguei a vara. Não demorou nada. Um puxão. Era um belo piau. Segurei com força. A linha era fina. Não podia perder. A vara quebrou no meio e o piau saiu com ela riacho acima. Mergulhe atrás. Um lindo jacaré correu em cima da vara. Engoliu o peixe quando pulou e levou meu anzol. Voltei triste para o campo. Mais tristes fiquei. Fumanchu cochilou, o vira latas do Seu Inácio sumiu com o franguinho. Putz! Meio dia sem comer nada. Desmontamos a barraca. Na fazenda do Seu Inácio ele viu que nós estávamos querendo alguma coisa. Contamos. Ele riu a vontade. Chamou Dona Cidinha sua esposa. Ela riu – Serve um feijão com farinha? Tenho ovos e carne de porco da lata. Tem também torresmo. Precisavam ver o sorriso de todos. Fumanchu mais ainda.


                 Chegamos em casa às seis da tarde. Sem planta, sem esboço de Gilwell. O Chefe escolheu o Vale das Flores. O acampamento distrital foi um sucesso. Seu Inácio ficou triste. – Gente! Se fosse lá nas minhas terras eu tinha separado um boizinho para vocês! – Época boa. Tudo se conseguia com facilidade. Dois dias sem comer. Valeu. Dizem que é com fome que se aprende. Quem disse isto é um idiota. Fome? Naquele domingo quase segurei o Jacaré pelo rabo. Um ensopado de jacaré? Só quem viu sabe como é o jacaré. E chega de lembranças.

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