Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

domingo, 16 de junho de 2013

O lindo Balão Azul do Escoteiro Zezé dos Pinhais.


Lendas Escoteiras
O lindo Balão Azul do Escoteiro Zezé dos Pinhais.

Levei o dia todo, a minha tarde inteira,
Não joguei futebol e até nem quis brincar
De soldado e ladrão...
Ajoelhado na sala, a minha brincadeira,
Foi cortar os papeis de cores, e os juntar.
Fazendo o meu balão...
J.G. Araújo Jorge.

             Eu estava ali com todo aquele populacho. Espremia-me para ficar a frente. Meus olhos brilhavam e meus lábios sorriam levemente mostrando o êxtase que sentia, me arrebatava como se fosse ele levado pelo ar. Quantas vezes sonhei em voar pelos céus em um balão. Meu arroubo de criança só via o encanto. Meu entusiasmo cobria o perigo e a alegria de estar ali não me deixava triste em desobedecer meu pai e minha mãe. Eu tinha duas forças que me faziam sentir bem. Balões no céu e ser Escoteiro. Todas as vezes que Seu Nonô Baloeiro soltava seu enorme balão eu corria para lá. Meu pai descobriu algumas vezes. Meu pai! Nunca me encostou um dedo. Chegava a casa e ele pacientemente dizia –Zezé balão mata. Muitos morreram assim queimados. Uma dor horrível. Quando não morrem ficam marcados para sempre!

            Mas eu, nos meus treze anos sabia que o perigo era grande. Mas fazer o que? Eu amava os balões. Quando ele se elevava ao céu, quando os foguetes estouravam, quando se lia a placa que os baloeiros colocavam, eu pulava de contente. Minha alegria era contagiante. Se pudesse eu ficava ali por toda a noite a ver os balões subirem aos céus. Um espetáculo que a criança que era se arrebatava e nos meus sonhos eu estava lá, junto ao lindo balão colorido que subia sôfrego aos céus até que um vento sul ou vento norte o levasse para longe. Muitas vezes sugeri em Reunião de Patrulha que fizéssemos um dia uma competição de patrulhas para ver quem soltava o mais lindo balão. Nunca aprovaram. O Chefe Valdez muito educado dizia – Balão só trás a infelicidade. Alegrias de uns tristeza de outros.

           Nas reuniões de Tropa, nas excursões, nos acampamentos eu vibrava como se estivesse soltando balões. Para dizer a verdade eu não sabia daquela minha sina. Nos meus sonhos de adultos eu estaria lá com seu Nonô Baloeiro, a fazer e a soltar os balões. Invejava toda sua equipe. Trabalhadores, sem nada a receber. Tentava explicar isto ao Chefe Valdez mas ele sorria de leve e dizia – Zezé, eles sabem trabalhar em equipe mas muitos deles gastam o que não tem para que o balão suba aos céus. Eles deixam suas famílias, sacrificam o pequeno salário que recebem e nem pensam o que suas escolhas podem fazer aos outros. Fecham os olhos para as desgraças, as desventuras e a infelicidade dos queimados, a miséria por ter perdido seu ganha pão, sua casa.

           Zezé dos Pinhais sentia pena mas ele não sabia quem um dia disse para ele – O que os olhos não veem o coração não sente. Verdade ou não os balões e o escotismo eram os sonhos de Zezé. O acampamento anual se aproximava. Iam acampar no Rancho da Lagoa Dourada. Ele nunca tinha ido lá. Mas não importava. Fosse onde fosse Zezé vibrava. Amava sua Patrulha Morcego. Sentia uma enorme alegria em estar junto aos seus amigos da patrulha. Vibrava com os jogos, já estava ficando bom em pioneiras e quando do fogo de conselho Zezé olhava para o céu estrelado e pensava – Não poderia ter um enorme balão passando?

           Zezé não contou a ninguém. Em casa escondido construiu um lindo balão azul. Ele sonhava em fazer um. Sonhava em ver o balão coriscando nos céus em uma linda noite de inverno. Não haveria foguetes. Ele não podia comprar. Sabia que todos seus amigos na patrulha nunca iriam “vaquear” para comprar. Custou para comprar o papel, construiu devagar à cangalha e depois a tocha. Levaria para o acampamento escondido. Não mostraria para ninguém. Ele sabia que na segunda noite haveria um jogo noturno. Iria fingir ter dor de cabeça e zarparia para uma área descampada e então soltaria seu balão. Sabia como fazer. Seus olhos cintilavam quando pensava no seu plano.

            O grande dia chegou. A sede escoteira lotada de gente. Pais e mães preocupados pedindo aos chefes para tomarem conta. Dois ônibus e uma longa viagem. Chegaram à tarde. Um lanche já havia sido preparado. A patrulha sabia como fazer. Barracas armadas rapidamente. Cozinha, mesas, toldos e em pouco tempo o campo de patrulha já podia dar todo o conforto de uma casa na selva. Houve até momentos que Zezé se esqueceu do seu balão. Mas ele não saia de sua cabeça. Dito e feito. No segundo dia o grande jogo. Zezé falou ao Monitor que falou ao Chefe. - Está dispensado, disse o Monitor. Logo que o Jogo começou “Guerra” Zezé saiu de mansinho nos fundos de seu campo de patrulha. Nas mãos o bornal com seu lindo balão azul. Sonhava! Sorria! Cantava canções de louvores. Avistou um belo campo e um rio que corria com suas águas tranquilas em direção ao mar.

            Zezé tirou o balão. Desdobrou. Pegou a cangalha e a tocha. Quando ia acender a tocha para que o gás espalhasse pelo balão ele ouviu um choro de criança. Não viu ninguém. Onde seria? Largou seu balão e foi até a barranca do rio. Sentado em um tronco uma menina de cinco anos chorava em prantos. Ela estava toda queimada. Zezé sentiu o cheiro de carne viva queimando. Zezé não sabia o que fazer – Venha comigo, vou levar você até o acampamento. O Chefe vai lhe ajudar – Ela não respondia, mostrava sua casa toda queimada. Zezé viu saindo da casa um Velho e uma velhinha também queimados. Saíram gritando. Uma dor terrível. – Meu Deus! Pensou Zezé. O que foi? O que foi? – Corra menino ele o Velho dizia. Corra! É um balão nos céus. Matou minha família. Destruiu minha casa, queimou minha plantação de milho!

            Zezé acordou dentro da barraca. Ainda bem que foi um sonho. Sonho terrível. Eu poderia destruir uma família com meu balão? No ultimo dia Seu Pataxó, um índio que morava próximo ao rio contou a história do Velho Manequinho, Dona Valquíria e sua filha Martinha a quem chamavam de Por do Sol e que morreram no ano passado. Um balão caiu na plantação de milho, que atingiu sua casinha de sapé e não deu tempo para fugir. Morreram todos. Os olhos de Zezé se encheram de lágrimas. Poderia ter sido o meu balão pensou. Eu poderia ter matado todos eles! Juro meu Deus! Nunca mais mas nunca mais mesmo vou tocar em um balão. Direi a todos meus amigos o mal que ele faz!


           Assim como Zezé tem muitos jovens que sonham com balões. Que está historia sirva de lição. Não é uma lenda. Todos os anos centenas de casos como este acontecem. Morrem adultos e crianças, perdem-se plantações que foram plantadas com o suor de quem precisa viver.

"Balão no céu, perigo na terra". Todo mundo já deve ter ouvido essa frase em algum lugar, mas as pessoas não costumam dar muita atenção a ela. Os incêndios causados por balões, podem ser bastante graves e podem destruir as casas, indústrias, plantações e até mesmo causar mortes. Seja um bom Escoteiro. Nunca solte balões!

Nenhum comentário:

Postar um comentário