Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Geração sem passado.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Geração sem passado.

                          Muitos sonham em viver mais que uma geração. Dizem que seria ótimo viver mais de 100 anos. Eu não. Prefiro ir para minha estrela mais cedo. No entanto aceito o que vier, pois sou religioso e enquanto Deus quiser estarei dando aqui meu sempre alerta. Eu sei que velhos escoteiros como eu sabem que não é fácil aceitar as alterações que acontecem e irão acontecer. Alguns se afastam do movimento outros continuam acreditando que podem ajudar de alguma forma. Pergunto-me se os novos líderes que nos tratam como dinossauros e nos ridicularizam estão certos. Fazem pilheria quando contamos nosso passado Escoteiro. Difícil para quem nasceu em outra geração aceitar tudo que falam de nós. Sei que é um caminho sem volta. As mudanças de comportamento acontecem a cada minuto. Tudo muito diferente do que vivi e aprendi. No escotismo então? Muda-se tudo. Cada novo líder eleito ou antigo tem sempre a solução nas mãos. Ele acredita que o novo rumo (o seu) é o caminho para o sucesso. Para ele o método escrito por B-P. está ultrapassado. E quem discorda? No escotismo ensinaram que o Escoteiro é obediente e disciplinado. Agora é seguir o líder e não importa se ele está certo ou errado. Não existem mais contestações. Dar exemplos das frases ou do que pensava B.P é motivo de pilheria. São tantos a bater palmas sem nem mesmo ter certeza se vai dar certo que assusta. São pensadores, pedagogos alguns com conhecimentos profundos e me pergunto se em suas tropas tudo vai às mil maravilhas.

                  Eles prenunciam o futuro e até adivinham o que vai acontecer se não nos adaptarmos a modernidade. Conhecem os indícios, as pistas, sabem e alardeiam suas ideias onde podem fazer acontecer. Dizer que B.P comentou que os novos não ouvem os velhos lobos e estes teriam muito a ensinar do que aprenderam na escola da vida não vale.  Nosso método, ou melhor, o de B.P. não tem mais valor nos dias de hoje. Ouvir o ponto de vista do rapaz é só uma frase de efeito. Nunca são ouvidos. Que eu saiba tudo que foi mudado, alterado e as normativas atuais nunca consultaram ninguém. Os rapazes e moças? Nem pensar. Nunca perguntaram se era isto que queriam. Simplesmente disseram que eles queriam algum mais moderno. Mudaram o programa do jovem, mudaram nomes e nomenclaturas, mudaram o uniforme, deixaram de valorizar o sistema de patrulhas, deram ênfase em cursos pedagógicos ou institucionais. Outro dia mesmo um Chefe dizia que precisava organizar sua Corte de Honra. Papagaio! Como dizia um antigo Chefe de Gilwell Park, sem aquela mescla alegre, de uma lei, de uma aventura gostosa sem tantas burocracias o escotismo não tem como atingir seu objetivo. Agora o escotismo é feito de normas, diretrizes, cursos institucionais e programa que nem se sabe se estão dando os resultados esperados. O Macpro que muitos nem sabem o que é veio para mudar. Os mais bem informados bateram palmas. Afinal precisamos nos adaptar a metodologia moderna da educação.

                   A evolução do homem moderno com suas escolhas pessoais precisava ser vistas profundamente. A liberdade de escolha pelos excluídos teve seu direito reconhecido recentemente pela UEB. Nada contra. Há dois anos um jovem discutiu muito seu direito de pensar como quiser e comentou que queria ser Sênior. Impossibilitado devido a sua crença (se declarou Ateu) comentou em diversos grupos, fez postagem e teve muitos adeptos as suas ideias. Ele queria participar, mas não aceitava a imposição da promessa, não iria prometer a Deus, pois não acreditava nele. Não ia prometer pela pátria, pois achava que isto era enganação. Não ia prometer seguir a lei escoteira, pois não concordava com o que dizia muitos artigos. Sua celeuma durou alguns meses e ele desapareceu. Eu concordo até certo ponto. Afinal o direito em nome da liberdade de expressão não deve ser ignorado.

                    Não me culpem por não aplaudir tudo que dizem.  Minha geração é outra. Vivi outra época outra modo de vida. Havia respeito, fraternidade. Ouvir o jovem, dar a ele oportunidade de crescer dentro da filosofia escoteira era ponto de honra. Sei que isto não aconteceu com alguns e eles se revoltaram por isto. Hoje me dizem que o jovem não quer isto mais. Ele na sua modernidade vive a época do computador dos programas cibernéticos. Fico pensando se isto é verdade, pois foi dito por adultos que não fizeram nenhuma pesquisa nacional. O jovem foi colocado à prova de escolha? Deram a ele a visão do outro lado da montanha? O líder pensa o líder escreve e fala pelo jovem como se ele ainda fosse jovem e pensasse assim. A UEB em tempo algum fez pesquisa de campo e nunca consultou ninguém fora do seu status-quo. Determinou a vestimenta sem consultar ninguém. Mudou o programa de jovens sem mesmo ver se ia dar certo. Alterou nomenclaturas e nem mesmo perguntou aos grupos se concordavam com isto.

                        Os mais chegados à nova liderança moderna do escotismo dizem que isto é direito. Afinal somos um regime democrático, onde se elege uma minoria representativa que tem direitos de mudar conforme suas normas e estatutos. Afirmam que qualquer um pode subir ao topo e para isto sua participação nas assembleias regionais e nacionais devem ter prioridade. Sei que poucos se preocupam e aceitam em nome de seus “jovens”. Aceitam sem discutir. Quem já participou e acompanhou as atividades nacionais nos últimos anos sabe muito bem que dificilmente irá ser ouvido a não ser que tenha boas relações e curriculum que demonstre sua capacidade intelectual. Escoteira não vale mais. Minha geração que eu saiba não é mais ouvida. Ficou no esquecimento. Quando um abandona as fileiras nem uma cartinha recebe de agradecimentos. Torço por um escotismo autêntico, sem sofismas. Aceito que os sem religiosidade ou sexualidade participem. Mas quero lembrar que estes são minorias. As normas Escoteiras principalmente no sistema de Patrulhas base da formação escoteira não pode ser adaptadas a gosto de cada um.

                       Ainda sonho com o escotismo que fiz e que dizem ser arcaico. Já vi uns dizendo que devemos voltar a engraxar nossos sapatos como antigamente. O novo escotismo mudou dizem. Alardeiam que se as normas autorizam usar a vestimenta ou o uniforme de maneira como está escrito, eles usarão e não estão nem aí para a comunidade se esta achar que não estão garbosamente apresentados. Não há meio termo. Uniformização, garbo e boa ordem virou piada para alguns. Nas atividades regionais e nacionais onde os jovens são convidados a presença dos chefes é bem maior. O sistema de Patrulhas não tem lugar. Quem sabe é melhor assim. Hoje paga-se para ver uma tropa com patrulhas completas ou Alcatéia com matilhas também. Acampar tem novo sinônimo.  São pais acompanhando os filhos, mães cozinhando e até tias e avós passando o dia com eles. Sempre o Chefe se destacando. Não é camping?


                       Enfim o tema é vasto. Sei que como Velho Chefe Escoteiro meu tempo já passou. Sei que devemos nos adaptar ao modernismo. Não tenho mais como sair por aí com uma mochila nas costas, bandeiras ao vento para o acampamento dos meus sonhos e quem sabe dos jovens para provar que muito do meu passado tem enorme valor hoje. Quem não fez escotismo de aventuras não deve saber como é. Falar em semáforos, Morse, Orientação e até mesmo se orgulhar das suas mil noites de acampamento não tem mais valor. Sei que o importante são os resultados. Espero que um dia a sociedade brasileira saiba que o escotismo tem valor na formação, na educação dos jovens para a vida. O que está aí não sei se estes objetivos serão alcançados.  Mesmo sendo de outra geração ainda desejo que a nova lute pelos seus ideais Badenianos. O dia que não tivermos mais o método e sistema de Baden-Powell podem dizer o que quiserem, mas não é mais o escotismo de BP. Sempre Alerta!       

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