Crônicas
de um Velho Chefe Escoteiro.
Geração
sem passado.
Muitos sonham em
viver mais que uma geração. Dizem que seria ótimo viver mais de 100 anos. Eu
não. Prefiro ir para minha estrela mais cedo. No entanto aceito o que vier,
pois sou religioso e enquanto Deus quiser estarei dando aqui meu sempre alerta.
Eu sei que velhos escoteiros como eu sabem que não é fácil aceitar as
alterações que acontecem e irão acontecer. Alguns se afastam do movimento
outros continuam acreditando que podem ajudar de alguma forma. Pergunto-me se os
novos líderes que nos tratam como dinossauros e nos ridicularizam estão certos.
Fazem pilheria quando contamos nosso passado Escoteiro. Difícil para quem
nasceu em outra geração aceitar tudo que falam de nós. Sei que é um caminho sem
volta. As mudanças de comportamento acontecem a cada minuto. Tudo muito
diferente do que vivi e aprendi. No escotismo então? Muda-se tudo. Cada novo
líder eleito ou antigo tem sempre a solução nas mãos. Ele acredita que o novo
rumo (o seu) é o caminho para o sucesso. Para ele o método escrito por B-P.
está ultrapassado. E quem discorda? No escotismo ensinaram que o Escoteiro é
obediente e disciplinado. Agora é seguir o líder e não importa se ele está
certo ou errado. Não existem mais contestações. Dar exemplos das frases ou do
que pensava B.P é motivo de pilheria. São tantos a bater palmas sem nem mesmo
ter certeza se vai dar certo que assusta. São pensadores, pedagogos alguns com
conhecimentos profundos e me pergunto se em suas tropas tudo vai às mil
maravilhas.
Eles prenunciam o futuro e
até adivinham o que vai acontecer se não nos adaptarmos a modernidade. Conhecem
os indícios, as pistas, sabem e alardeiam suas ideias onde podem fazer
acontecer. Dizer que B.P comentou que os novos não ouvem os velhos lobos e
estes teriam muito a ensinar do que aprenderam na escola da vida não vale. Nosso método, ou melhor, o de B.P. não tem
mais valor nos dias de hoje. Ouvir o ponto de vista do rapaz é só uma frase de
efeito. Nunca são ouvidos. Que eu saiba tudo que foi mudado, alterado e as
normativas atuais nunca consultaram ninguém. Os rapazes e moças? Nem pensar.
Nunca perguntaram se era isto que queriam. Simplesmente disseram que eles
queriam algum mais moderno. Mudaram o programa do jovem, mudaram nomes e
nomenclaturas, mudaram o uniforme, deixaram de valorizar o sistema de
patrulhas, deram ênfase em cursos pedagógicos ou institucionais. Outro dia
mesmo um Chefe dizia que precisava organizar sua Corte de Honra. Papagaio! Como
dizia um antigo Chefe de Gilwell Park, sem aquela mescla alegre, de uma lei, de
uma aventura gostosa sem tantas burocracias o escotismo não tem como atingir
seu objetivo. Agora o escotismo é feito de normas, diretrizes, cursos
institucionais e programa que nem se sabe se estão dando os resultados
esperados. O Macpro que muitos nem sabem o que é veio para mudar. Os mais bem
informados bateram palmas. Afinal precisamos nos adaptar a metodologia moderna
da educação.
A evolução do homem moderno
com suas escolhas pessoais precisava ser vistas profundamente. A liberdade de
escolha pelos excluídos teve seu direito reconhecido recentemente pela UEB.
Nada contra. Há dois anos um jovem discutiu muito seu direito de pensar como
quiser e comentou que queria ser Sênior. Impossibilitado devido a sua crença
(se declarou Ateu) comentou em diversos grupos, fez postagem e teve muitos
adeptos as suas ideias. Ele queria participar, mas não aceitava a imposição da
promessa, não iria prometer a Deus, pois não acreditava nele. Não ia prometer
pela pátria, pois achava que isto era enganação. Não ia prometer seguir a lei
escoteira, pois não concordava com o que dizia muitos artigos. Sua celeuma
durou alguns meses e ele desapareceu. Eu concordo até certo ponto. Afinal o
direito em nome da liberdade de expressão não deve ser ignorado.
Não me culpem por não aplaudir
tudo que dizem. Minha geração é outra.
Vivi outra época outra modo de vida. Havia respeito, fraternidade. Ouvir o
jovem, dar a ele oportunidade de crescer dentro da filosofia escoteira era
ponto de honra. Sei que isto não aconteceu com alguns e eles se revoltaram por
isto. Hoje me dizem que o jovem não quer isto mais. Ele na sua modernidade vive
a época do computador dos programas cibernéticos. Fico pensando se isto é
verdade, pois foi dito por adultos que não fizeram nenhuma pesquisa nacional. O
jovem foi colocado à prova de escolha? Deram a ele a visão do outro lado da
montanha? O líder pensa o líder escreve e fala pelo jovem como se ele ainda
fosse jovem e pensasse assim. A UEB em tempo algum fez pesquisa de campo e
nunca consultou ninguém fora do seu status-quo. Determinou a vestimenta sem
consultar ninguém. Mudou o programa de jovens sem mesmo ver se ia dar certo.
Alterou nomenclaturas e nem mesmo perguntou aos grupos se concordavam com isto.
Os mais chegados à nova
liderança moderna do escotismo dizem que isto é direito. Afinal somos um regime
democrático, onde se elege uma minoria representativa que tem direitos de mudar
conforme suas normas e estatutos. Afirmam que qualquer um pode subir ao topo e
para isto sua participação nas assembleias regionais e nacionais devem ter
prioridade. Sei que poucos se preocupam e aceitam em nome de seus “jovens”. Aceitam
sem discutir. Quem já participou e acompanhou as atividades nacionais nos
últimos anos sabe muito bem que dificilmente irá ser ouvido a não ser que tenha
boas relações e curriculum que demonstre sua capacidade intelectual. Escoteira
não vale mais. Minha geração que eu saiba não é mais ouvida. Ficou no
esquecimento. Quando um abandona as fileiras nem uma cartinha recebe de
agradecimentos. Torço por um escotismo autêntico, sem sofismas. Aceito que os
sem religiosidade ou sexualidade participem. Mas quero lembrar que estes são
minorias. As normas Escoteiras principalmente no sistema de Patrulhas base da
formação escoteira não pode ser adaptadas a gosto de cada um.
Ainda sonho com o escotismo
que fiz e que dizem ser arcaico. Já vi uns dizendo que devemos voltar a
engraxar nossos sapatos como antigamente. O novo escotismo mudou dizem. Alardeiam
que se as normas autorizam usar a vestimenta ou o uniforme de maneira como está
escrito, eles usarão e não estão nem aí para a comunidade se esta achar que não
estão garbosamente apresentados. Não há meio termo. Uniformização, garbo e boa
ordem virou piada para alguns. Nas atividades regionais e nacionais onde os
jovens são convidados a presença dos chefes é bem maior. O sistema de Patrulhas
não tem lugar. Quem sabe é melhor assim. Hoje paga-se para ver uma tropa com
patrulhas completas ou Alcatéia com matilhas também. Acampar tem novo sinônimo.
São pais acompanhando os filhos, mães
cozinhando e até tias e avós passando o dia com eles. Sempre o Chefe se
destacando. Não é camping?
Enfim o tema é vasto.
Sei que como Velho Chefe Escoteiro meu tempo já passou. Sei que devemos nos
adaptar ao modernismo. Não tenho mais como sair por aí com uma mochila nas
costas, bandeiras ao vento para o acampamento dos meus sonhos e quem sabe dos
jovens para provar que muito do meu passado tem enorme valor hoje. Quem não fez
escotismo de aventuras não deve saber como é. Falar em semáforos, Morse, Orientação
e até mesmo se orgulhar das suas mil noites de acampamento não tem mais valor.
Sei que o importante são os resultados. Espero que um dia a sociedade
brasileira saiba que o escotismo tem valor na formação, na educação dos jovens
para a vida. O que está aí não sei se estes objetivos serão alcançados. Mesmo sendo de outra geração ainda desejo que
a nova lute pelos seus ideais Badenianos. O dia que não tivermos mais o método
e sistema de Baden-Powell podem dizer o que quiserem, mas não é mais o
escotismo de BP. Sempre Alerta!
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