Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Meu melhor curso escoteiro foi com meus monitores.
(Lembranças inesquecíveis).
Ei Chefe, não é uma pegada de um Quati? – olhei com calma, nunca tinha
visto uma, mas se o Escoteiro dissera eu acreditava. Paramos, analisamos o peso
a altura, as passadas e assim fomos aprendendo a seguir pistas de animais. Eu e
meus amigos monitores e Submonitores. Junto a eles eu estava na melhor escola
escoteira que tinha conhecido. – Chefe? É um ninho do Inhambu? Dizem que ele
não se preocupa muito e junta umas folhas próximo a uma árvore disse Niltinho
um Monitor da Gavião. Nunca fui expert em ninhos só sabia que Gill um sub
Monitor um dia me contou que o ninho do João de Barro dava uma mão de obra
danada para o casal. Barro húmido, esterco e palha. Fazem centenas de viagens
para terminar. Mais ou menos com 30 cm de diâmetro. O casal de João de Barro
amassa as bolas de barro com os pés. Tem área para colocar os ovos, tem porta
de entrada sempre em direção contrária a da chuva e de difícil acesso para
predadores. Nunca usam a casinha mais de uma vez. Após o crescimento dos
filhotes eles voam para outras plagas. Os monitores me olharam espantados.
Ficamos ali naquela floresta conversando sobre pássaros por muito tempo.
Ei Chefe, sabe o Zózimo? Olhei para Bob
Low um Monitor da Quati. O que tem ele Bob? Na eleição passada ele foi eleito
Monitor e não queria – Por quê? Perguntei. Ele disse que ser Intendente/almoxarife
era melhor. – Não acreditei e insisti – Como? Ele acha que o intendente é a
alma de uma patrulha. Um bom acampamento depende dele, se faltar material ele é
culpado. Se sumir ele é culpado. Se alguém precisa tem de falar com ele. E ele
se preocupa muito com a guarda e a limpeza do material. Os escoteiros pata
tenras são mestres. Vão cortar um bambu e o facão hó! E olhe Chefe ele me disse
que na sua barraca de intendência tem de tudo. A alimentação fica fora das
formigas e animais do campo. Lazinho o Cozinheiro o adora. Sabe que ele é
chato, pois quer as panelas nos trinques. Nada de carvão! E eu sei que nem
precisa falar com ele o que levar no acampamento. Ele sabe o que levar para um
acampamento longo e um curto. Pois é Chefe, se não fosse ele nosso material já
teria sumido e estragado.
O que eu mais gostava deles era à
noitinha em uma gostosa conversa ao pé do fogo. Cada um se abria, contava
histórias, falava dos seus amigos, das namoradas com olhares piscantes, dos
seus pais, da escola e dos seus sonhos. Chefe fiquei sabendo que o Lindolfo da
Pantera jurou que ia ser médico. Disse Matusalém da Anta. Era o nosso
enfermeiro e aproveitava também para ser o bombeiro e lenhador. Era outro que
Lazinho o cozinheiro adorava. Nunca faltava lenha seca e agua à vontade. Seu lenheiro
era perfeito. Podia chover canivete. Ele era um bamba e sabia escolher a melhor
lenha, aquela que durava mais. Cozinheiro que se preza não fica sem um bom
bombeiro e lenhador. Quem sopra muito é cozinheiro novato usando graveto fino e
palha de capim seco. Observem que ele está sempre com os olhos cheios de
lágrimas. Risos. Quer saber? Eu nem sabia disto. Eles é que me ensinavam. Uma
patrulha que alguém preferia ser o intendente? - Foi Joel quem contou sobre
Lazinho o cozinheiro. Ele Chefe é demais. Sabia surpreender a patrulha com suas
iguarias. – Chefe ele encheu as “paciências” de sua mãe. Aprendeu tudo. Era um mestre
cuca como ele gostava de ser chamado dos melhores. Chegou a fazer um forno de
barro e fez um bolo fantástico!
Uma vez resolvemos fazer uma
mesa com toldo e bancos reclináveis. Queríamos bater todos os recordes de tempo
na construção. Claro eu sempre deixei que eles começassem que discutissem entre
eles como iam fazer projetos e coisa e tal. E corta daqui, e corta dali o
madeirame estava pronto. Ajudei pouco. Sabia bem as amarras. Sabia do
acabamento, pois era uma exigência entre os Escoteiros. Ajudei somente na
costura de arremate no tampo da mesa redonda. Nem peguei no cipó (adorávamos o
cipó e nada do sisal) e um Monitor logo disse – Chefe, não é assim. O acabamento
é de terceira qualidade. Faça no final do arremate um perfeito volta de fiel
duplo. A tampa sempre vai ficar firme! Eu nos meus tantos anos sorria.
Contradizer? Nunca. Eles eram meus mestres meus formadores.
- Chefe! Que tal fazermos um programa
diferente nas férias de julho? Humm! A última surpresa deles nós caímos numa
gelada. Um frio de rachar. Bob Low riu, pois nunca esqueceu o frio que
passamos. Chefe está na hora de aprendermos a fazer fogo. Fogueirinha de fogão
e Fogo do Conselho todo mundo sabe. Lembra-se do acampamento nas Montanhas geladas
do Rio Pequeno? Morremos de frio porque éramos uns pata tenras. – Concordei com
ele. – Pois é Chefe, poderíamos treinar muito como evitar isto, eu li muito
sobre fogo Espelho. Garantem se bem feito no frio pode se dormir de short sem
camisa! Sabendo a técnica e ter cuidado para medir a distancia e não colocar
fogo na barraca! E eles riram a valer.
Eu posso dizer que meus melhores cursos foram
com meus amigos monitores. Aprendi muito com eles. Trocamos tantas ideias e
aprendemos tanto uns com os outros que fiquei perito em pioneirías. Amigos são
assim. Sempre fazer e insistir a acertar quantas vezes for preciso. Lembro que
um deles resolveu surpreender em um fogo de conselho. Uma bola de papel bem
encharcada de querosene, um galho em forma de F encurvado e pequeno para correr
preso em um cipó liso segurando a bola de fogo que na imaginação dele iria
surpreender todo mundo. Ele todo posudo, em frente ao fogo, todos nós sentados
em volta gritou: - “Que os ventos do norte! Que os ventos do sul” Quem os
ventos do este e do oeste nos traga hoje o espirito da paz e que BP nos guie
pelas sendas da vida e que Deus nos proteja! Ascenda-te fogo! E a bola de fogo
que foi acesa por outro encarapitado em uma árvore desceu a toda velocidade até
onde esta o fogo e logo as chamas subiram aos céus!
Quem
sabe se não fosse por eles eu não saberia do valor de uma patrulha, de um
patrulheiro intendente, de um bombeiro lenhador, de um cozinheiro, do
sanitarista, do aguadeiro, do construtor de pioneirias e de tantos outros.
Foram eles que me ensinaram e com eles fazendo e ouvindo eu aprendi. Lembro-me
de uma noite de fogo de conselho onde resolvemos trazer o espirito da floresta
na forma da Lei Escoteira. Foi lindo. Fico pensando se todos são como eu.
Aprender com eles, sentar a moda índia em um fogo estrela, comer uma batata
quente, beber um café do bule quente na brasa, deixar que eles cantem que eles
riem de suas piadas, que eles inventem aplausos, canções e que a noite para
eles seja uma criança. Deixar que eles mesmos possam contar estrelas, descobrir
novos caminhos e assim quem sabe, eu no alto da minha enorme idade e sabedoria
irei aprender com eles na tenra idade de um escotismo que resolvi adotar.
Aprender com monitores! Uma técnica que poucos até hoje conseguiram enxergar!
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