Crônicas
escoteiras.
Paranapiacaba,
a vila dos sonhos Escoteiros.
À primeira vista fazer escotismo
aventureiro ao ar livre em São Paulo quando cheguei nesta cidade que passei a
amar por volta de 1977 era tarefa de gigantes. Fui descobrindo e vendo que quem
quer anda e consegue, quem não quer senta e dança a roda das galochas. Não
esqueço a primeira vez que fui a Paranapiacaba. Para ser sincero nem me lembro
de quem foi à ideia. Adoro andar de trem e tendo oportunidade lá fomos nós, eu
mais dois chefes e uma patrulha de monitores.
Uma hora e pouca de
viagem. Naquela época tinha trem todos os dias. Hoje? Acabaram com tudo, dizem
que foi para preservar a vila. Li uma vez na Folha - CANDIDATA A PATRIMÔNIO
MUNDIAL, PARANAPIACABA TENTA RESISTIR AO ABANDONO. A foto de trens e vagões abandonados
não ficará para a posteridade. Deu-me um nó na garganta. Quantas vezes eu fui
lá? Tantas que nem me lembro. Fui com monitores, com a tropa masculina e
feminina, fui com seniores e fui com as guias. Claro fui também com a lobada
querida e por último fui sozinho, a “Escoteira”, pois queria descer a Serra do
Mar e quer saber? Foi delicioso. Um dia quem sabe vou contar.
Paranapiacaba foi projetada
no século dezenove para abrigar operários da Ferrovia da São Paulo Railway
Company que ligava Santos a Jundiaí. Uma pequena Vila de casas de madeira, mas
como é linda. Na passarela da estação para a Vila a vista é maravilhosa. Como
está na Serra do Mar à origem do seu nome que significa “lugar de onde se vê o
mar” veio a calhar. A São
Paulo Railway inaugurou sua linha
férrea em 1º de janeiro de 1867. Ela, primeiramente, serviu como transporte de
passageiros; também serviu como escoamento da produção de café da província
paulista para o porto de Santos.
Em 1874, foi inaugurada a
Estação do Alto da Serra, que, mais tarde, seria denominada Paranapiacaba. Em
1969 desci a serra por ferrovia até Santos. Descer a serra foi um espetáculo a
parte. Nunca esqueci a viagem. Incrivelmente bela. A descida era de tirar o
folego e as cascatas, cachoeiras, corredeiras, matas, pássaros e animais eram
visto a cada curva parecendo nos dizer: Bem vindo Escoteiro!
Uma vez com Guias e Escoteiras acampamos
próximo à descida no Alto da Serra por três dias. Um local lindo, maravilhoso
aguada e lenha à vontade. Riachos, corredeiras cascatas e o som imperdível aos
ouvidos de um velho mateiro. Um jogo de aventuras foi demais. Ainda bem que a
monitora possuía uma Silva e um Percurso de Gilwell perfeito. Descobrimos uma pequena trilha que nos levou
a locais lindos e nunca explorados. Durante dez anos fizemos da Serra de
Paranapiacaba nosso local preferido para acampar. Tudo levado nas costas, bom
demais!
Impossível
descrever todos os acampamentos que fizemos lá. Os chefes, escoteiros,
escoteiras guias e pioneiros que juntos vivemos dias maravilhosos e que
estiverem lendo este artigo devem lembrar como tudo foi maravilhoso. Até os
lobos viveram ali grandes aventuras como se tivessem entrado na Jângal de
Mowgly. Como em todo local inexplorado a segurança vinha em primeiro lugar.
Nunca foi um local para Pata Tenras.
Um dia Paranapiacaba saiu do
nosso roteiro. Descoberta por marginais, rapazes e moças que iam lá para dar
início ao seu vicio, falando palavrões, dando mau exemplo aos jovens fez com
que deixássemos a beleza da vila, das matas e das cascatas para nunca mais
voltar. Hoje o trem ainda vai lá, mas é um trem turístico somente aos sábados e
domingos com horários determinados. Perdeu a graça.
Dona Francisca uma moradora um
dia escreveu: - Aqui a Vila é mágica. A Vila aparece e desaparece. Tem dia em que
você vê o morro Tem horas que você não vê nada. Parece que o grande caldeirão que
você põe para esquentar, e a fumaça vem para a vela apagar. Tem bruxa no pedaço
com sua varinha de condão que põe fogo no fogão A fumaça aparece, e a Vila...
Desaparece! Como em um passe de mágica. O morro a sorrir a fumaça há persistir
O dia não passa, nem as horas. Só fica a fumaça na cidade mágica.
Faz anos que não volto lá.
Poderia acrescentar outros lindos locais que acampávamos. O Sitio da Viúva, O
Parque Anhanguera na área inexplorada e São Lourenço da Serra... Todos locais
maravilhosos que tínhamos a porta aberta para acampar quando quiséssemos. Intercalávamos
com acampamentos em outras cidades confraternizando com os Grupos locais.
Lembro-me de Santa Barbara do Oeste e Pouso Alegre. Eita tempo bom. Se voltar
na Terra quando partir quero continuar escoteiro... À moda de BP!
Nota - A Serra de
Paranapiacaba - Dorme; repousa em teu
sono, Da força pujante emblema, Que tens o oceano por trono E as nuvens por
diadema! Imóvel, muda, imponente, Entestas com a excelsa frente Das águias o
azul império; E em vastíssimo cenário. Da tormenta o quadro vário Contemplas do
espaço etéreo. (somente a primeira estrofe). João
Cardoso de Meneses e Sousa.
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