Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Em busca da felicidade. Tem um perfume de saudades escoteiras no ar!



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Em busca da felicidade.
Tem um perfume de saudades escoteiras no ar!

- Hoje depois de varias noites mal dormidas, acordei como se estivesse em um acampamento escoteiro. Gosto disto. Dá gosto olhar a lona ainda enxovalhada e o ar do campo insubstituível. Olhar de lado meus amigos ainda dormindo, ver lá fora o som de uma cascata, um bem ti vi cantante, um grito dos macacos prego guinchando nas árvores. Dormia como uma pluma sem dores sem falta de ar. Era assim nos acampamentos. Saudades... Muitas. Vontade de voltar no tempo.

- Meus acampamentos naquela época ainda não tinham o espirito de Gilwell. Nem sabíamos o que era ou significava. Tudo era tratado em noites de quinta ou sexta na sede ou em casa de alguém. Vamos? Vamos. Onde? Onde o vento nos levar... Ração B para dois dias. Todos sabiam o que significava. Dois almoços, uma janta, dois cafés e o que faltasse o campo iria fornecer. Frutos do campo, maxixe, taioba, Lobrobô e peixes. Peixes? Todos eram peritos em pesca. Fumanchu o nosso cozinheiro sabia o que fazer. Ninguém reclamava da “boia” e ninguém pedia comida extra. Cada um tinha um bornal extra para levar as tralhas do campo. Barraca de duas lonas no costado e lá íamos nós.

- Acampar toda tropa era também diferente. Não sabia se o Chefe Jessé tinha programa. Ele gostava de um apito. Cinco e meia da madrugada e lá estava a chamar para a física. A Patrulha tinha de ir completa, nada de gatos pingados chegando. Era exigente, Romildo o Monitor mais antigo era o Guia. Fazia questão de cumprir todos os exercícios como exemplo aos demais. A bandeira era as nove em ponto. Nem um minuto a mais. Antes uma rápida inspeção sem pontuação.

- Eu adorava as noites de campo. O Chefe Jessé gostava de uma conversa ao pé do fogo. Contava causos de sua vida na estrada de ferro, da vida de Baden-Powell e confesso que acho que ele inventava muito (risos). Sempre o bule de café, um biscoito de polvilho e canções gostosas para cantar. Os fogos de conselho não tinham animador. Era tudo espontâneo. A Patrulha preparava algum e avisava as outras. Boas risadas com o Serafim, com o Pintor de Paredes e tantas “patacas” inventadas na hora. A cadeia da fraternidade era mais alegre. Nada de choro. Coisa de homens.  

- Houve uma época que ele trouxe uma ideia de fazer uma disputa entre patrulhas e a exigência foi maior. Mostrou quatro bandeirolas de couro, com letras em fogo escrito: Padrão de Eficiência. Todas as patrulhas podiam receber. Foi espetacular. Eu gostava dele apesar de não ser muito afável no contanto com a tropa. Chegava na sede, apitava, formava, bandeira (a Patrulha de serviço já tinha tudo preparado) E depois os mesmos jogos, briga de galo, salto do papagaio, quebra canela, Macaco Disse e luta do Scalp. Eu adorava a briga de galo.

- Tínhamos liberdade para acampar. Bastava procurá-lo em seu escritório na sede da Estrada de Ferro Vitória Minas. Passagens de graça e ele nunca dizia não. Andávamos até em trem de carga. Ele confiava, era uma época que se confiava nos jovens diferente de hoje. Quando as patrulhas acampavam não tinha reunião. Quase todas sempre iam para o campo pelo menos uma vez por mês.

- Os pais confiavam nos filhos. Eu tinha um pai e uma mãe que dificilmente dizia não. Só em casos extremos. Era bom sair pela manhã ou à noite, mamãe no portão dando adeus. Meu pai não, era mais caladão. Na volta sempre eles no portão a me esperar (mamãe e minhas duas irmãs). Só mais tarde quando fiz meu primeiro curso escoteiro foi que vi a programação de um acampamento nos moldes de Gilwell Park. Logo ao voltar (já era Chefe aos dezoito) chamei os monitores e expliquei como era. – Vamos fazer um Chefe?

- Foi demais. Todos vibraram. O tempo foi passando e até o final de 1992 ainda fazia questão dos meus acampamentos de Gilwell. Aprender a fazer fazendo. Tive a honra de ter grandes patrulhas nas tropas que colaborei. Bons monitores bem preparados. Alguns não saiam de minha casa e eu era amicíssimo dos pais deles.

- Hoje sei que muitos dizem que isto não é mais possível. Não sei. Acho que nem tanto mar nem tanto terra. Um bom acampamento de Gilwell tem sim lugar em qualquer tempo. Basta o Chefe saber programar e saber realizar. Fico triste ao ver notícias que estão a processar chefes por tratar mal seus escoteiros. Acho que isto não acontecia em minha época. Dávamos valor à amizade, ao respeito e a disciplina.

- Não sei se tantos cursos pedagógicos e visando dar informações das novas metodologias educacionais tem mais valor sobre os cursos técnicos.  Não estou junto, não estou vendo os resultados. Só o futuro dirá. Eu no entanto gosto de lembrar meu tempo de menino, chapelão, Vulcabrás e pé na estrada. Não pode mais? Se eu tivesse forças iria mostrar que pode, basta querer.

Nota – Nestes tempos de velhice, às vezes a saudade aperta, a vontade voltar no tempo cresce e a gente se põe a lembrar. Um amigo disse que em qualquer época os escoteiros sempre irão lembrar de sua época. Concordo, mas a minha foi uma das partes mais lindas da minha vida. Espero que os de hoje quando chegarem nos tempos da terceira idade possam recordar assim como eu nos dias de hoje.

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