Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Novos e velhos tempos. (Crônica dedicada aos Antigos Escoteiros).



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Novos e velhos tempos.
(Crônica dedicada aos Antigos Escoteiros).

Nota - É o regresso ao passado, o presente é o futuro. Máquina do tempo, o velho testamento em que não existia o veneno. Bons velhos tempos, continuo aqui o mesmo... Escoteirando como outrora no meu pensamento!

- “Vado Escoteiro, olhe o que eu ganhei! Um rolo de sisal, quase dois quilos”! – Olhei com curiosidade, nunca tinha visto um. Achei bonito, uma cordinha fina amarelada, logo me vi usando em uma quadrada ou diagonal. Seria um “tetéu” para uma costura de arremate, bem melhor do que o cipó Cacique e o treteiro. - Foi meu tio da capital quem me trouxe. - “Bom bonito e barato”! Disse ele. – É para a Patrulha? É sim Vado, foi presente, sem ônus. Foi o meu despertar para deixar de lado minha gostosa e saudosa amarra com cipó. A gente usava e guardava quando retornasse.

- O tempo foi passando, “Macaco Disse” para segui-lo com submissão. Usei o sisal pela primeira vez. Pata tenra no uso deixei enormes marcas nas mãos. Acochar era preciso. Doeu por uma semana. Depois aprendi a usar um pequeno pedaço de pau enrolando e acochando. Valeu, minhas mãos não tinham mais marcas. Vi um Monitor em Conselheiro Pena usando uma luva de couro. Experimentei. Valia a pena. Quanto custa a luva? O preço era alto demais para mim. Comecei a ver que a modernidade tem preço e nem sempre eu podia pagar.  

- Foi meu primeiro embate com o moderno e que o diga meu Lampião Vermelho a querosene. Um vidrinho bem acochado na tampa com o líquido, ele amarrado de lado na mochila ia para onde o quiséssemos levar. Dava para o gasto, lumiava em nossa volta, nunca sentimos falta da luz elétrica. Fumanchu o Cozinheiro muitas vezes quando faltava querosene ele tinha de reserva duas velas e com um pedaço da lasca de uma peroba era um pedestal perfeito para iluminar sua cozinha.

- Tínhamos a técnica para dar a iluminação necessária para as noites de acampamento. Altura exata do pavio, limpeza do vidro e outros. Todo Pata Tenra tinha que se adestrar a abrir o vidro, cortar o pavio e por a iluminação na ordem certa. E eis que apareceu o famoso “Liquinho”. Lampião a Gás, lampião de gás, quantas saudades você me trás! Mas as saudades maiores sempre foi do meu querido e batuta Lampião a querosene. A Gás perdia a graça nas noites de luar!

- “Seu” Dondinho um antigo sênior agora investido em sua oficina de tornearia, nos presenteou com um “forçado” nome que inventamos para furar buracos na terra fácil de transportar. Eis que vejo na oferta nas casas Abil um tal de Trado perfurador de terra de rosca! – Apenas sessenta mangos! Uma tralha difícil de levar sem a carretinha. Começavam a rarear nossos acampamentos a “Escoteira”. “A patrulha que anda só”! As invenções da modernidade diziam, seria para facilitar a locomoção menor do ser humano.

- O 6º Batalhão Militar a cada dois ou três anos nos presenteava com materiais descartados mas em sua maioria seminovo. Barracas, mochilas, trados, machadinhas, marmitas e outras bugigangas. As barracas sempre as mesmas. As de soldado de duas lonas. Cada um levava uma lona e no local escolhido para acampar a gente mesmo cortava as varas e os espeques e os cipós “dando sopa”. Ninguém se apertava. O tempo foi passando e eis que as saudosas “duas lonas” deixaram de existir.

- Agora tínhamos as Iglus, as bangalôs, as Canadenses, a Náutica, a Indy, a Modular Desmontável e tantas outras não mais de graça. Não eram de lonas e sim de um tecido de nylon que pegava fogo com facilidade. Quantas eu vi as labaredas fervendo no ar. Coisas da modernidade. Tem aquela que você leva na sacola, abre, tira uma bomba de ar simples e “pluf” a danada salta no ar e lá dentro só falta uma TV Oled 4K para esquecer o apito do Chefe e descansar.

- Pois é, tudo mudou. - E foi para melhor Chefe! Grita para mim uma escoteira de um grupo escoteiro amigo. Para que aprender a orientar pelas estrelas? Pelas constelações? Pelas árvores, pela maré, pelo bando de Biguás voando pelo céu? Para que o passo duplo, o passo escoteiro, o bastão? Para que medir altura, distancia, latitude e longitude se um Smart fone substitui sem se cansar? Mundo moderno, escotismo moderno. Saudades? Nem pensar Chefe, as saudades serão nossas pois lá no futuro quem sabe os smart fones serão substituídos por outros mais modernos! Quá! Até lá estarei no Grande Acampamento de Baden-Powell.

- Chefe! Grita o Monitor da Coruja no meu campo de Patrulha. – Almoço pronto, Temos a honra de convidá-lo a comer um peixada de lambaris com traíras, fritinhos na frigideira e acompanhado de mandioquinhas fritas ao leite de cabra! Olhei para ele assustado, estava dormindo e viajei no tempo. Ah! Velhos e longos tempos...

A saudade aperta…o futuro acorda, mas há coisas que a mágoa não afoga... Bons velhos tempos em que a vida era um rascunho onde anotava pedaços do meu destino. Éramos um só…todos juntos num só caminho…À descoberta da existência de um movimento. Era tudo verdadeiro e puro, na época a música voava como um sonho de um miúdo... Ninguém competia apenas aprendia e brilhava quando mostrava aquilo que fazia. A amizade do coração, sem exibição, sem cobiça. Cada um à sua justiça reinava…da amizade e da rua extraía a sabedoria que adquiria. De um abraço, uma palavra ou um sorriso de um amigo, era motivo de antalgia. Mas tudo muda, incluindo a vida, mas nada compra, pensamentos de bons velhos tempos.

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