Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Quando termina a motivação o que
fazer?
Nota - Precisamos
mudar, quando? Quando cada um que se julga importante no escotismo olhar sem
próprio umbigo e disser: - Somos irmãos de sangue, tu e eu... Afinal pertencemos
ou não a grande Fraternidade Badeniana?
Chegando o
final de ano. Mais uma leva de chefes entrando para a Legião dos Esquecidos.
Quem são eles? São os que desistiram. Tiveram seus motivos. Sabemos que a UEB
as Regiões e Distritos não se preocupam com eles. Nem uma cartinha nem um
e-mail agradecendo. Os grupos prejudicados correm a procurar substitutos.
Quantos já se foram? Mil? Dois mil? Não sei. Poucos irão saber, pois tais informações
e senso nunca serão exibidos. Não precisamos estar presentes em cada Grupo
Escoteiro para saber como se dá a evasão de adultos e jovens.
Tivemos um crescimento do escotismo em nosso
país, uma procura razoável de novos voluntários, principalmente os pais dos
novos jovens recém-admitidos. A maioria chegou sorrindo querendo ajudar. Com o
tempo o sorriso desapareceu e muitos preferiram deixar o sonho que um dia
acreditaram ser para sempre. Hoje após ler um artigo de um que deixou as
fileiras da Escoteiros do Brasil fiquei pensando quantos como ele também deixou
o escotismo.
Em alguns Grupos Escoteiros a
motivação com o tempo nem sempre acontece e não é fácil aconselhar a ficar quem
está decepcionado. Quem não passou por isto? Tem hora que você desanima. Dá
vontade de largar tudo e sair por ai. Outros ainda insistem, mas sabem que o
caminho a seguir se perdeu. Se procurarmos um serviço de autoajuda para
explicar esta evasão, se ouvirmos as belas frases de efeito nem sempre ajudam a
voltar atrás.
Quando
entramos no escotismo tudo são flores, sorrisos, promessas de uma nova vida uma
filosofia que encanta. Alguns deixam as amizades que tinham em troca de novas
que conquistaram. Nos primeiros meses, e até nos primeiros anos aqueles mais
chegados que não foram catequisados espantam com tanto carisma, com tanta
alegria e demonstração de afeto que ele alcançou um novo patamar, uma nova
vida. Agora sou feliz ele pensa. Será mesmo?
Dizem os poetas que o que mais sofremos no
mundo não é a dificuldade, é o desânimo em superá-la. Não é a provação, é o
desespero diante do sofrimento. Não seria o fracasso e sim a teimosia de não
reconhecer os próprios erros. Eu já passei por isto. Inúmeras vezes. Os
problemas são diversos. Familiar, profissional, falta de ética, de amor,
tratamento diferenciado, de sinceridade dos que se dizem irmãos de uniforme e
de sangue e tantos sorrindo para você e você querendo chorar. Sabe da vontade
de encontrar um buraco e se enfiar nele. Claro tem os mais fortes. Eles não
transmitem para ninguém seus desânimos. São fortes. Tem sempre uma explicação
para tudo. Mas será que dizem a verdade?
Temos
uma matemática Escoteira simples. Trinta e poucas reuniões por ano. Some as reuniões
de sede, acampamentos e excursões. Será que chegaremos a aproximadamente
quinhentas horas anuais? Vamos considerar pelo menos quatro atividades extra
sede de mais ou menos 20 horas por dia, reuniões e atividades distritais,
regionais e nacionais. Tudo isto tudo em mais ou menos nove meses, pois muitos
têm férias em julho, dezembro e janeiro. Acredito que dedicamos cerca de vinte
a trinta dias por ano ao escotismo. Sei de abnegados que dedicam muito mais.
Mas porque então o
desanimo? Motivos diversos. O principal deles é a decepção com o ser humano.
Querer abancar o mundo e dizer que o líder é aquele que sabe liderar e ser
liderado é fácil de dizer. Mas nem todos estão preparados para atuar em
liderança principalmente com voluntários. Com o tempo nos sentimos ameaçados daqueles
que dizem ser nosso amigo e irmão escoteiro.
Nestas horas é que todos nós
sentimos a falta de um aperto de mão carinhoso sincero. De um abraço, um
sorriso uma palavra de carinho. Afinal o Grupo Escoteiro não é considerado uma
grande família? Tem aqueles que nos consideram importantes, mas tem aqueles que
queremos distância. Eles nos veem como indesejáveis, subservientes,
dispensáveis, e se pudesse diriam: - Vocês estão aqui para servir e mais nada!
Lembrem-se da promessa! Para ser como eu tem que “ralar”. Eita desanimo. Dá vontade
de sumir de mandar todo mundo às favas.
Ninguém sai ao primeiro embate. Insistem,
querem ver se eles não estão errados. Afinal fizemos uma promessa e ela nos deu
a primazia de sonhar cm um mundo melhor. Insistimos e tentamos dar a volta por
cima. Nem todos conseguem. Quem sabe estão aí os motivos desta evasão de
adultos e jovens. Quando se vão ninguém se lembra deles mais, parece que não fazem
faltas ou estão mortos.
Dizem que o programa, os gastos
extras, as taxas de cursos, a mensalidade dos filhos mesmo sendo um voluntário
poderia explicar a saída. Sinceramente não acredito nisso. Claro que mesmo pagando
para ajudar somos tratados como subservientes, como aprendiz, como se o
Escotismo fosse um Grande Castelo de Sonhos a explorar. Os mais antigos se
sentem importantes. Sempre Alerta Chefão! Alguns adoram isso.
Nos cursos alguns
gostam de serem bajulados, reconhecidos como mestres, Grandes chefes, Velhos
Lobos e se posam como se fossem nosso fundador Baden-Powell. Querem ser o
professor ou o chefe que nunca foram. Dificilmente nas horas difíceis virão
alguns deles para nos dizer: Aceite meu aperto de mão, meu abraço e saiba que você
é muito importante para nós... Contamos com você!
Se isso fosse real, se não tivéssemos
tantos egoístas e arrogantes para sujar o todo da associação, se o desanimo
fosse substituído por um estímulo tão próprio do Movimento Escoteiro isto
poderia ser evitado. Cada dia mais aumenta os que deixam nossas fileiras. As
novas Associações estão aí para oferecer um cantinho, uma palavra de carinho e
conquistam de maneira escoteira os que se foram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário