Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

domingo, 11 de novembro de 2018

Lendas e realidades Escoteiras. A bravura de um herói. A História de Caio Vianna Martins.



Lendas e realidades Escoteiras.
A bravura de um herói.
A História de Caio Vianna Martins.

Prefácio: - (Esta é uma historia contada aos pedaços da vida de Caio Vianna Martins). “Parte dela é fruto da imaginação do autor”. O desastre e outros detalhes são reais – em 1973 em um acampamento regional Escoteiro em Matozinhos foi entregue a seu irmão uma medalha de Valor Ouro post mortem a Caio Vianna Martins. (Eu estava lá!). 

                Apenas um menino, igual aos demais. Nasceu no dia 13 de julho de 1923 em Matozinhos MG; Seu professor no Grupo Escolar contou algumas passagens de sua vida. Ninguém imaginava que aquele menino um dia seria um exemplo para todos os escoteiros do mundo. Um verdadeiro herói. Dizem que os heróis não se fazem, já nascem assim. Professor Jamilson nunca observou Caio por este prisma. Hoje se sente orgulhoso de um dia tê-lo conhecido. Quando o viu pela primeira vez adentrando na sala de aula fez uma mesura para seu Mestre. Sabe Moço, dizia o professor. Eu Lecionava na Escola Visconde do Rio das Velhas e o conheci em 1929. Ele tinha seis anos na época e nunca ouviu falar dos escoteiros. Alguns anos mais tarde seus pais foram para Belo Horizonte e ele se matriculou na Escola Barão do Rio Branco.

             Caio na sua simplicidade nunca pensou em ser lenda, herói ou um Escoteiro padrão. Sua vida escoteira teve início em um sábado quando com um amigo foram assistir ao treino de um time futebol e viu pela primeira vez os escoteiros. Ficou fascinado e não deu sossego ao seu pai enquanto não o levasse para matricular. Era agora aluno do Colégio Afonso Arinos. Entrou para os Escoteiros e entregou-se de corpo e alma a sua nova filosofia. Não tenho certeza, mas acho que fez sua promessa em uma tarde de maio. Sua vida mudou. Tinha como seu exemplo os chefes Clairmon Orlando Gomes e o Chefe Rubens Amador.

                  Caio amava o escotismo e seus pais tinham orgulho dele. Conhecia Gerson Issa Satuf que era de outra Patrulha e de vista o lobinho Hélio Marcus de Oliveira Santos A história de Hélio com seus noves anos nunca foi contada. Sorria pouco e quase não falava. Era um Lobinho entusiasta conforme lembravam seus chefes de alcatéia. Foi em um acampamento em Contagem em um sitio de um amigo do Chefe Francisco Floriano de Paula (grande mestre Escoteiro e reitor do colégio onde estudava foi um marco no escotismo mineiro). Caio, Hélio e Gerson se cruzaram muitas vezes.  O acampamento marcou a vida de Caio Martins para sempre. A vida passava muito rápido e logo ficou sabendo da atividade em São Paulo. Convenceu seus pais a deixa-lo ir afinal era bom estudante e bom filho.

                  Caio já era o monitor da patrulha. Na época os monitores eram escolhidos olhando mais sua idade e desenvoltura. Baden-Powell em seu livro Escotismo para Rapazes dizia que os mais velhos são mais respeitados pelos mais novos. Foi uma festa quando partiram no trem noturno para São Paulo.  Eram seis lobinhos, doze escoteiros, três pioneiros o Chefe Clairmont e Rubens além de mais dois membros da Comissão Executiva. Uma delegação de 25 participantes. Embarcaram na Estação Ferroviária em Belo Horizonte. No vagão dos escoteiros era só cantoria e alegria. O condutor o Velho Gabriel com seus bigodes imensos sorria com aquela meninada divertida e alegre. Vinte e duas horas num trem sacolejante e fumacento Até São Paulo. Naquele vagão onde dormiam os escoteiros ninguém imaginava o que estava para acontecer. A História do herói começou a ser escrita.

               Ninguém até hoje explicou porque o Chefe da estação João Aires não parou o trem de carga que descia a Serra da Mantiqueira. No Noturno todos dormiam sorrindo em pensar o que fariam ao chegar ao seu destino. Nas páginas do livro da vida uma nova etapa tinha inicio marcado. Para Mario Montes o maquinista do cargueiro, mais de vinte anos fazendo o mesmo trajeto nem imaginava o que ia acontecer. Jonas o Coruja maquinista do Noturno nem percebeu o trem cargueiro em sentido contrário se aproximando a toda velocidade. Tarde demais! O desastre era eminente! Os freios rangeram, os apitos soaram, e a batida veio forte. Estrondos se fizeram ouvir. Vagões foram expulsos da linha e jogados em uma ribanceira. Duas e cinco da madrugada fatídica. Um engavetamento monstro se formou. 20 de dezembro de 1938 entrou para a história. O vagão onde eles estavam saltou do trilho e se espatifou em um barranco. Gritos, pedidos de socorro, tudo escuro e nada se via. O Chefe Clairmont e Rubens se puseram na ativa. Chefes são sempre assim. Poucos reconheceram o heroísmo de que eles eram possuídos. Só havia preocupação em ajudar os feridos.

                   Reuniram todos os membros do grupo e deram falta de Hélio Marcos e Gérson Satuf. Foram encontrados mortos embaixo dos escombros. Era uma carnificina. Os que ainda estavam de pé corriam para ajudar. Os pioneiros fizeram uma grande fogueira com os destroços dos vagões, pois a escuridão não ajudava. Caio cambaleante ajudava como podia. Ele havia recebido uma pancada na região lombar e não contou a ninguém. Clairmont e Rubens estavam esgotados. Só às sete da manhã os primeiros socorros vindo de Barbacena começaram a chegar. Viram Caio claudicando sentindo dores terríveis. Tentaram levá-lo na maca e ele não aceitou. – Tem feridos piores disse. A história é cheia de fatos heróicos. Foi assim com Caio Vianna Martins. Ao Chegar a Barbacena, uma golfada de sangue e com os lábios tremendo recusou novamente a maca dizendo as mais belas frases que o mundo conheceu: 

– “Há muitos feridos aí. Deixe-me que irei só. Ajudem os outros, eu sou um Escoteiro e o Escoteiro caminha com suas próprias pernas”! – Saiu caminhando e desfaleceu morrendo alguns dias depois em um hospital de Barbacena. Tudo seria esquecido se não fosse dois grandes homens públicos mineiros Alcides Lins e Otávio Negrão de Lima que presentes viram tudo e contaram para o Brasil e para o mundo o que disse o herói Escoteiro. O gesto de Caio Vianna Martins ficou gravado na história escoteira. Ele foi escolhido como o Escoteiro símbolo do Brasil. O Grupo de Caio hoje não existe mais no colégio Afonso Arinos. Ali somente uma placa de bronze foi colocada sobre os feitos de Caio Martins.

                      Em memória a Caio Vianna Martins, Gerson Issa Satuf e Hélio Marcos de Oliveira Santos, saudemos no panteão da glória e dos heróis nacionais com o nosso: SEMPRE ALERTA! E tiramos o chapéu com o Grito de guerra da União dos Escoteiros do Brasil – Anrê – Anrê – Anrê! – Pró Brasil? Maracatu! 

“Há muitos feridos aí. Deixe-me que irei só. Ajudem os outros, Eu sou um Escoteiro e o Escoteiro caminha com suas próprias pernas”!


Estoicismo - (Noticia publicada em jornais de todo Brasil) - Passou provavelmente despercebida, nas notícias pormenorizadas sobre a última catástrofe da Central, a serena coragem daquele pequeno Escoteiro, uma criança de quinze anos, que estando gravemente ferida, os que o queriam levar em maca para o hospital, dizendo com um sorriso de homem forte: "Um Escoteiro caminha com suas próprias pernas". E caminhou. Mas foi para morrer, poucas horas depois, no leito em que o colocaram para uma tentativa de salvação. Este menino de quinze anos honrou o nome e deu um exemplo a todos os Escoteiros do País. E mostrou a muita gente grande que um Escoteiro sabe sorrir para morte que o acompanha de perto. Se um dia for erguido qualquer monumento ao "Escoteiro Desconhecido", a lembrança do estoicismo desta criança resumirá a bravura de uma geração de Escoteiros do Brasil.



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