Lendas e realidades Escoteiras.
A bravura de um herói.
A História de Caio Vianna Martins.
Prefácio:
- (Esta é uma historia contada aos pedaços da vida de Caio Vianna Martins). “Parte
dela é fruto da imaginação do autor”. O desastre e outros detalhes são reais –
em 1973 em um acampamento regional Escoteiro em Matozinhos foi entregue a seu
irmão uma medalha de Valor Ouro post mortem a Caio Vianna Martins. (Eu estava
lá!).
Apenas um menino, igual aos demais.
Nasceu no dia 13 de julho de 1923 em Matozinhos MG; Seu professor no Grupo
Escolar contou algumas passagens de sua vida. Ninguém imaginava que aquele
menino um dia seria um exemplo para todos os escoteiros do mundo. Um verdadeiro
herói. Dizem que os heróis não se fazem, já nascem assim. Professor Jamilson
nunca observou Caio por este prisma. Hoje se sente orgulhoso de um dia tê-lo
conhecido. Quando o viu pela primeira vez adentrando na sala de aula fez uma
mesura para seu Mestre. Sabe Moço, dizia o professor. Eu Lecionava na Escola
Visconde do Rio das Velhas e o conheci em 1929. Ele tinha seis anos na época e nunca
ouviu falar dos escoteiros. Alguns anos mais tarde seus pais foram para Belo
Horizonte e ele se matriculou na Escola Barão do Rio Branco.
Caio na sua simplicidade nunca
pensou em ser lenda, herói ou um Escoteiro padrão. Sua vida escoteira teve
início em um sábado quando com um amigo foram assistir ao treino de um time
futebol e viu pela primeira vez os escoteiros. Ficou fascinado e não deu sossego
ao seu pai enquanto não o levasse para matricular. Era agora aluno do Colégio Afonso Arinos. Entrou para os
Escoteiros e entregou-se de corpo e alma a sua nova filosofia. Não tenho
certeza, mas acho que fez sua promessa em uma tarde de maio. Sua vida mudou. Tinha
como seu exemplo os chefes Clairmon Orlando Gomes e o Chefe Rubens Amador.
Caio amava o escotismo e seus
pais tinham orgulho dele. Conhecia Gerson Issa Satuf que era de outra Patrulha e
de vista o lobinho Hélio Marcus de Oliveira Santos A história de Hélio com seus
noves anos nunca foi contada. Sorria pouco e quase não falava. Era um Lobinho
entusiasta conforme lembravam seus chefes de alcatéia. Foi em um acampamento em
Contagem em um sitio de um amigo do Chefe Francisco Floriano de Paula (grande
mestre Escoteiro e reitor do colégio onde estudava foi um marco no escotismo
mineiro). Caio, Hélio e Gerson se cruzaram muitas vezes. O acampamento marcou a vida de Caio Martins
para sempre. A vida passava muito rápido e logo ficou sabendo da atividade em
São Paulo. Convenceu seus pais a deixa-lo ir afinal era bom estudante e bom
filho.
Caio já era o monitor da
patrulha. Na época os monitores eram escolhidos olhando mais sua idade e desenvoltura.
Baden-Powell em seu livro Escotismo para Rapazes dizia que os mais velhos são
mais respeitados pelos mais novos. Foi uma festa quando partiram no trem
noturno para São Paulo. Eram seis
lobinhos, doze escoteiros, três pioneiros o Chefe Clairmont e Rubens além de
mais dois membros da Comissão Executiva. Uma delegação de 25 participantes.
Embarcaram na Estação Ferroviária em Belo Horizonte. No vagão dos escoteiros
era só cantoria e alegria. O condutor o Velho Gabriel com seus bigodes imensos
sorria com aquela meninada divertida e alegre. Vinte e duas horas num trem
sacolejante e fumacento Até São Paulo. Naquele vagão onde dormiam os escoteiros
ninguém imaginava o que estava para acontecer. A História do herói começou a
ser escrita.
Ninguém até hoje explicou porque
o Chefe da estação João Aires não parou o trem de carga que descia a Serra da
Mantiqueira. No Noturno todos dormiam sorrindo em pensar o que fariam ao chegar
ao seu destino. Nas páginas do livro da vida uma nova etapa tinha inicio
marcado. Para Mario Montes o maquinista do cargueiro, mais de vinte anos
fazendo o mesmo trajeto nem imaginava o que ia acontecer. Jonas o Coruja
maquinista do Noturno nem percebeu o trem cargueiro em sentido contrário se
aproximando a toda velocidade. Tarde demais! O desastre era eminente! Os freios
rangeram, os apitos soaram, e a batida veio forte. Estrondos se fizeram ouvir.
Vagões foram expulsos da linha e jogados em uma ribanceira. Duas e cinco da
madrugada fatídica. Um engavetamento monstro se formou. 20 de dezembro de 1938
entrou para a história. O vagão onde eles estavam saltou do trilho e se
espatifou em um barranco. Gritos, pedidos de socorro, tudo escuro e nada se
via. O Chefe Clairmont e Rubens se puseram na ativa. Chefes são sempre assim. Poucos
reconheceram o heroísmo de que eles eram possuídos. Só havia preocupação em
ajudar os feridos.
Reuniram todos os membros do
grupo e deram falta de Hélio Marcos e Gérson Satuf. Foram encontrados mortos embaixo
dos escombros. Era uma carnificina. Os que ainda estavam de pé corriam para
ajudar. Os pioneiros fizeram uma grande fogueira com os destroços dos vagões,
pois a escuridão não ajudava. Caio cambaleante ajudava como podia. Ele havia
recebido uma pancada na região lombar e não contou a ninguém. Clairmont e
Rubens estavam esgotados. Só às sete da manhã os primeiros socorros vindo de
Barbacena começaram a chegar. Viram Caio claudicando sentindo dores terríveis.
Tentaram levá-lo na maca e ele não aceitou. – Tem feridos piores disse. A
história é cheia de fatos heróicos. Foi assim com Caio Vianna Martins. Ao
Chegar a Barbacena, uma golfada de sangue e com os lábios tremendo recusou
novamente a maca dizendo as mais belas frases que o mundo conheceu:
– “Há muitos feridos aí. Deixe-me que irei só. Ajudem os
outros, eu sou um Escoteiro e o Escoteiro caminha com suas próprias pernas”! –
Saiu caminhando e desfaleceu morrendo alguns dias depois em um hospital de
Barbacena. Tudo seria esquecido se não fosse dois grandes homens públicos
mineiros Alcides Lins e Otávio Negrão de Lima que presentes viram tudo e
contaram para o Brasil e para o mundo o que disse o herói Escoteiro. O gesto de
Caio Vianna Martins ficou gravado na história escoteira. Ele foi escolhido como
o Escoteiro símbolo do Brasil. O Grupo de Caio hoje não existe mais no colégio
Afonso Arinos. Ali somente uma placa de bronze foi colocada sobre os feitos de
Caio Martins.
Em memória a Caio Vianna Martins, Gerson Issa Satuf e Hélio Marcos de
Oliveira Santos, saudemos no panteão da glória e dos heróis nacionais com o
nosso: SEMPRE ALERTA! E tiramos o chapéu com o Grito de guerra da União dos Escoteiros
do Brasil – Anrê – Anrê – Anrê! – Pró Brasil? Maracatu!
“Há muitos feridos aí. Deixe-me que irei só. Ajudem os
outros, Eu sou um Escoteiro e o Escoteiro caminha com suas próprias pernas”!
Estoicismo
- (Noticia publicada em jornais de todo Brasil) - Passou
provavelmente despercebida, nas notícias pormenorizadas sobre a última
catástrofe da Central, a serena coragem daquele pequeno Escoteiro, uma criança
de quinze anos, que estando gravemente ferida, os que o queriam levar em maca
para o hospital, dizendo com um sorriso de homem forte: "Um Escoteiro
caminha com suas próprias pernas". E caminhou. Mas foi para morrer, poucas
horas depois, no leito em que o colocaram para uma tentativa de salvação. Este
menino de quinze anos honrou o nome e deu um exemplo a todos os Escoteiros do
País. E mostrou a muita gente grande que um Escoteiro sabe sorrir para morte
que o acompanha de perto. Se um dia for erguido qualquer monumento ao
"Escoteiro Desconhecido", a lembrança do estoicismo desta criança
resumirá a bravura de uma geração de Escoteiros do Brasil.
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