Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Os donos do poder.
Prólogo:
- E o velho Chefe sorrindo completou: - Vocês
não podem mudar certas circunstâncias ou situações, mas podem adaptar-se a elas
sempre, escolhendo a forma do mal menor. Pode não ser o ideal, mas será o
melhor. Aproveitem as oportunidades que lhes derem, mesmos que sejam
aparentemente pequenas. As grandes árvores vêm de pequeninas sementes. Be
Prepared!
Quem lê ou ouve alguém falar da
Filosofia Escoteira, fica estupefato. É linda demais. Juventude unida por um só
ideal. Voluntários que fazem de tudo para que esta estupenda ideia de um
General Inglês possa dar frutos criando homens e mulheres dentro de um
paradigma de amor ao próximo, lealdade, caráter honra e porque não uma ética
escoteira em que todos possam viver fraternalmente. Muitos vieram dos velhos
tempos outros dos novos tempos. Acredito que ambos conhecem a fraternidade, a
cortesia e o respeito daqueles que se prontificaram a colaborar sem soldo,
muitas vezes sem um muito obrigado. Brinco educadamente que o escotismo não tem
dono, não pode ter. Ele é universal e o Fundador dizia que seus frutos seriam
para manter a paz entre os homens para um mundo melhor.
Mas eis que apareceram normas,
regulamentos, regimentos, leis, roteiros de ação, estatutos, código de conduta
e tantas outras para dizer o que cada um pode ou não pode fazer. Não existe
mais o salomônico Chefe para mostrar o caminho e sorrindo dizer: - Vamos juntos
fazer. Antes um escotismo alegre, solto, livre como o vento a correr pelos
montes, pelas trilhas desconhecidas procurando um lugar para acampar. Hoje?
Tudo mudou. Primeiro as normas, pedido escrito se pode ou não fazer. E claro
ter a autorização do Chefe do Poder. Se isto fosse feito de uma maneira
fraterna, educada, sem o cunho de imposição poderia ainda haver aquele sonho
dos meninos correndo pelas matas das cidades sem um adulto ao seu lado para
dizer aonde ir. Mas não, sem perceber apareceram os “donos do poder”. E então o
escotismo mudou. Alguns chegaram com um sorriso outros arrogantes, ríspidos a
dizerem o que é certo e errado, mostrando o artigo, a norma e a lei escrita por
eles mesmos pensando que assim seria o certo para dizer onde pisar e
escoteirar.
Não critico normas, leis e o
escambal. E por favor, não me venham dizer que os tempos são outros. Afinal os
adultos de hoje são poucos os que sentam, se calam e ouvem o que o jovem tem a
dizer. Não deram para ele o direito de escolha, daquele escotismo solto, sem
amarras, do garbo, das aventuras e da vida ao ar livre. Não discuto normas, nos
dias de hoje elas tem de existir. Se o aprender fazendo foi uma descoberta hoje
é o Chefe fazendo e falando o que deve ser. A liberdade da responsabilidade já
não é mais a mesma. O confiar na palavra escoteira deixou de existir. Agora se
agarra a norma tal que um bando de lideres acreditou que seria o melhor para
todos. Onde foi parar a mística? Aquele sorriso ao correr pelos campos para
descobrir o imponderável? Onde foi parar o sonho da descoberta, a mangueira
alta sombreada a beira de uma cascata de águas cristalinas para que se possa
sorver seu néctar e a sede matar? Tudo agora é norma, é lei, ande reto e não
pare a não ser quando eu mandar. Olhe você só vai se cumpriu seu dever se pagou
a soma que lhe quiseram cobrar. E dizem que ele o General se vivo fosse faria
assim também.
Mas ainda vejo sorrisos, sonhos,
vontade de acertar e caminhar como Caio Martins sempre caminhou. “Com as
próprias pernas”. São meninos, meninas que se formam como um punhado de
sonhadores a fazer um escotismo que acreditam poder realizar. Ainda temos
chefes que fecham os olhos para os adoradores do poder e se metem a sair por aí
com um bornal, cheios de fantasia, imaginação a procura de um escotismo
encantado. Não foi assim que ensinou o General? Entristece-me a discussão de
normas, regulamentos e o escambal. – Chefe, esta difícil... Não dá para
continuar... Não dá? Se todos que são achincalhados e humilhados na sua sina
escoteira pensar assim, quando iremos vencer esta batalha para dar aos jovens
pelo menos uma parte deles que ainda acreditam na graça, no encanto na
grandiosidade de um escotismo que julgam perfeito para fazer? Belo é o
escotismo de quem acredita de quem luta e não desiste quando na curva encontram
espinhos sem olhar direito e ver rosas formosas mostrando o caminho da
felicidade.
Sei que os donos do poder
dificilmente vão mudar. Nos últimos anos fizeram uma “lavagem cerebral” não
dando opções de escolha. Fazem tudo para continuar no poder. Aqueles que podem
opinar fingem que concordam. Estes
pseudos lideres não tem histórias e querem fazer histórias. Qual delas? A do
escotismo puro, com cheiro de mato, com trilhas pisadas sem saber aonde vai dar?
Pode ser que um dia chegarão lá, mas isto só irá acontecer se ombrear ideias,
valores éticos sem dissabores que muitos querem criar. Como estou na flor da
idade e não estou preso a nenhuma associação não ligo para as normas criadas com
a finalidade da perpetuação no poder. Eu não preciso delas, nunca precisei. Às
vezes lembro-me daquela história da mitologia chinesa dos três macacos.
Kikazaru o surdo; Iwazaru o mudo e Mizaru o cego. Eles aparecem nos templos nos
desenhos um tapando os ouvidos, outros tapando os olhos e o outro a boca. Estou
velho demais para ficar cego surdo e mudo. Com a palavra os novos chefes que
estão chegando.
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