Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Saudades do
Antigo Escoteiro!
- Oi! Desculpe me
intrometer neste bate papo delicioso de chefes escoteiros e Akelás que
vivenciam tão belo escotismo dos novos tempos. Mas preciso defender o antigo e
velho escoteiro que vocês estão estranhando nesta roda tão querida neste pequeno
fogo de conselho. Ele é de outra época, outros momentos, outras conversas,
outras maneiras de vivenciar o escotismo de seu passado que não existe mais... Pois
só vive hoje de suas queridas lembranças. Ele estava acostumado a pular a
fogueira, mostrando em gestos seus acampamentos, suas jornadas, suas aventuras
pelas estradas queridas de sua terra. Eram preciosos momentos quando botavam o
pé na estrada, a procura do desconhecido, das serras intermináveis, das
barracas feitas de estrelas onde em volta do fogo à meninada sem seus chefes se
divertiam a valer. Vejam que ele fica calado, prestando muita atenção, pois não
está atualizado com a nova maneira de se expressar com palavras desconhecidas o
estilo atual de rir de comentar principalmente quando falam de outros chefes do
mesmo grupo de origem ou do distrito. Veja seu semblante, às vezes assusta em
ouvir o que dizem daqueles que não estão presentes, pois ele não se sente bem
em falar de alguém que não pode se defender e mostrar sua versão dos fatos
citados.
- Ele está voltando ao
escotismo agora uma seara difícil para entender estes tempos modernos que
alardeiam ser um escotismo dos novos tempos. Não entendeu a sabatina e os
formulários que teve de preencher quando resolveu procurar seu antigo grupo
escoteiro pensando em voltar às origens. Ficou em dúvida se seria interessante
voltar ao um escotismo que desconfiam de sua palavra e de sua honra. Vagamente
ele recorda seus tempos de lobinho, suas excursões bivaques e acantonamentos.
Ele sorri nas noites de lua cheia das histórias de Mowgly contada pelo Balu,
das passagens no Waingunga da morte de Sheri Khan como brincava Raksha a contar
com sua amiga Bagheera. Ele nunca esqueceu sua promessa, feito pela Akelá com a
presença do Chefe do Grupo que hoje nem existe mais. Foi ele quem colocou o lenço
e sorriu para dizendo que agora fazia parte da Grande Fraternidade Mundial dos
Escoteiros. Ele não entende que hoje não é mais como ontem, as reuniões são
diferentes, as canções também. Estranha a falta das danças da Jângal. Ele ainda
cantarola superficialmente uma parte da estrofe da Dança da Morte de
Shere-Khan... “Mowgli está caçando, Mowgli está caçando”... Matou o
Shere-Kha... “Esfolou o come-gado, esfolou o come-gado, Ra-rá-rá”!
- Veja ele não entende
porque chamam agora de Escoteiros do Brasil e não União dos Escoteiros do
Brasil. Alguns tentam explicar, mas não leve a mal ele nasceu sobre a égide do
antigamente e hoje tudo embolou na sua mente. Fica assustado quando contam
histórias de suas tropas, do quadro negro na sede, das palestras intermináveis
e só do Chefe a falar e cantar. Não entende as promessas em bloco, as atividades
sociais, as atividades de limpeza de rios e córregos na cidade, dos desfiles
sem marcha, do tempo gasto para hastear e arriar uma Bandeira Nacional. Fica estupefato
ao ver o novo uniforme que chamam vestuário. Assusta, pois sempre usou o caqui
de calças curtas e chapelão. Ele presta a maior atenção, pois quer aprender a
nova filosofia as novas normas, e até mesmo o Estatutos que é bem diferente do
que conheceu. Ele coitado, viveu em outra época, do de Sistema de Patrulha, do
Aprender Fazendo, da liberdade de ir e vir, da responsabilidade, do horário que
o Chefe dizia ser pontualidade inglesa. Para ele tudo era aventura, poucas
atividades de sede, um Monitor amigo, um Sub Monitor sorridente e irmão
escoteiro e os demais verdadeiros cavalheiros a moda do antigamente onde a
palavra escoteira era ponto de honra.
Vejam seus olhinhos
miúdos olhando e ouvindo como são os novos métodos, do uso do lenço sem estar devidamente
uniformizado, da falta do chapéu escoteiro, do meião da camisa solta e do
calçado de qualquer cor. Não pensem que ele está sorrindo por deboche, nada
disso! Ele sorri porque vê que agora tudo que aprende pode ser uma nova maneira
de fazer escotismo, mas acredite, ele fica pensando se o Fundador BP iria
concordar com tudo isso. Ele sabe que o garbo e a boa ordem aliada à disciplina
no seu tempo era questão de honra. Sorri ao se lembrar de sua marcha militar, a
banda do Grupo Escoteiro bem afinada, a guarda da bandeira, o uso correto do
bastão, da boa ação individual e com a Patrulha, do sorriso nos lábios ao
passar em frente ao palanque das autoridades... Ele se assusta quando alguém escreve
sobre o peso dos chefes mais gordos, dos magros, que dizem que estão assim e
podem dar mau exemplo aos seus comandados... Ops! Aos seus meninos que
consideram como filho e não como amigo e irmão mais velho.
- Peço desculpas por
ele. Não é mais sua época. Ele sabe que dificilmente será ouvido há não ser
pelas suas histórias que nos novos tempos não tem mais hora e nem lugar. Ele
sabe que sua voz não será ouvida, pois seu tempo já se foi. Se olharem bem,
verão nos seus olhos pequenas lágrimas por não entender o escotismo moderno que
vocês tanto apregoam. Ele aceitou estar ali com vocês por um convite de um
velho amigo que não compareceu. Se sente fora da turma. Nem mesmo abre a boca
para dizer como foi, o que foi e o que fez. Sabe que não haveria interesse de
ninguém. Por educação ouve sem nada dizer. Seu pensamento viaja no tempo, um
tempo que já passou. Seu passado é forte demais para esquecer. Sabe que nunca
esqueceu sua palavra, sua honra que dizem ter mudado, pois ela não vale mais
que a própria vida. Até hoje ele sabe de cor e salteado os artigos da Lei Escoteira.
Lembra quando seu Chefe o orientou a aprender com seu Monitor que sua promessa
seria dita pessoalmente e não repetida. Nunca esqueceu quando seu Chefe disse
para ele que aquele dia seria o mais importante de sua vida. Até hoje chora ao
lembrar.
Ele velhinho se sente
um peixe fora d’água. Ele sabe que o tempo apaga o tempo, e ele não quer
apagar, não esquece quando alguém lhe disse: - Chefe faça o seu escotismo como
aprendeu, com alegria. O Escotismo Chefe é como pedra de moinho, sabendo jogar
só terá alegria e não tristeza. E quando um dia deixar de acreditar, lembre-se
da historia que BP contou a muitos anos da fábula do Pássaro Azul. “A história
da menina chamada Myltyl de seu irmão Tyltyl que resolveram achar o Pássaro
Azul da Felicidade”, e
andaram por todo o país, procurando-o sem jamais encontrá-lo, até que no final
descobriram que jamais houvera a necessidade de andar tanto, pois a felicidade,
o Pássaro Azul, estava lá, onde resolveram fazer bem aos outros, em seu próprio
lar. Se você meditar no profundo significado dessa lenda e aplicá-la, ela o
ajudará a encontrar a felicidade, bem perto, ao seu alcance, tão perto que você
irá sorrir sabendo que sempre estivera ali. Portanto meus amigos desculpem o
Velho Escoteiro, ele não entende os novos tempos, a modernidade e o novo
escotismo diferente do que disse um dia BP!
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