Conversa ao pé do fogo.
Mudando de conversa onde foi que ficou...
¶ Mudando de conversa onde foi que ficou
Aquela velha amizade...¶.
Não tem dia
que vamos para uma reunião com a mente longe de tudo? A cabeça pesa. Afinal não
somos humanos? Uma discussão no lar, um fato mal entendido, uma dificuldade que
existia e brotou logo neste dia. E olhe, não adianta dizer que somos alegres e
sorrimos nas dificuldades. Nesta hora não dá. Humanos! Deveríamos ser
super-homens ou super-mulheres. Afinal não dizem maravilhas do Chefe Escoteiro?
E sabe o pior? Alguém da família diz – “Você esqueceu-se da gente, só se
preocupa com estes escoteiros”. Duro não? Mas a obrigação é maior que a razão.
Você vai, chega lá, um Escoteiro ou um lobinho te cumprimenta, dá um sorriso.
Puxa vida! E agora José?
¶ Aquele papo furado todo fim de noite
Num bar do Leblon ¶.
Não sei
se você já passou por isto. Saida para uma atividade. Ônibus estacionado.
Horário estourando. Muitos atrasados. Tralha para colocar no ônibus, mil coisas
a fazer. Uma mãe atrás de você – Chefe! Cuidado com meu filho! Chefe e as
cobras? Chefe não esqueça os remédios dele! Chefe me ligue qualquer coisa! – O
ônibus parte. Mães chorosas dizendo adeus. Parece o fim do mundo. Mas eles não
vão aprender a ser alguém? Mal você se acomoda no ônibus e alguém começa a
chorar. Tão cedo? O que foi? Fulano me bateu! Você chega ao local da atividade.
Tirar a tralha, preparar tudo, corre daqui corre dali, a Patrulha tal não se
entende. Lá vai você orientar. Hora do almoço. Alguns reclamando fome. Um
Monitor correndo para dizer que um Escoteiro estava com a mochila cheia de
biscoitos e comendo! Sua cabeça está a mil. O programa? Pluft! Foi para as
“cucuias”. E agora José?
¶ Meu Deus do céu, que tempo bom!
Tanto chopp
gelado, confissões à bessa ¶.
Dificuldades!
Ah! Elas não são para nós escoteiros um bálsamo? Não dizem isto? Não está no
oitavo artigo da lei? Não são elas quem nos faz sentir ser alguém? Ter coisas
para contar, Lembrar... Chegar ao campo. Ufa! Esquecemos alguma coisa na sede?
Alguém se lembrou? A meteorologia garantiu tempo bom. Céu pedrento? Chuva ou
vento? Nuvens baixas cor de cobre? É temporal que se descobre? Um temporal. Uma
ou mais barracas são levadas com o vento. Não armaram direito. A água invade o
campo. Escolheram mal. Mas não dizem que se aprende a fazer fazendo? Agora não
é hora de reclamar. E aí? Conseguiram cobrir o lenheiro? Putz! Lenha molhada. A
chuva passou. Se tiver vento e depois água deixe andar que não faz mágoa. Mas olhe,
cuidado, se tens água e depois vento, põe-te em guarda, e toma tento! E agora
José?
¶ Meu Deus, quem diria que isso ia se acabar,
E acabava em
samba...¶.
Segunda feira “braba”. Ir trabalhar. Corpo doido. Acampamento gostoso.
Gostoso? Com chuva e vento? Vontade de ficar na cama. Ligar dizendo que não
vou. Mas fazer o que? É melhor cantar. Não dizem que quem canta seus males
espanta? Responsabilidade! Ah! Tenho que ter e dar exemplo. E a grana está
curta. O dia não anda. Dizem que toda segunda feira é assim. Hoje vou tentar
pensar pouco no escotismo. Você promete a si mesmo. Alguém pergunta – Como foi
o acampamento? Você sorri azedo. Fala algumas palavras. O telefone toca –
Chefe, meu filho está tossindo. Pegou chuva no acampamento? E ai você se
pergunta – Quem precisa do escotismo, você ou ela? Mas você é e será sempre o
responsável. Afinal não disseram que o Chefe é Doutor? Pluft! E agora José?
¶ Que é a melhor maneira de se conversar,
Mas tudo mudou,
eu sinto tanta pena de não ser a mesma ¶.
Escotismo. Ah! Escotismo. Outro dia me chamaram de não sei o que. Não
liguei. Não ligo mais. Um amigo me disse o seguinte: Olha, faça seu jogo, com
poucos e com certeza, só terás alegria e não tristezas. Será? Poucos?
Disseram-me que somos poucos. Tem hora que dou risadas. Ainda lembro quando me
convidaram. Venha nos ajudar, é só duas ou três horas por semana. Gozado isto.
Duas ou três horas? E as reuniões com chefes no grupo? E a Corte de Honra? E os
conselhos de tropa e de primos? E a reunião do distrito? E a reunião com os
pais? E as horas passadas em atividades ao ar livre? E os telefonemas na
semana? E os e-mails? Puxa vida! Duas ou três horas? E quanto estou ganhando
com isto? Nem bônus hora recebo. Se não tomar cuidado meu emprego vai para o
“beleleu”. Risos. E agora José?
¶ Perdi a vontade de tomar meu chopp, de escrever meu
samba,
Me perdi de mim,
não achei nada ¶.
Mas quer saber? Eu gosto do “danado” do escotismo. Adoro! Me sinto bem.
Gosto do meu uniforme. Dos meus amigos. A turminha me enturma. Gosto de falar
dele. De estar com alguém dele. De saber das novidades. Do Choro dos pais. Da
alegria dos meninos. De um ônibus lotado e todos cantando o Rataplã. De ver na volta
todos dormindo. Ar de cansado, dever cumprido. Aquele sono reparador. Ver todos
partirem com seus pais ao retornar a sede. Passar a chave na porta e dizer: -
Minha amiga até a próxima reunião! Isto não é bom? Dever cumprido mesmo? Ah!
Escotismo! Tem igual? Existe outro? E agora José?
¶ O que vou fazer?
Mas eu queria
tanto, precisava mesmo abraçar você.
De dizer às
coisas que se acumularam,
Que estão se
perdendo sem explicação,
E sem mais razão
e sem mais porque,
Mudando de
conversa onde foi que ficou
Aquela velha
amizade¶...
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“Mudando de Conversa, é uma musica dos anos 60, de
Mauricio Tapajós e Hermínio Belo de Carvalho. Magnificamente interpretada por
Doris Monteiro”.
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