Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

domingo, 4 de novembro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Os tempos são outros.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Os tempos são outros.

Prefácio: - Domingo, levantei com o novo horário de verão. Velhos Escoteiros não tem hora para dormir ou acordar. Na minha varanda me pus a meditar... Será que o Escotismo de hoje caminha para o Sucesso como pensou Baden-Powell? Quem viver verá!

                   - Chefe! Disse-me uma Chefe de Lobinhos. Os tempos são outros. Tudo nesse mundo tem que evoluir! É mesmo? Os meus ficaram no tempo que não volta mais. Mesmo sendo ainda teimoso determinado vou aos poucos moldando meu estilo e aceitando o que nunca aceitaria quando jovem escoteiro. Ops! Com ressalvas, por favor! Aceitando as mudanças sem concordar com elas. São tempos novos Chefe! Repete ela. A época do Brucutu já passou! Deixe as diligencias nos museus onde o escotismo do passado foi enterrado! Errado seria eu não aceitar.

                     Mas é tão difícil assim? Não seria eu um velho soldado escoteiro rabugento, cheio de manias querendo que tudo fosse como eu conheci e aprendi? Ah o lenço! O lenço era e foi para nós um símbolo do maior respeito. Promessa feita, o Chefe do Grupo (hoje mudaram para Diretor Técnico e dizem já mudaram de novo para não sei o que) orgulhosamente o colocava e dizia: Escoteiro, com este lenço você agora representa o Grupo Escoteiro em todo lugar aonde for. Honre seu lenço. Você só o recebia quando da promessa e só o colocava bem uniformizado. Lenço sem uniforme? Nem pensar. Hoje? Fizeram dela a sombra do meu passado. Usam-no de qualquer jeito. Arre! Tremo só de ver e pensar!

                    Promessa? Coração batendo, esperando chegar o grande dia. Um dia só meu, minha promessa o Chefe dizia: - Escoteiro será para sempre! Está preparado? Vibrar em frente à bandeira do Brasil, com o Monitor me apoiando com a mão no ombro e o Chefe me encarando: - Conheces a lei? Estás disposto a cumpri-la? E a gente com voz tremida dizia a lei de cor e salteado. E quando chegava a hora, tremendo de emoção fazendo à saudação a gente dizia sem repetir: - Prometo pela minha honra! Fazer o melhor possível, para... Não a gente prometia. E o Chefe completava: Escoteiro a promessa é para toda vida!

                    Hoje? Muitos renovando a promessa. Por quê? Renovar? Um simbolismo de dizer sempre alerta que ainda somos escoteiros? Mas eu o velho Chefe me calo. Se acham certo renovar bato palmas, mas eu, eu não. A minha foi para sempre!

                   Uniforme? Orgulho demais. Chapéu de abas retas, calça curta sim senhor, calça comprida nem pensar. Camisa bem passada e dentro da calça (Arre! Arrepio-me quando vejo o que acontece hoje). Uniforme é para usar e não ficar guardado. Em todas as horas, nas serras distantes, nas trilhas nas planícies, nas reuniões a gente sempre com ele. Se precisasse sabíamos lavar, passar ao sol. Camisetas? Alguns com elas por baixo e mais nada. O lenço de bolso o pente (obrigatório) unhas aparadas, sapatos engraxados, meiões nos padrões.

                 Não havia invenções. O lenço, o cinto, o sapato, o chapéu era colocado de olho no espelho. Hoje? Inventaram tanto para delicia dos novos dirigentes, os inventores, os novos Baden-Powell. Dizem que agora estão na moda mundial de alguns países que dizem ser do primeiro mundo. Tenho que respeitar, mas só fico pensando... E a camisa fora da calça? Coisa de primeiro mundo? Aceitar?

                  Respeito, quanto respeito. Até para o Monitor dizíamos sim senhor! Apresentar com estilo, nome, graduação era para nós uma honra. – “Terceiro escoteiro escriba da Patrulha Lobo se apresentando Chefe”! E lá vai a saudação, o aperto de mão sem esquecer um abraço e um sempre alerta dito gostosamente como a dizer: Eu estou bem preparado e tu? Hoje? Formações sem muita postura, Monitor dormitando escorado no bastão. Correto? Deve ser... Tudo agora é moderno.

                  Correção e guarda do material era questão de honra. Fui há tempos visitar um acampamento e vi coisas do arco da velha. No final da atividade no meio da ferradura havia diversos garfos, colheres, pratos, copos e até algumas peças de roupas para ver se tinham dono. Será que caíram do céu? Ora eles não foram parar ali por magia. Não houve inspeção? Que tipo de acampamento foi esse? Uniforme? Alguns sujos, mal cuidados, e o Chefe: - Ora meu caro Chefe Osvaldo, eles estão voltando de um acampamento, devemos considerar... Vá dizer isso para o meu Chefe Jessé ou João Soldado meu amigo.

                   Melhor parar por aqui. Não dá para engolir esses novos tempos. Novos? Se isto for garbo e boa apresentação eu tiro meu chapéu para o Escoteirinho de Brejo Seco. Humilde, com um sorriso nos lábios, uniforme bem postado velho sim senhor, mas limpo bem passado e bem postado. Afinal ele tinha um Chefe que o ensinou a ter garbo e boa ordem. Um dia me disseram para ficar calado, isto é o que os manda chuvas de hoje querem. E o que eles dizem e fazem é o exemplo para todo mundo. Eles? Aprenderam em que escola? Na minha não foi e garanto que na de Gilwell também não.

                   Não estou na ativa, mal consigo caminhar alguns passos, mas sou da velha guarda e não me calo, não mais fico “abestado” a aceitar com ressalvas. Na minha consciência meu velho e gostoso escotismo não vai mudar. Lenço? Promessa? Lei? Respeito? Uniforme? Para mim é como se fosse no passado, é ponto de honra. Mas você meu caro amigo tem todo direito de colocar o chapéu que quiser usar o lenço conforme acredita ser correto e escorar no pobre do bastão quando quiser. Não é o meu caso. Ah! Velhos e gostosos tempos de uniforme bem postado bandeiras ao vento para o acampamento nas terras do meu Brasil!


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